na XIV Bienal de artes plásticas
Um espaço de arte e transformação
Tendo como ponto de partida o poema de Brecht, «Tempo mau para lirismos», realiza-se este ano a 14.ª edição da bienal de artes plásticas da Festa do Avante!. As obras devem ser entregues até 30 de Junho.
Este é ano de Bienal de Artes Plásticas na Festa do Avante! . Mais uma vez, a criação artística ocupará um importante lugar na Quinta da Atalaia, nos dias 2, 3 e 4 de Setembro. Pela 14.ª vez, artistas de várias artes, conhecidos ou anónimos, irão apresentar as suas obras, dando a sua interpretação de um determinado tema. O resultado será, certamente, a julgar por edições anteriores e pela profundidade do tema, uma bela mostra do que melhor tem a arte feita no País.
Para a edição deste ano, e pela primeira vez, é proposto um tema. O poema do alemão Bertolt Brecht, «Mau tempo para lirismos». Neste belo manifesto, o poeta e dramaturgo germânico expõe a sua luta interior entre o desejo de felicidade e beleza e a urgência da luta política contra o horror. Escrito em tempos de fascismo e de guerra, o poeta exalta os supremos sonhos de felicidade do ser humano, revelando-se, porém, pronto a lutar contra os males do mundo capitalista. Felipe Diniz, da organização da Bienal, lembra que o poema foi escrito em pleno período de ascensão do nazismo na Alemanha (o pintor de tabuletas referido é, nada mais nada menos do que Adolf Hitler), tempos esses que não foram fáceis. Mas, lembra, não há pessimismo nas palavras do poeta alemão. Como não houve na sua vida.
A intenção de propor um tema não é, destaca Felipe Diniz, limitar a criatividade dos artistas participantes. É, por outro lado, estimular os criadores a estarem mais imbuídos do espírito de transformação social que preside à Festa do Avante! e ao partido que a organiza, o Partido Comunista Português. E é também uma forma de recordar os 60 sobre a derrota do nazi-fascismo, que se assinalam este ano.
Mas, assegura Felipe Diniz, as obras não serão escolhidas de acordo com critérios políticos. Assim, mais do que um tema, o poema de Bertolt Brecht é um desafio aos artistas que pretendam participar na XIV edição da Bienal. Felipe Diniz afirma se os artistas responderem ao desafio será interessante observar como cada um deles, na sua própria especialidade e com a sua criatividade, intepretam as palavras e o sentido do poema do poeta e dramaturgo alemão. Reafirmando o valor artístico intríseco deste evento, Felipe Diniz realça que este pode ter um papel de «testemunho político», em tempos que considera não serem também fáceis para os revolucionários e progressistas.
O artista revolucionário
Bertolt Brecht é uma das mais importantes figuras da cultura do século XX. Poeta, escritor, dramaturgo e encenador, o alemão nascido em 1898 está e estará sempre ligado ao combate contra o fascismo e à luta pelos ideais da justiça e do socialismo. Por esta razão, Bertolt Brecht foi obrigado a fugir precipitadamente do país, após a subida ao poder dos nazis, em 1933.
Passando por vários países, acabou por fixar-se nos Estados Unidos. Neste país prosseguiu a sua obra e as suas posições políticas progressistas fizeram-no de novo alvo de perseguições, tendo sido chamado por diversas vezes ao Comité de Actividades Anti-Americanas.
Regressado à Europa, fixa-se em Berlim em 1949, onde permanece até à sua morte, em 1956. Em Berlim, assiste à divisão das alemanhas e à criação da República Democrática Alemã, de uma lado, e à República Federal da Alemanha, que materializa, por responsabilidade das forças imperialistas,
a separação do Reich hitleriano. Coerente com as suas ideias e com a sua vida, o poeta e dramaturgo opta inequivocamente pela nacionalidade da nova república socialista, a RDA.
Na sua obra, satiriza a burguesia, como é o caso da peça O Casamento dos pequenos burgueses ou da Ópera dos Três Vinténs, de 1928, produzidos em parceria com o compositor Kurt Weil; defende e evoca a revolução proletária (casos, por exemplo, de A Mãe, de 1932, inspirado na obra homónima de Gorki, e de Os dias da Comuna); entra pelo drama histórico, como no caso de Mãe Coragem e seus dois filhos.
Num escrito de 1934, intitulado «As cinco dificuldades para escrever a verdade», Bertolt Brecht revela a sua faceta combativa e define as dificuldades que um escritor tem que vencer para escrever a verdade, como é o seu dever. «Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.»
Como participar
O regulamento da XIV Bienal de Artes Plásticas determina que o concurso é aberto a todas as obras e disciplinas artísticas «consideradas hoje património do desenvolvimento das artes plásticas». Ou seja, serão admitidas obras bidimensionais ou tridimensionais, bem como as pertencentes ao campo das artes multimédia ou performativas.
O prazo limite para a entrega dos trabalhos é 30 de Junho, em diversos Centros de Trabalho do Partido: Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra, Évora e Faro. O regulamento prevê também que as obras entregues poderão, durante o período de selecção, que decorre entre 1 e 15 de Julho, ser expostas pelas organizações do PCP responsáveis pela recolha das mesmas. Após a selecção das obras, cada artista e seleccionado terá direito a uma Entrada Permanente na Festa do Avante!, bem como a um catálogo da Bienal, levantado durante os dias da Festa.
Os participantes deverão indicar se as obras estão disponíveis para venda e o respectivo preço. Em caso de venda, 30 por cento do valor reverte a favor da organização da Bienal. Os artistas seleccionados deverão autorizar a utilização do seu nome e a reprodução das suas obras no catálogo, bem como a utilização do seu nome. O regulamento encontra-se na íntegra na página do PCP na internet. O endereço é www.pcp.pt/actpol/temas/f-avante/festa2005/regulamento-bienal.pdf
Para a edição deste ano, e pela primeira vez, é proposto um tema. O poema do alemão Bertolt Brecht, «Mau tempo para lirismos». Neste belo manifesto, o poeta e dramaturgo germânico expõe a sua luta interior entre o desejo de felicidade e beleza e a urgência da luta política contra o horror. Escrito em tempos de fascismo e de guerra, o poeta exalta os supremos sonhos de felicidade do ser humano, revelando-se, porém, pronto a lutar contra os males do mundo capitalista. Felipe Diniz, da organização da Bienal, lembra que o poema foi escrito em pleno período de ascensão do nazismo na Alemanha (o pintor de tabuletas referido é, nada mais nada menos do que Adolf Hitler), tempos esses que não foram fáceis. Mas, lembra, não há pessimismo nas palavras do poeta alemão. Como não houve na sua vida.
A intenção de propor um tema não é, destaca Felipe Diniz, limitar a criatividade dos artistas participantes. É, por outro lado, estimular os criadores a estarem mais imbuídos do espírito de transformação social que preside à Festa do Avante! e ao partido que a organiza, o Partido Comunista Português. E é também uma forma de recordar os 60 sobre a derrota do nazi-fascismo, que se assinalam este ano.
Mas, assegura Felipe Diniz, as obras não serão escolhidas de acordo com critérios políticos. Assim, mais do que um tema, o poema de Bertolt Brecht é um desafio aos artistas que pretendam participar na XIV edição da Bienal. Felipe Diniz afirma se os artistas responderem ao desafio será interessante observar como cada um deles, na sua própria especialidade e com a sua criatividade, intepretam as palavras e o sentido do poema do poeta e dramaturgo alemão. Reafirmando o valor artístico intríseco deste evento, Felipe Diniz realça que este pode ter um papel de «testemunho político», em tempos que considera não serem também fáceis para os revolucionários e progressistas.
Tempo mau para lirismos
Eu bem sei: só o feliz
é que agrada. Gosta-se de ouvir
a sua voz. A sua face é bela.
A árvore aleijada no pátio
mostra que o terreno é mau, mas
os que passam chamam-lhe aleijada
com razão.
Os barcos verdes e as velas alegres do Sund
não as vejo. De tudo
só vejo a rede rasgada dos pescadores
porque é que eu só falo da lavradeira
de quarenta anos, que anda torcida?
Os peitos das moças
São quentes como dantes.
Na minha mão uma rima
Parecer-me-ia insolência.
Dentro de mim lutam
o entusiasmo pela macieira em flor
e o horror dos discursos do pintor de tabuletas
mas só o segundo
me força a sentar-me à mesa.
Bertolt Brecht
O artista revolucionário
Bertolt Brecht é uma das mais importantes figuras da cultura do século XX. Poeta, escritor, dramaturgo e encenador, o alemão nascido em 1898 está e estará sempre ligado ao combate contra o fascismo e à luta pelos ideais da justiça e do socialismo. Por esta razão, Bertolt Brecht foi obrigado a fugir precipitadamente do país, após a subida ao poder dos nazis, em 1933.
Passando por vários países, acabou por fixar-se nos Estados Unidos. Neste país prosseguiu a sua obra e as suas posições políticas progressistas fizeram-no de novo alvo de perseguições, tendo sido chamado por diversas vezes ao Comité de Actividades Anti-Americanas.
Regressado à Europa, fixa-se em Berlim em 1949, onde permanece até à sua morte, em 1956. Em Berlim, assiste à divisão das alemanhas e à criação da República Democrática Alemã, de uma lado, e à República Federal da Alemanha, que materializa, por responsabilidade das forças imperialistas,
a separação do Reich hitleriano. Coerente com as suas ideias e com a sua vida, o poeta e dramaturgo opta inequivocamente pela nacionalidade da nova república socialista, a RDA.
Na sua obra, satiriza a burguesia, como é o caso da peça O Casamento dos pequenos burgueses ou da Ópera dos Três Vinténs, de 1928, produzidos em parceria com o compositor Kurt Weil; defende e evoca a revolução proletária (casos, por exemplo, de A Mãe, de 1932, inspirado na obra homónima de Gorki, e de Os dias da Comuna); entra pelo drama histórico, como no caso de Mãe Coragem e seus dois filhos.
Num escrito de 1934, intitulado «As cinco dificuldades para escrever a verdade», Bertolt Brecht revela a sua faceta combativa e define as dificuldades que um escritor tem que vencer para escrever a verdade, como é o seu dever. «Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.»
Como participar
O regulamento da XIV Bienal de Artes Plásticas determina que o concurso é aberto a todas as obras e disciplinas artísticas «consideradas hoje património do desenvolvimento das artes plásticas». Ou seja, serão admitidas obras bidimensionais ou tridimensionais, bem como as pertencentes ao campo das artes multimédia ou performativas.
O prazo limite para a entrega dos trabalhos é 30 de Junho, em diversos Centros de Trabalho do Partido: Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra, Évora e Faro. O regulamento prevê também que as obras entregues poderão, durante o período de selecção, que decorre entre 1 e 15 de Julho, ser expostas pelas organizações do PCP responsáveis pela recolha das mesmas. Após a selecção das obras, cada artista e seleccionado terá direito a uma Entrada Permanente na Festa do Avante!, bem como a um catálogo da Bienal, levantado durante os dias da Festa.
Os participantes deverão indicar se as obras estão disponíveis para venda e o respectivo preço. Em caso de venda, 30 por cento do valor reverte a favor da organização da Bienal. Os artistas seleccionados deverão autorizar a utilização do seu nome e a reprodução das suas obras no catálogo, bem como a utilização do seu nome. O regulamento encontra-se na íntegra na página do PCP na internet. O endereço é www.pcp.pt/actpol/temas/f-avante/festa2005/regulamento-bienal.pdf