- Nº 1640 (2005/05/5)
França dividida

A guerra das sondagens

Europa
Mais de duas dezenas de sondagens efectuadas desde meados de Março colocaram consecutivamente o «não» em vantagem nas intenções de voto. Porém, esta tendência inverteu-se desde o passado sábado com a divulgação do primeiro inquérito que volta dar a vitória ao «sim».

O regresso do «sim» ao topo das intenções de voto é, no entanto, interpretado com prudência mesmo os seus apoiantes mais fervorosos. Apesar da intensificação da campanha pelo «sim», com o envolvimento directo dos mais altos responsáveis do Estado que estenderam a mão à ajuda de governantes estrangeiros, o facto é que as últimas sondagens, analisadas no seu conjunto, apontam para existência de um empate técnico entre ambos os campos.
A «reviravolta» anunciada no sábado, dia 29, pela estudo da PNS-Sofres-Unilog para a RTL, dando 52 por cento ao «sim», uma espectacular subida de sete por cento, acabou por ser contrariada por duas das quatro sondagens publicadas na passada segunda-feira.
O inquérito Louis Harris para Yahoo, Liberation e i-Télé, regista uma descida de dois pontos do «não», mas mantém-o como maioritário, com 51 por cento contra 49 por cento do «sim».
No mesmo sentido, a sondagem BVA para o L’Express regista uma perda de seis pontos para os adversários do projecto constitucional, mas estes continua a dominar com 52 por cento contra 48 por cento do «sim».
Por seu turno, o inquérito da Ipsos para Le Figaro e Europe 1coloca os apoiantes da «constituição» na liderança com 53 por cento, contra 47 do «não». Confirmando a recuperação do «sim», o estudo da CSA para a France Info, France 3 e Le Parisien é todavia mais modesto, reduzindo a vantagem para 51 por cento, face a 49 por cento do «não».

Mal-estar social

Outro dado importante, apurado pela sondagem publicada no jornal Liberation, refere-se ao descontentamento gerado pelas as políticas sociais do governo de centro-direita. A supressão do feriado de segunda-feira de Pentecostes é repudiada por 76 por cento dos franceses, enquanto apenas 15 por cento considera que as medidas tomadas para combater o desemprego vão «no bom sentido».
A impopularidade do executivo francês permanece elevada. Jacques Chirac recolhe apenas 42 por cento de opiniões positivas, enquanto o primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, com 27 por cento, passa o seu pior momento desde que assumiu funções.
Por isso, alguns analistas, recordando-se do efeito contraproducente da aparição de Chirac na televisão, não afastam um vitória do «não», relacionando a subida do «sim» com a entrada em cena do antigo primeiro-ministro Leonel Jospin, cuja intervenção televisiva terá contribuído para uma mudança no eleitorado socialista, onde a o peso dos apoiantes da «constituição» passou de 46 para 52 por cento.