
- Nº 1639 (2005/04/28)
Têxteis europeus
Danos irreparáveis
Europa
O governo francês solicitou formalmente à Comissão Europeia a «aplicação do procedimento de urgência, com vista ao accionamento das cláusulas de salvaguarda, para nove categorias de produtos têxteis».
Com esta iniciativa, que poderá ser reforçada como pedidos idênticos por parte de 11 outros estados-membros produtores de têxteis, a França pretende que a Comissão Europeia reduza o prazo de inquérito em 60 dias e alargue o seu âmbito a um número superior de produtos.
No domingo, dia 24, o comissário europeu, Peter Mandelson, anunciou finalmente a decisão de abrir uma série de investigações sobre o aumento das importações de têxteis, apelando à China para que restrinja as exportações de têxteis a baixo preço, a fim de evitar possíveis medidas de salvaguarda da parte da União Europeia (UE). Mandelson reconheceu o salto das importações de têxteis chineses na UE desde o fim do sistema de quotas em Janeiro: «Em várias categorias de produtos têxteis e de vestuário, as importações suscitam uma grave preocupação». «Certos aumentos são bastante espectaculares», declarou Mandelson.
Segundo os números compilados pela Comissão Europeia, na base de estatísticas fornecidas pelos Estados membros, nos três primeiros meses de 2005, as importações de camisolas chinesas subiram 534 por cento, verificando-se uma redução do preço unitário de 47 por cento, face a iguais meses de 2004. Para outras peças de vestuário, a subida variou entre 63 por cento para os soutiens e 413 por cento para as calças para homem.
Não satisfeitos com a simples abertura de inquéritos, devido à lentidão do processo, os estados-membros mais afectados solicitaram, no domingo, que Bruxelas acelere o procedimento evitando que as suas indústrias sofram danos maiores. A comissão exigiu então o pedido formal de um estado-membro. A França respondeu de imediato.
«Panos quentes»
Embora forçado a ceder às pressões dos estados-membros, sobretudo num momento em que se alarga o campo do «não» à constituição, Peter Mandelson deixou claro que não tenciona pôr em causa as relações com a China. «Se alguns na Europa procuram uma guerra comercial com a China bateram à porta errada». E não hesitou em acusar os estados-membros de terem agido «pouco e demasiado tarde».
Aliás, esta é também a opinião do ex-presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors. Em entrevista à RTL, na passada terça-feira, Delors considerou, que o governo francês e a comissão europeia poderiam ter «agido mais rapidamente», precisando que o accionamento das cláusulas de salvaguarda poderia ter sido desencadeado há mais de um mês, o que permitiria antecipar em dois ou três meses o início das restrições.
Por outro lado, Delors lembrou que «os países emergentes e os países em desenvolvimento aceitaram abrir os seus mercados no dia seguinte ao acordo, o que nos permitiu vender Airbus, comboios, expandir a distribuição, a banca, as telecomunicações», enquanto a Europa beneficiou de um prazo de dez anos para se preparar para o levantamento das restrições.
E são seguramente esses negócios da China que a Comissão Europeia não quer prejudicar com este diferendo comercial.