
- Nº 1630 (2005/02/24)
Negroponte dirige «secreta» norte-americana
Licença para matar
Internacional
O ex-embaixador norte-americano no Iraque e diplomata dos EUA nas Nações Unidas, John Negroponte, foi nomeado, quinta-feira da semana passada, pelo presidente George W. Bush, Director Nacional de Inteligência (DNI).
O cargo, criado após o 11 de Setembro, permite o controle total das 15 agências de espionagem e informação dos EUA, dos respectivos orçamentos e competências, estando Negroponte obrigado a prestar contas a uma única pessoa, o próprio presidente.
Apresentado pela administração como um diplomata de carreira, a nomeação de Negroponte não deverá ser rejeitada nem pelo Congresso, nem pelo Senado, nem pelas comissões onde Republicanos e Democratas parecem já ter acertado o perfil ideal para o exercício das funções de DNI.
Não obstante, as críticas sobem de tom entre a opinião pública e o passado recente e menos recente de Negroponte confirmam as preocupações relativamente a um ex-embaixador que gozou sempre de «licença para matar».
Para além do papel desempenhado na invasão do Iraque e, posteriormente, nos conhecidos abusos e torturas de Abu Ghraib, Negroponte apresenta um longo currículo de serviços sujos na América Central.
O New York Times lembrou, sexta-feira da semana passada, que durante a década de 80, nas Honduras, o então diplomata dos EUA foi acusado de encobrir crimes praticados pelo governo e pelas forças armadas contra a população hondurenha.
O californiano La Opinion adianta mesmo que Negroponte foi o motor do financiamento ilegal de operações e grupos paramilitares nicaraguenses, treinados nas Honduras por agentes da CIA sob a supervisão directa do representante diplomático dos EUA
A estratégia do então presidente Ronald Reagan para reprimir a revolução sandinista foi executada pelo agora Director Nacional de Inteleligência, mesmo depois do Congresso norte-americano proibir qualquer envolvimento norte-americano no processo político daquele país.
Mesmo o grupo de familiares das vítimas do 11 de Setembro – que nos últimos dois anos reclama a indigitação de um responsável máximo pelos serviços secretos dos EUA e o correspondente endurecimento da política de espionagem e segurança interna da administração Bush – manifestou reservas relativamente à competência de Negroponte, sobretudo tendo em conta os escândalos revelados no tratamento de prisioneiros e civis no Iraque ocupado.