Discussão e intervenção

Muito faltava para o início da Conferência Nacional e já o pavilhão se encontrava alegremente composto de camaradas e amigos, vindos de todos os pontos do País.
Os sotaques de Norte a Sul do País, incluindo a Madeira e os Açores, denunciavam a origem dos delegados e convidados que participaram nesta grandiosa iniciativa, intitulada «O PCP e o Poder Local». Nos intervalos, o ponto de encontro era quase sempre no bar, onde se podia saciar a fome e a sede, que o intenso calor que se fazia sentir avivava. Rapidamente, o local era transformado numa espécie de «quarta secção» da Conferência, com os debates e conversas a extravasar as portas do pavilhão.
As conversas não se limitavam apenas ao tema da Conferência Nacional. Os mais recentes casos de corrupção vindos a público, nomeadamente na Universidade Moderna e na Câmara Municipal de Felgueiras, e a política demagógica e antisocial do Governo PSD/CDS-PP – particularmente o novo código de trabalho e a privatização do ensino e da saúde – foram alguns dos assuntos mais frisados pelos participantes.
Os acontecimentos internacionais também não foram esquecidos. A guerra no Iraque, preocupação que perdura sobre aqueles que lutam e continuam a lutar pela paz, e a possível invasão de outros países por parte dos Estados Unidos da América, acompanhados pelos seus mais fiéis lacaios, foi outro dos temas abordados nas conversas de café.
Também – e sobretudo – lá dentro o debate era travado com intensidade. Durante todo o dia de sábado, os comunistas trocaram ideias, opiniões e pontos de vista acerca dos temas em debate. E fizeram-no com a confiança de quem possui um património de intervenção local imenso, bem como de quem participou em várias centenas de reuniões preparatórias da Conferência. E desengane-se quem pensar que era um encontro de autarcas. Nada mais falso. Dirigentes partidários e sindicais, sindicalistas, militantes de base e membros da JCP dividiam com os eleitos autárquicos a participação na discussão.
Em destaque, durante os dois dias de Conferência Nacional, esteve a JCP. Os jovens comunistas, para além de participarem nos debates das três secções, asseguravam, à entrada, uma banca em que se podia adquirir livros – recentes ou nem tanto –, posters, camisolas e alguns materiais feitos pelos próprios.

Conhecer todas as realidades

A última sessão de trabalhos decorreu em plenário e com as bancadas repletas de militantes e simpatizantes do Partido e de outros convidados, de entre os quais se destacavam as delegações do PEV e da Intervenção Democrática, companheiros na CDU. Após as intervenções da Comissão de Verificação de Mandatos e de apuramento dos trabalhos das secções – que tratamos noutro local destas páginas –, vários oradores esmiuçaram com pormenor algumas importantes temáticas.
Hélder Madeira falou da necessidade de afirmação, defesa e valorização do poder local. Sobretudo num momento em que a política de direita do Governo piora a já grave situação das autarquias, no país da União Europeia onde menos recursos do Estado são afectos às estruturas do poder local. Seguiu-se António Salavessa, que dedicou a sua intervenção à luta pela transparência e controlo democrático do Poder Local. Dando o exemplo de Aveiro, onde desenvolve actividade, António Salavessa afirmou que a diferença dos eleitos comunistas é notória também em minoria.
Coube a Armindo Miranda, da Comissão Política, intervir sobre a participação e o movimento popular. Desmascarando a política do capitalismo, o dirigente comunista realçou a importância da mobilização própria das populações para a resolução dos seus problemas e o papel do Partido no impulsionar dessa mobilização. Augusto Flor, falando sobre associativismo popular, destacou a importância das colectividades de cultura e recreio no contexto local e lembrou que existem em Portugal 234 mil dirigentes associativos e mais de 3 milhões de associados em cerca de 18 mil colectividades. Em seguida, relembrou a importância de as organizações do Partido e as autarquias dedicarem muita atenção a esta realidade.
Jerónimo de Sousa, da Comissão Política, debruçou-se na questão dos trabalhadores das autarquias e a ofensiva antilaboral. O dirigente comunista considera que a gestão dos eleitos comunistas deverá fazer a diferença também no que concerne ao papel e direitos dos trabalhadores. José Pós-de-Mina falou de descentralização e desenvolvimento regional. As graves assimetrias regionais e as enormes carências que se fazem sentir em várias regiões do País foram temas mencionados.
Depois de Jorge Cordeiro anunciar as alterações propostas ao projecto de resolução política este foi posto à votação e aprovado por unanimidade.
Após o discurso do secretário-geral do PCP e os hinos, momento de grande emoção e beleza, sempre presente nas iniciativas partidárias, não foi preciso relembrar aos camaradas, no encerramento da Conferência Nacional, para ajudarem à desmontagem da sala. Minutos depois, todas as cadeiras, papéis e o mais variado e banal lixo, como a inevitável garrafa de água, desapareceram, como se de um acto de magia se tratasse.


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