Tribuna do Congresso<strong><font color=0094E0>*</font></strong>

Que se desenganem os enganados
• Carlos Quaresma
Sines


O PCP somos todos nós, temos deveres e obrigações. Ou seja, para sermos um Partido mais forte, tanto nacional como internacional, tem que ser com a contribuição de todos os seus militantes. Não somos um partido capitalista, mas sim um partido virado para os explorados da classe operária. É nosso dever servirmos o Partido e não nos servirmos do Partido. Ao ler as Teses verifiquei que há um défice de 23,71 por cento dos nossos eleitos. Com este défice, poderíamos chegar mais longe.
Como comunista, mais quatro anos se passaram, e o nosso Partido mais uma vez resistiu aos ataques de dentro para fora, bem como o inverso. Mais uma vez, os desenganados ficaram enganados, o Partido, como alguém queria, não cedeu, não perdeu a sua identidade marxista-leninista. A tal «espinha encravada» na garganta de alguns pseudo-comunistas, a «tal» renovação não se deu.
Para terminar, só os enganados! Na minha opinião, só farão alterações às propostas das Teses e Estatutos para se exibirem e aparecerem como bons comunistas. As propostas estão de tal ordem bem elaboradas que dispensa comentários. Queria saudar todo o Comité Central pela forma séria e honesta como as apresentaram. Os enganados só o são por não lerem, talvez! Os Estatutos ou a má fé na interpretação dos mesmos, só assim os classifico como enganados.

É necessário afirmar o Partido!
• Vítor Lima Martins
Madeira


Quantas vezes é que, perante a necessidade de se desenvolver um processo reivindicativo num bairro, local, aldeia e, por vezes, até mesmo numa freguesia, o Partido decide avançar com a criação de uma comissão unitária para proceder ao acto reivindicativo? E depois, se verificarmos a composição de tal comissão ad-hoc, na sua maioria são membros do Partido; por vezes, nem fazemos ideia disso, mas depois, durante as reuniões, afinal, aquele amigo que pensávamos ser independente é nosso camarada e está organizado no sector tal, e o outro já foi candidato da CDU nas Autárquicas, e por aí adiante…
Então porque razão é que não é o Partido a avançar, senão mesmo a CDU? É porque se o fizer, está a ter uma atitude sectária? Estará, porventura, a ir contra a Resolução Política do Congresso? Claro que não! Numa conjuntura em que os principais órgãos da Comunicação Social calam a nossa iniciativa, é necessário, digo mesmo imperativo, afirmar o Partido e a CDU no seu conjunto junto das populações e dos trabalhadores, e não aparecer com a chancela partidária apenas na proximidade dos actos eleitorais; isto sim, é visto pelas populações como uma atitude de caça ao voto, algo que todos os partidos fazem…
Então se somos o Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, porque é que, a nível local, só aparecemos junto deles nos períodos eleitorais? Assim sendo, aos olhos do cidadão comum, o que é que nos diferencia dos outros? Nada.
As eleições são uma das muitas formas de intervenção do Partido na sociedade portuguesa. Não podemos actuar numa perspectiva eleitoralista, mas sim privilegiando a intervenção do Partido numa perspectiva de que é necessário dar a conhecer aos trabalhadores e às populações a nossa actividade, fazê-los sentir que o nosso Partido está vivo e interveniente no dia a dia; porque lá no bairro ou na aldeia, deu corpo a uma reivindicação sentida pelos residentes locais. Isto é fundamental para contrariar a ideia veiculada na Comunicação Social, a nível nacional.
Quanto maior for o número de cidadãos, de norte a sul e nas ilhas, a verificar que o PCP e a CDU estão activos e a trabalhar em prol da resolução dos problemas dos portugueses, mais difícil será para a Comunicação Social e para os nossos adversários e inimigos políticos escamotear essa realidade.
Mas que não restem dúvidas que os comunistas devem continuar a participar activamente no movimento sindical unitário, bem como no movimento associativo nas suas mais diversas expressões. E muita atenção: se o Partido não aparecer no dia a dia, junto dos cidadãos, se não for uma força útil à sociedade nas suas diversas frentes de acção, então passa por ser um Partido igual aos outros… quando, afinal, não é.

Imberbes e incompetentes
• Joaquim Pires
Lisboa


O título deste artigo vem-me ao pensamento a propósito da grave situação política que o País e os trabalhadores atravessam por culpa das políticas conservadoras, neoliberais e belicistas que caracterizam a «des»governação do actual Governo de direita Paulo Portas/Santana Lopes, com raízes no Governo de Durão Barroso e também em certas opções políticas contrárias aos interesses dos trabalhadores, que têm sido e são assumidas pela direcção do Partido Socialista.
Imberbes são aqueles que não têm barba, aparte as mulheres que quis a Natureza fossem assim e muito bem. Aos imberbes, dizia meu pai, pessoa analfabeta porque o regime de má memória tal impôs, não se podia confiar tarefas de responsabilidade porque eles eram irresponsáveis.
Avaliando a sectária e desastrosa governação PSD/CDS-PP, que grassa em Portugal e os seus responsáveis, não podia o meu pai ter mais razão. Pode parecer estranho, mas não é, que também vai ligando ao próximo XVII Congresso do meu Partido e ao enorme trabalho que está a ser feito na sua preparação desde a base ao topo e toda uma profunda ligação e esclarecimento ao mundo do trabalho seja ele de que tipo e género for.
Digo que não é estranho, antes natural, porque a leitura das Teses que vão ser apresentadas ao Congresso revelam sem surpresas o rigor dos diagnósticos feitos aos problemas da sociedade e dos trabalhadores e com clareza identificam origens e responsáveis desses mesmos problemas, ou seja, os tais imberbes de cá e do mundo.
Seguramente, ficamos a saber que, entre outras coisas, a exploração dos trabalhadores, a apropriação desmesurada e indevida por parte de alguns poucos da riqueza gerada, o saque aos recursos do planeta e as discriminações e desigualdades, nomeadamente, são as causas pelas quais os tais imberbes farsolas que estão aos mais diversos níveis do Governo se batem com toda a retórica imoral e desumanidade que se lhes advém da classe a que pertencem, ou seja, a classe dos exploradores.
Ficamos também a saber que para esta situação há soluções e que até basta a luta determinada e unida dos trabalhadores explorados, oprimidos e discriminados para lhe pôr fim como não raras vezes tem acontecido no processo evolutivo da história da Humanidade.
Tal luta é apontada como necessária e um imperativo dos trabalhadores nos perturbados tempos que correm e ela obterá mais eficazes efeitos com a intervenção e participação de todo o Partido na defesa dos direitos humanos e na construção de uma sociedade mais justa onde vigorem as oportunidades de igualdade.
A visão do Partido sobre os problemas dos povos, da sociedade e do mundo em geral é uma visão bem realista e por muito que os seus detractores digam que nós, comunistas, temos sempre a mesma cassette, não conseguem com isso encobrir as suas incapacidades e falta de vontade para resolver os problemas com justiça. Ao contrário, eles próprios os vão agravando para através disso continuarem a manter os seus privilégios e mordomias.
Quero deixar expresso que concordo inteiramente com as Teses do nosso Congresso pelas razões aludidas revendo-me inteiramente nelas como trabalhador explorado, comunista e cidadão que não abdica dos seus direitos e tenho a certeza que do nosso congresso irão sair as melhores soluções para resolver os problemas sociais, económicos e de igualdade, como também para o seu fortalecimento.

O absurdo dos sonhos
• Mário Casal Ribeiro
Parede


Os sonhos são absurdos.
Que sejam.
Seja absurdo o sonho da igualdade humana.
Que seja.
Seja absurdo o sonho
De rever os cravos florir
Em espingardas alheias.
Que seja.
Seja absurdo o sonho
Que exige uma sociedade justa
Com a perspectiva do sonho.
Que seja.
Seja absurdo o sonho resistente
Do Partido Comunista português.
Que seja.
Absurdo é o sonho de meninos
Sonharem que têm fome
Porque o pesadelo é real.
E é.
Absurdo é este pesadelo
De ver meninos de barrigas inchadas
Apanhando os restos de grãos
Na poeira do deserto.
Absurdo é ver aves de rapina
Alimentando-se de cadáveres humanos
Feitos da fome de Tanatos.
Absurdo é ver de novo fascistas no poder.
Absurdo é o povo
Ser espoliado de direitos, e não resistir
Aos nasciturnos salazarentos,
Que afinal não voam no limbo da história.

O equilíbrio da sociedade
• Quintino Pardal
Abrantes


A história recente em Portugal demonstra que o equilíbrio da sociedade na sua vertente económica é a fundamental, apesar de existirem outras, mas evidentemente que dependem desta. Sendo assim, para que a sociedade na parte social e da própria natureza funcione correctamente é necessário o dito equilíbrio económico.
Ora, em Portugal, e antes do 25 de Abril, existia um sistema económico, o capitalismo, com um regime político, o fascismo, que durante décadas desequilibraram a sociedade portuguesa. A classe operária, os trabalhadores, os pequenos agricultores, comerciantes, industriais e outras camadas da população viviam explorados. Sem direitos económicos, sociais e políticos. Mas, em contrapartida, meia dúzia de grupos económicos da grande burguesia detinham toda a riqueza produzida no país, esta produzida por aqueles que eram explorados.
Com a Revolução do 25 de Abril e com a participação fundamental do Partido, alguns militares progressistas e uma parte do povo, tentou-se o equilíbrio da sociedade portuguesa, através da Reforma Agrária, das nacionalizações, dos direitos sociais e políticos, etc., com a finalidade de alterar o sistema económico e político noutro mais equilibrado, mais progressista. No fim de contas, a favor do povo e do país.
A grande burguesia, classe minoritária e parasitária, com este equilíbrio económico, social e político que estava a nascer em Portugal, começa a perder os grandes meios de produção e privilégios que possuía, estes, permanentemente e cientificamente ilegais, herdados do regime fascista. Mas, apoiada pelas direcções dos partidos da extrema-direita, da direita, da social-democracia, pequeno-burgueses e revisionistas de todos os matizes e tempos, herdeiros do sistema económico do fascismo, uns conscientes outros inconscientes, prepararam a contra-revolução que está em marcha em todas as direcções da sociedade portuguesa para destruir o equilíbrio que estava a surgir e ao mesmo tempo satisfazer e repor com juros altíssimos, os interesses económicos e políticos da grande burguesia.
Portanto, a destruição do tecido produtivo, económico, social e político do País, ou seja, da Revolução democrática e nacional com o 25 de Abril.
Para iniciar, novamente, o equilíbrio da sociedade, a grande maioria do povo português, que está a perder regalias económicas, sociais e políticas, o seu nível de vida constantemente a descer, tem urgência e necessidade histórica de ter consciência a que classe pertence: social, económica e política e, ao mesmo tempo, assimilar a concepção científica do mundo, para que, através do voto, altere o sistema económico e político, que começa novamente num grau superior a oprimir e a explorar o povo português.
As grandes empresas produtivas, financeiras, e outras todas estratégicas e fundamentais para o desenvolvimento, bem estar do povo e do país, têm de ser dirigidos por um verdadeiro Estado democrático, onde esteja o Partido Comunista Português com o seu projecto de equilíbrio e transformação da sociedade rumo ao socialismo. O voto terá que ser dirigido neste sentido, caso contrário é o agravamento das condições de vida das camadas pequenas e mecanicamente transformar-se-á no total desequilíbrio da grande maioria do povo e de toda a sociedade portuguesa.

* Como tínhamos anunciado na nossa edição de 2 de Setembro, a Tribuna do Congresso encerra neste número, coincidindo este facto com o final doo período de debate das Teses nas organizações do Partido.


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