O sonho que vem do Oeste
Foi nos «60 Minutos» à portuguesa, isto é, na retransmissão que do programa da CBS faz a SIC-Notícias, uma reportagem acerca dos jovens norte-americanos. Não, entenda-se, de todos eles. Não, designadamente, dos jovens muito maioritariamente de cor que integram o largo segmento de norte-americanos que vive nos limites da pobreza ou mesmo abaixo deles. Os jovens que a CBS auscultou colectivamente são, pelo menos, da classe média ou média/alta. Todos eles serão decerto excelentes pessoas e não são seguramente dos mais burros. Contudo, ouvi-los foi um susto ou, pior ainda, um mau augúrio para o futuro. Aparentemente por pouca coisa. Aqueles simpáticos jovens só disseram que querem ter sucesso, cada qual por si, já se vê. Que estão decididos a consumirem o mais possível de quanto lhes apetecer. Que preferem mil vezes o solitário diálogo com o seu PC ligado à Net que o convívio com o mundo largo e de verdade que existe fora das quatro paredes do seu quarto mas que de todo não lhes interessa. Que acreditam que os States são em tudo e por tudo o melhor que há no mundo; que quem sequer suspeitar do contrário é suspeito seja do que for. E assim por diante. Convém acrescentar que nem sempre estes peculiares artigos de fé foram expressos tal como aqui estão referidos, mas sim que claramente se percebiam das respostas dadas pelos tais jovens. E acrescenta-se, já agora, que não ficam aqui registados todos os indícios que justificaram o susto ou, se se quiser palavra menos alarmante, o pessimismo, na convicção de que estes bastam.
A questão, ou o âmago dela, é que estes jovens norte-americanos são o futuro praticamente imediato dos Estados Unidos, pois bem se sabe que o tempo passa a correr. Dizer-se em qualquer canto do mundo que os jovens são o futuro é um lugar comum dos mais batidos, mas nem sempre se acrescenta que, pelo menos em determinadas circunstâncias de lugar e de tempo, essa perspectiva pode corresponder a uma espécie de ameaça. Que os anos próximos façam surgir nos Estados Unidos, ao nível das tais classes média e média/alta, «mais ou menos», porventura com reforço de alguns equívocos e de muitas ignorâncias, é coisa de que o mundo não precisa nem um poucochinho. É verdade que, entretanto, circunstâncias decisivas podem alterar-se, pois bem se sabe que as coisas mudam ou, mais exactamente que tudo está em mudança constante muito mais do que parece. Mas viver é também recolher os sinais que nos rodeiam e fazer a sua leitura. Estes sinais que emergiram da reportagem CBS sobre os jovens norte-americanos pressionam-nos a desejarmos o advento de rápidas mudanças.
strong>Um dia, o despertar
Além do mais, acontece que, como é sabido, os Estados Unidos exportam para os quatro cantos do planeta os seus modelos de comportamento, as suas prioridades e os supostos valores, os seus mitos que muitas vezes podem designar-se adequadamente como as suas imposturas. Essa é, de resto, uma gigantesca operação da área ideológica (pois que essa estória da morte das ideologias é precisamente uma das tais imposturas) graças à qual fica facilitado o multidisciplinar domínio planetário de Washington/Wall Street. Por isso, a gente ouve como falam e como pensam os jovens que a CBS entrevistou e logo fica prevenida que é assim, mais coisa, menos coisa, que pensam e falam, ou depressa vão fazê-lo, os jovens deste pedacinho de terra empobrecida que é Portugal. Não é mistério nenhum: é obvio, evidente até apenas a um olhar que percorra as ruas portuguesas, a ouvidos minimamente atentos a um grupo de jovens a mandarem bocas à mesa de um café, que o inconfessado sonho que por aí vagueia nas cabecinhas de muitos jovens portugueses é sentirem-se parecidos com o modelo americano. Não se trata, de resto, de um desvario exclusivamente português, bem pelo contrário: percorre, pelo menos, uma boa parte desta Europa que se deixou impregnar pelo desejo tonto e não excessivamente bonito de deixar de ser europeia. Compreenda-se contudo que ao ver a reportagem da CBS foi pelo meu país e pelos seus jovens, quer dizer, pelo futuro português, que eu temi. Porque a promoção dos States, dos modismos e estilos que de lá vêm, também das brutezas de vários graus e índoles em que são especialistas, é uma constante nos media portugueses, com destaque mas não exclusividade para a TV. De tudo isso, pouca coisa é inocente e inócua. E o sonho americano de jovens portugueses tem tudo o que é bastante para desembocar num despertar de miséria terceiro mundista.
A questão, ou o âmago dela, é que estes jovens norte-americanos são o futuro praticamente imediato dos Estados Unidos, pois bem se sabe que o tempo passa a correr. Dizer-se em qualquer canto do mundo que os jovens são o futuro é um lugar comum dos mais batidos, mas nem sempre se acrescenta que, pelo menos em determinadas circunstâncias de lugar e de tempo, essa perspectiva pode corresponder a uma espécie de ameaça. Que os anos próximos façam surgir nos Estados Unidos, ao nível das tais classes média e média/alta, «mais ou menos», porventura com reforço de alguns equívocos e de muitas ignorâncias, é coisa de que o mundo não precisa nem um poucochinho. É verdade que, entretanto, circunstâncias decisivas podem alterar-se, pois bem se sabe que as coisas mudam ou, mais exactamente que tudo está em mudança constante muito mais do que parece. Mas viver é também recolher os sinais que nos rodeiam e fazer a sua leitura. Estes sinais que emergiram da reportagem CBS sobre os jovens norte-americanos pressionam-nos a desejarmos o advento de rápidas mudanças.
strong>Um dia, o despertar
Além do mais, acontece que, como é sabido, os Estados Unidos exportam para os quatro cantos do planeta os seus modelos de comportamento, as suas prioridades e os supostos valores, os seus mitos que muitas vezes podem designar-se adequadamente como as suas imposturas. Essa é, de resto, uma gigantesca operação da área ideológica (pois que essa estória da morte das ideologias é precisamente uma das tais imposturas) graças à qual fica facilitado o multidisciplinar domínio planetário de Washington/Wall Street. Por isso, a gente ouve como falam e como pensam os jovens que a CBS entrevistou e logo fica prevenida que é assim, mais coisa, menos coisa, que pensam e falam, ou depressa vão fazê-lo, os jovens deste pedacinho de terra empobrecida que é Portugal. Não é mistério nenhum: é obvio, evidente até apenas a um olhar que percorra as ruas portuguesas, a ouvidos minimamente atentos a um grupo de jovens a mandarem bocas à mesa de um café, que o inconfessado sonho que por aí vagueia nas cabecinhas de muitos jovens portugueses é sentirem-se parecidos com o modelo americano. Não se trata, de resto, de um desvario exclusivamente português, bem pelo contrário: percorre, pelo menos, uma boa parte desta Europa que se deixou impregnar pelo desejo tonto e não excessivamente bonito de deixar de ser europeia. Compreenda-se contudo que ao ver a reportagem da CBS foi pelo meu país e pelos seus jovens, quer dizer, pelo futuro português, que eu temi. Porque a promoção dos States, dos modismos e estilos que de lá vêm, também das brutezas de vários graus e índoles em que são especialistas, é uma constante nos media portugueses, com destaque mas não exclusividade para a TV. De tudo isso, pouca coisa é inocente e inócua. E o sonho americano de jovens portugueses tem tudo o que é bastante para desembocar num despertar de miséria terceiro mundista.