- Nº 1604 (2004/08/26)
Referendo na Venezuela

Chávez ganha reconhecimento internacional

Internacional
Como resultado de uma segunda auditoria aos resultados do referendo sobre Hugo Chávez, a Organização de Estados Americanos e o Centro Carter concluíram que os resultados «são compatíveis» com os informados inicialmente pelo Centro Nacional de Eleições.

Esta nova auditoria foi feita aleatoriamente sobre 150 mesas de um total de pouco mais de 12 mil. As duas organizações, observadores internacionais exigidos pela oposição venezuelana – que só a eles e não ao CNE declarou reconhecer –, informaram que esta auditoria foi feita sobre uma mostra escolhida por ambos e verificou os aspectos principais do processo eleitoral (transmissão da data e comparação dos resultados com os talões depositados nas urnas). A auditoria não foi presenciada pela oposição que, depois de a exigir, se negou a testemunhá-la.
«Na nossa perspectiva», acrescentou César Gaviria, secretário-geral da Organização de Estados Americano, «este controlo, somado (à auditoria das) actas de votação, à transmissão e totalização dos resultados, certifica aquilo de que já tínhamos a certeza». Em nome do CC, Jennifer McCoy manifestou que espera que «com estas conclusões o povo venezuelano possa ter confiança no seu sistema eleitoral» e «olhar o futuro com confiança».
Entre outras considerações, César Gaviria comentou que, num processo democrático, é importante que quem ganha saiba ganhar e quem perde saiba perder. Acrescentou ainda que se este referendo era visto como uma saída democrática para devolver o país a um clima de tranquilidade, mas que se a oposição não reconhecia o resultado, se não tinha uma confiança mínima no sistema eleitoral (não é esse o caso da OEA nem do CC, por certo, insuspeitos de bolivarianos), então não teve sentido nada do que se fez. Ambas as organizações utilizaram sempre «controlos próprios», que, juntamente com a auditoria, «não deixam dúvidas sobre os resultados».
Minutos depois da declaração conjunta da OEA e do CC, um porta-voz da oposição voltou a afirmar que tinha havido uma fraude gigantesca (Gaviria tinha dito antes que qualquer anomalia teria sido detectada na auditoria) e que não reconhecia o resultado eleitoral. Não reconhece, nem reconhecerá. Da mesma forma que ainda não levantou o lock out que iniciou em Dezembro de 2002 e se estendeu até Fevereiro de 2003.

Sectores da oposição

Chávez tem-se lamentado várias vezes por não ter oposição. A que existe – (des)articulada à voltada da Coordenadora Democrática (?) – não tem sentido do ridículo, ao ponto de pedir uma auditoria de votos e depois decidir não assistir para logo dizer que se trata de uma «autoauditoria», ainda que nela tenham participado a OEA e CC. Não tem sentido do ridículo, quando quer apresentar os seus exit polls como mais válidos que os resultados eleitorais, e isto porque, como comentou um jornalista, quer acreditar mais no prognóstico de bom tempo do que na chuvada que está a cair. É uma oposição sem estadistas. Sem programa de governo. Sem estratégia de futuro. Nela tudo se reduz a derrubar, de qualquer forma, o governo bolivariano.
Heinz Dieterich, professor da Universidade Nacional Autónoma de México caracterizou-a assim: há um primeiro sector que vai tomar as coisas com mais calma e vai chegar à conclusão de que só faltam dois anos para novas eleições presidenciais. Um segundo sector, onde há classe média e segmentos populares baixos, é absolutamente histérico, como resultado de uma campanha mediática fascistoide criadora de ódio a tudo o que seja bolivariano. Fica ainda um terceiro sector, propriamente o representante dos interesses oligárquicos, que nunca aceitará uma democracia real, participativa. Esta é a que aparece nos media a fazer declarações a torto e a direito e a do meio é a que faz o trabalho sujo de sair para a rua a perpetrar provocações e actos de violência fascista. Estes dois sectores devem ser os que tinham em mente Carter quando disse que havia uma oposição que só era capaz de aceitar um resultado eleitoral: a derrota de Chávez.
Entretanto, os dias passam, a vida vai voltando ao seu ritmo normal – por exemplo a economia cresceu 23 por cento durante o primeiro semestre deste ano – e o governo bolivariano ganha reconhecimento internacional.

Pedro Campos