A PULSO

«O resultado da CDU foi conquistado com muito trabalho antes e durante a campanha eleitoral»

A grande e severa derrota dos partidos do Governo constitui o dado primeiro e mais relevante das eleições de domingo passado. Como justamente sublinha o Comunicado do Comité Central do PCP, aprovado na reunião de anteontem, a coligação da direita/extrema-direita não só ficou bastante abaixo da soma dos resultados do PSD e do CDS-PP nas anteriores eleições para o Parlamento Europeu, como perdeu cerca de 14 pontos em comparação com os resultados dos dois partidos nas eleições legislativas de 2002. Obtendo cerca de um terço dos votos expressos, o que constitui o seu pior resultado eleitoral de sempre, os partidos do Governo e a sua política foram inequivocamente rejeitados pela imensa maioria do eleitorado – facto que, por si só, comporta enormes consequências políticas, maiores ainda se se tiver em conta que os partidos da oposição obtiveram cerca de 60% dos votos.
O expediente a que os dirigentes dos partidos do Governo têm vindo a recorrer, não passa de uma desesperada manobra diversionista com a qual, invocando a taxa de abstenção verificada, procuram diminuir ou ocultar o importante significado político da expressiva derrota que sofreram. A verdade é que a elevada abstenção decorre, essencialmente, por um lado, da continuada política de direita levada a cabo por sucessivos governos e, por outro lado, de um processo de construção europeia ao serviço dos interesses dos grandes grupos económicos e de costas voltadas para os interesses, a opinião e a participação dos cidadãos e dos povos.
Os resultados das eleições de 13 de Junho dão mais força ao objectivo de pôr termo à nefasta governação do PSD e do CDS/PP e de lhe contrapor uma nova solução política efectivamente alternativa.

O PS, mais uma vez e lamentavelmente, parece apostado em fechar os olhos ao significado da histórica derrota eleitoral dos partidos do Governo. É isso que pode inferir-se das declarações proferidas por dirigentes daquele partido, traduzidas em apelos a uma voluntária mudança de políticas por parte do Governo – apelos cuja inutilidade é mais do que óbvia e que têm subjacente a disposição de aceitar a prossecução, até 2006, da política que tem vindo a ser praticada com terríveis consequências para os trabalhadores, para o povo e para o País. Esta atitude do PS - fechando a porta, no imediato, a soluções e decisões institucionais capazes de responder ao descontentamento generalizado e às aspirações manifestadas pelos portugueses no decorrer da campanha eleitoral e amplamente confirmadas pelos resultados eleitorais – torna mais premente a ampliação e intensificação da luta de massas. É através da luta – e só através dela – que, ao mesmo tempo que se defendem os interesses e direitos dos trabalhadores e se combate a política de direita, se pode obrigar o PS a mudar de atitude e se criam condições para que Portugal e os portugueses se vejam livres, com a maior urgência, do Governo Durão Barroso/Paulo Portas.
Como incisivamente acentua o Comité Central do PCP, a derrota eleitoral do PSD e do CDS/PP abre novas e melhores perspectivas para o desenvolvimento da luta e, assim, impor recuos à ofensiva da política governamental, alcançar êxitos nas reivindicações dos trabalhadores e das massas populares e persistir com determinação no objectivo de, o mais cedo possível, derrotar e substituir a política de direita e o Governo que a executa.

O resultado eleitoral da CDU, com a obtenção de 9,1% e a eleição de dois deputados (ficando não muito longe da eleição do terceiro) é um bom resultado - apesar de ter ficado aquém do que era necessário e muito aquém, sobretudo, do que era merecido. Melhor ainda se forem tidas em conta as condições adversas em que esse resultado foi conquistado, nomeadamente, a sistemática desvalorização e menorização da campanha e das propostas da CDU (em contraste flagrante com o tratamento super-valorativo dado a outras campanhas) por parte da generalidade da comunicação social dominante; a difusão de sondagens de opinião que, em vários casos, mais não eram do que instrumentos de influenciação de voto, dando como certa a perda de um deputado pela CDU (em contraste flagrante com as perspectivas triunfalistas apontadas em relação a outras candidaturas); um tratamento descriminatório visando passar a ideia de uma campanha CDU sem brilho (em contraste flagrante com as notícias e as imagens cirurgicamente abrilhantadas de outras campanhas). Grande há-de ter sido o esforço desenvolvido por esses manipuladores da informação, já que, de facto, a campanha eleitoral da CDU foi a única que esteve em todo o terreno; a que mais activistas mobilizou num empenhamento militante singular; a que mais apelou à inteligência e à reflexão dos eleitores; a única que prestou contas ao eleitorado do trabalho feito pelos seus deputados no PE (que foi mais e melhor do que o dos deputados de todos os outros partidos) e da acção dos partidos integrantes da CDU na luta contra a política de direita e pela defesa dos interesses dos trabalhadores (acção que foi mais intensa e mais ampla do que a dos restantes partidos da oposição).
Quer isto dizer que o resultado da CDU foi conquistado com trabalho, muito trabalho, antes e durante a campanha eleitoral, sem favores, antes com muitos desfavores. Foi, enfim, um resultado conquistado a pulso. E são essas características que lhe acentuam o conteúdo positivo e encorajador indispensável para dar força à luta pelo reforço eleitoral da CDU em próximas eleições.