Vontades inabaláveis
A solidariedade com os cinco cubanos presos nos Estados Unidos por lutarem contra o terrorismo cresce em todo o mundo. Com o intensificar das campanhas de solidariedade, que vão conseguindo, a esforço, romper o denso bloqueio mediático, são cada vez mais os que tomam conhecimento da injusta situação dos cinco homens, ilegalmente presos, e com eles se solidarizam. Entertanto, as autoridades norte-americanas redobram a repressão sobre os prisioneiros, atingindo limites deploráveis, como o uso das próprias famílias dos presos como forma de chantagem. Mas os revolucionários e as suas famílias não cedem.
«Não estamos a pedir permissão para viajar para os Estados Unidos como turistas, nem para trabalhar, e ainda menos para viver nesse país. Só queremos ver os nossos maridos.» Foi assim que Adriana Pérez respondeu aos jornalistas na conferência de imprensa realizada após lhe ter sido negado, mais uma vez, pelas autoridades norte-americanas o visto de entrada nos Estados Unidos. Esta cubana pretendia visitar o seu marido, Gerardo Hernández, um dos cinco cubanos injustamente presos nos Estados Unidos por lutarem contra o terrorismo de Miami contra o seu país.
Com Adriana viajaria também Olga Salanueva, mulher de outro dos prisioneiros, René González, e a sua filha Ivette. A resposta negativa das autoridades dos EUA chegou, para Adriana e Olga, quatro meses depois de o pedido ter sido feito à Secção de Interesses dos EUA em Havana.
Adriana não vê o marido há cinco anos, desde que este foi preso pelo FBI. Por diversas vezes tentou visitá-lo, mas nunca foi autorizada pelo governo dos Estados Unidos. Numa das tentativas, no ano passado, chegou a ser-lhe concedido visto de entrada no país. Mas ao entrar em território norte-americano, foi detida pelas autoridades de imigração. Sem qualquer explicação, Adriana foi presa e sujeita a um longo interrogatório por parte de FBI. Em seguida, foi repatriada para Cuba, sem lhe ser concedido um único minuto com Gerardo.
Também Olga não vê o seu marido há muito. A sua filha Ivette, actualmente com seis anos, não se lembra do pai, pois era muito pequena quando se deu a sua prisão. Das vezes que visitou René no cárcere, ainda bebé, Ivette foi usada como arma de chantagem sobre o prisioneiro. Conta Olga que na primeira vez que René viu as filhas – Ivette tem uma irmã mais velha, Irma – depois de ter sido preso, o encontro deu-se em condições particularmente humilhantes: René González foi colocado diante delas, numa sala do Centro de Detenção Federal de Miami, preso com algemas a uma cadeira.
Com apenas cinco anos, a pequena Ivette tem já uma atribulada existência, que suscita preocupações por parte de associações de psicólogos.
Após a prisão do pai e o repatriamento da mãe ficou, com pouco mais de um ano de idade, a viver com a bisavó nos Estados Unidos. Devido ao facto de ter nascido naquele país, tal como o pai, que nasceu nos Estados Unidos meses antes da Revolução, a menina não foi repatriada juntamente com a mãe.
Aos dois anos e meio, a criança sofreria com nova separação. Olga consegue que a sogra vá aos Estados Unidos e lhe traga de volta a filha. Para trás ficava a bisavó de Ivette, a única família que a criança conheceu durante os dois primeiros anos da sua vida. «Ele tem o direito de receber a visita da família e a minha filha tem o direito de conhecer o pai», afirmou Olga Salanueva, que também participou na conferência de imprensa com Adriana Pérez. O presidente cubano Fidel Castro denunciou também o que considera ser outra violência por parte do governo dos Estados Unidos contra uma criança cubana, após o sequestro de Elián González.
A infâmia como método
Desde o início do processo, praticamente desde o dia da captura, que as autoridades norte-americanas demonstram uma especial atenção para com estes presos. Desde um tribunal que apenas o foi de nome até às condições ilegais de cativeiro, a lei parece não proteger os cinco prisioneiros cubanos. Aquando da sua captura, os cinco homens foram enviados para um sector especial da prisão, para onde são enviados os presidiários indisciplinados e violentos, por um período nunca superior a sessenta dias.
Olga Salanueva recorda que o seu marido e os seus quatro companheiros estiveram cativos nesse sector (para o qual não poderiam sequer ter sido enviados, segundo a lei norte-americana) durante 17 meses. Segundo a lei norte-americana, os presos têm o direito a receber visitas das suas famílias. «A René, esse direito foi-lhe negado», lembra Olga Salanueva. «Por lutar contra o terrorismo, por representar Cuba.»
A utilização da família como arma contra os prisioneiros começou cedo e foi denunciada por Adriana Pérez, mulher de Gerardo Hernández, na conferência de imprensa. Segundo Pérez, impedindo os cinco cubanos de receberem visitas das famílias, as autoridades dos Estados Unidos estão a «puni-los duas vezes: com penas e negando-lhes o direito humano de receberem visitas». Desde 12 de Dezembro de 1998, data da detenção, que as suas famílias foram manipuladas «para os humilhar, para os tentar vergar e como meio de chantagem», denunciou a mulher de Gerardo Hernández.
Exemplo maior destas tentativas desesperadas dos carcereiros de vencer pela força os cinco homens – considerados como «heróis da República de Cuba» pelos membros do parlamento cubano – foi o ultimato feito a René González, pouco depois da captura. Ou ele renegava às suas convicções ou a sua mulher era repatriada. Como revolucionário, René não renegou e Olga regressou a Cuba, deixando para trás o marido preso e a filha bebé, que apenas reveria dois anos mais tarde.
Numa entrevista recente à agência noticiosa Prensa Latina, Olga relembrou esses dias difíceis. Questionada sobre se combinou previamente com o marido formas de lidar com as pressões da polícia, Olga Salanueva afirmou: «Nunca perguntámos se iríamos parar ou continuar. Esteve desde sempre subentendido que esta era uma batalha para continuar até à vitória, porque a razão estava do nosso lado, já que ele estava a proteger o seu povo da morte.»
Cresce a solidariedade
A infâmia dos métodos utilizados e a firmeza das convicções dos cinco homens e das suas famílias estão a provocar uma onda de crescente solidariedade para com eles e a sua causa. Por todo o mundo, nascem comités de solidariedade e o processo dos cinco cubanos vai sendo conhecido, apesar do espesso manto de silêncio que os grandes meios de comunicação social lançaram sobre o caso.
Dos parlamentos britânico e irlandês chegam ecos solidários com a luta destes homens, e de suas famílias. 112 deputados britânicos, entre os quais o ex-ministro Trabalhista Robin Cook, assinaram uma moção de apoio aos «cinco de Miami», como são conhecidos no Reino Unido os prisioneiros cubanos. Na moção, afirma-se que a «natureza das acusações, a localização do tribunal em Miami, na Florida, numa atmosfera de intimidação pública e dos media, e a natureza das sentenças ditadas, fazem duvidar da transparência do processo judicial». Os 112 deputados instam ainda o governo dos EUA a apoiar a petição dos advogados de defesa que exige um novo julgamento, a ter lugar numa outra jurisdição, que garanta uma julgamento justo.
No mesmo sentido, vários deputados do Parlamento Irlandês exigem um novo julgamento para os cinco cubanos injustamente encarcerados nos Estados Unidos. Os parlamentares consideram que o objectivo dos cinco de Miami era, somente, defender o seu país de actos terroristas perpetrados a partir do território dos EUA. Entre os deputados, encontravam-se todos os vinte e seis eleitos do Partido Trabalhista Irlandês.
Também os delegados à décima terceira Conferência Continental da Associação Americana de Juristas, que esteve reunida entre 11 e 14 de Novembro na Argentina, condenaram o «injusto processo legal» que condenou os cinco homens.
Indignado com a proibição das visitas dos familiares a dois dos presos, e por razões exclusivamente humanitárias, o Conselho Nacional das Igrejas de Cristo, dos Estados Unidos, solicitou ao governo norte-americano a autorização de entrada das esposas de Gerardo e René.
A Federação Democrática Internacional de Mulheres transmitiu também a sua solidariedade com os cinco e exigiu a sua libertação. Em Hanói, a presidente da FDIM reclamou o direito das mulheres e dos filhos dos prisioneiros a visitarem, nos cárceres, os seus maridos e pais.
Governo dos EUA protege os seus mafiosos
A condenação dos cinco prisioneiros cubanos – Gerardo, Ramón, Antonio, Fernando e René – foi uma farsa jurídica, guiada por interesses políticos da sempre activa mafia cubana de Miami. Condenados a pesadas penas, contra eles não foi apresentado um único indício que provasse as acusações que lhes eram dirigidas. Mas foram condenados às penas máximas em todas as acusações.
Ricardo Alarcón é presidente da Assembleia Nacional cubana e seguramente um dos maiores conhecedores da política norte-americana. Em entrevista ao jornal digital Rebelíon, o dirigente cubano acusa o governo dos Estados Unidos de cumplicidade com os terroristas de Miami. Segundo o político cubano, a própria Procuradoria do Sul da Florida, que conduziu o processo, reconheceu por escrito e perante o Tribunal que os cinco cubanos estavam infiltrados nos grupos da extrema-direita de Miami para recolher informações que ajudassem Cuba a defender-se dos seus ataques.
Mas esta não foi a única confissão dos acusadores. O Tribunal acabaria por adicionar uma pena suplementar aos acusados. Diz o Tribunal, literalmente, que «se proíbe ao acusado visitar os lugares onde se sabe que estão ou frequentam indivíduos ou grupos terroristas». Ricardo Alarcón afirma que «é tão vital para esse governo proteger os seus terroristas que se tomou a iniciativa de “incapacitar” alguém que se supõe que ficará encerrado numa prisão de alta segurança o resto da sua vida mais dez anos». Ao mesmo tempo, lembra Alarcón, indivíduos «com extenso historial terrorista passeiam-se livremente pelas ruas de Miami».
Noam Chomsky
«Cuba é valente exemplo de resistência»
«O assunto dos cinco cubanos é um escândalo tal que custa falar dele», afirmou o linguista norte-americano Noam Chomsky, que esteve em Cuba no mês passado, a participar na terceira Conferência de Ciências Sociais da América Latina e Caribe. Chomsky – em entrevista concedida à Radio Habana Cuba – considerou que a pouca informação que existe no mundo sobre tão escandaloso caso deve-se a um grande silenciamento que sobre ele se abateu. Porquê? Para o norte-americano, por uma simples razão: «não se pode desafiar o padrinho mafioso, todos sabem isso. Se o padrinho faz algo de que não se gosta, a única coisa que se pode fazer é ficar calado.» Noam Chomsky lembra que Cuba transmitiu ao FBI informações sobre os actos terroristas que tinham lugar contra Cuba desde Miami e que as autoridades norte-americanas, ao invés de prender os terroristas, prenderam as pessoas que lhes haviam dado essas informações.
Mas não é a única razão, afirma. O facto de a «elite europeia compartilhar dos interesses do poder norte-americano» faz com que nada se diga sobre semelhantes processos. «Talvez não gostem que os Estados Unidos lhes façam muita sombra – em especial quando interfere com os seus interesses particulares – mas no essencial não estão em desacordo», assegura.
Chomsky expressou ainda que Cuba «converteu-se em símbolo de valente resistência contra o ataque» e que o país sobrevive, apesar dos ataques que lhe são dirigidos pela poderoso vizinho do Norte».
O linguista norte-americano aderiu à petição do Comité Nacional dos EUA para a Libertação dos Cinco, juntando-se assim a Ramsey Clark, antigo Procurador-Geral dos Estados Unidos, e a muitos outros seus compatriotas.
Com Adriana viajaria também Olga Salanueva, mulher de outro dos prisioneiros, René González, e a sua filha Ivette. A resposta negativa das autoridades dos EUA chegou, para Adriana e Olga, quatro meses depois de o pedido ter sido feito à Secção de Interesses dos EUA em Havana.
Adriana não vê o marido há cinco anos, desde que este foi preso pelo FBI. Por diversas vezes tentou visitá-lo, mas nunca foi autorizada pelo governo dos Estados Unidos. Numa das tentativas, no ano passado, chegou a ser-lhe concedido visto de entrada no país. Mas ao entrar em território norte-americano, foi detida pelas autoridades de imigração. Sem qualquer explicação, Adriana foi presa e sujeita a um longo interrogatório por parte de FBI. Em seguida, foi repatriada para Cuba, sem lhe ser concedido um único minuto com Gerardo.
Também Olga não vê o seu marido há muito. A sua filha Ivette, actualmente com seis anos, não se lembra do pai, pois era muito pequena quando se deu a sua prisão. Das vezes que visitou René no cárcere, ainda bebé, Ivette foi usada como arma de chantagem sobre o prisioneiro. Conta Olga que na primeira vez que René viu as filhas – Ivette tem uma irmã mais velha, Irma – depois de ter sido preso, o encontro deu-se em condições particularmente humilhantes: René González foi colocado diante delas, numa sala do Centro de Detenção Federal de Miami, preso com algemas a uma cadeira.
Com apenas cinco anos, a pequena Ivette tem já uma atribulada existência, que suscita preocupações por parte de associações de psicólogos.
Após a prisão do pai e o repatriamento da mãe ficou, com pouco mais de um ano de idade, a viver com a bisavó nos Estados Unidos. Devido ao facto de ter nascido naquele país, tal como o pai, que nasceu nos Estados Unidos meses antes da Revolução, a menina não foi repatriada juntamente com a mãe.
Aos dois anos e meio, a criança sofreria com nova separação. Olga consegue que a sogra vá aos Estados Unidos e lhe traga de volta a filha. Para trás ficava a bisavó de Ivette, a única família que a criança conheceu durante os dois primeiros anos da sua vida. «Ele tem o direito de receber a visita da família e a minha filha tem o direito de conhecer o pai», afirmou Olga Salanueva, que também participou na conferência de imprensa com Adriana Pérez. O presidente cubano Fidel Castro denunciou também o que considera ser outra violência por parte do governo dos Estados Unidos contra uma criança cubana, após o sequestro de Elián González.
A infâmia como método
Desde o início do processo, praticamente desde o dia da captura, que as autoridades norte-americanas demonstram uma especial atenção para com estes presos. Desde um tribunal que apenas o foi de nome até às condições ilegais de cativeiro, a lei parece não proteger os cinco prisioneiros cubanos. Aquando da sua captura, os cinco homens foram enviados para um sector especial da prisão, para onde são enviados os presidiários indisciplinados e violentos, por um período nunca superior a sessenta dias.
Olga Salanueva recorda que o seu marido e os seus quatro companheiros estiveram cativos nesse sector (para o qual não poderiam sequer ter sido enviados, segundo a lei norte-americana) durante 17 meses. Segundo a lei norte-americana, os presos têm o direito a receber visitas das suas famílias. «A René, esse direito foi-lhe negado», lembra Olga Salanueva. «Por lutar contra o terrorismo, por representar Cuba.»
A utilização da família como arma contra os prisioneiros começou cedo e foi denunciada por Adriana Pérez, mulher de Gerardo Hernández, na conferência de imprensa. Segundo Pérez, impedindo os cinco cubanos de receberem visitas das famílias, as autoridades dos Estados Unidos estão a «puni-los duas vezes: com penas e negando-lhes o direito humano de receberem visitas». Desde 12 de Dezembro de 1998, data da detenção, que as suas famílias foram manipuladas «para os humilhar, para os tentar vergar e como meio de chantagem», denunciou a mulher de Gerardo Hernández.
Exemplo maior destas tentativas desesperadas dos carcereiros de vencer pela força os cinco homens – considerados como «heróis da República de Cuba» pelos membros do parlamento cubano – foi o ultimato feito a René González, pouco depois da captura. Ou ele renegava às suas convicções ou a sua mulher era repatriada. Como revolucionário, René não renegou e Olga regressou a Cuba, deixando para trás o marido preso e a filha bebé, que apenas reveria dois anos mais tarde.
Numa entrevista recente à agência noticiosa Prensa Latina, Olga relembrou esses dias difíceis. Questionada sobre se combinou previamente com o marido formas de lidar com as pressões da polícia, Olga Salanueva afirmou: «Nunca perguntámos se iríamos parar ou continuar. Esteve desde sempre subentendido que esta era uma batalha para continuar até à vitória, porque a razão estava do nosso lado, já que ele estava a proteger o seu povo da morte.»
Cresce a solidariedade
A infâmia dos métodos utilizados e a firmeza das convicções dos cinco homens e das suas famílias estão a provocar uma onda de crescente solidariedade para com eles e a sua causa. Por todo o mundo, nascem comités de solidariedade e o processo dos cinco cubanos vai sendo conhecido, apesar do espesso manto de silêncio que os grandes meios de comunicação social lançaram sobre o caso.
Dos parlamentos britânico e irlandês chegam ecos solidários com a luta destes homens, e de suas famílias. 112 deputados britânicos, entre os quais o ex-ministro Trabalhista Robin Cook, assinaram uma moção de apoio aos «cinco de Miami», como são conhecidos no Reino Unido os prisioneiros cubanos. Na moção, afirma-se que a «natureza das acusações, a localização do tribunal em Miami, na Florida, numa atmosfera de intimidação pública e dos media, e a natureza das sentenças ditadas, fazem duvidar da transparência do processo judicial». Os 112 deputados instam ainda o governo dos EUA a apoiar a petição dos advogados de defesa que exige um novo julgamento, a ter lugar numa outra jurisdição, que garanta uma julgamento justo.
No mesmo sentido, vários deputados do Parlamento Irlandês exigem um novo julgamento para os cinco cubanos injustamente encarcerados nos Estados Unidos. Os parlamentares consideram que o objectivo dos cinco de Miami era, somente, defender o seu país de actos terroristas perpetrados a partir do território dos EUA. Entre os deputados, encontravam-se todos os vinte e seis eleitos do Partido Trabalhista Irlandês.
Também os delegados à décima terceira Conferência Continental da Associação Americana de Juristas, que esteve reunida entre 11 e 14 de Novembro na Argentina, condenaram o «injusto processo legal» que condenou os cinco homens.
Indignado com a proibição das visitas dos familiares a dois dos presos, e por razões exclusivamente humanitárias, o Conselho Nacional das Igrejas de Cristo, dos Estados Unidos, solicitou ao governo norte-americano a autorização de entrada das esposas de Gerardo e René.
A Federação Democrática Internacional de Mulheres transmitiu também a sua solidariedade com os cinco e exigiu a sua libertação. Em Hanói, a presidente da FDIM reclamou o direito das mulheres e dos filhos dos prisioneiros a visitarem, nos cárceres, os seus maridos e pais.
Governo dos EUA protege os seus mafiosos
A condenação dos cinco prisioneiros cubanos – Gerardo, Ramón, Antonio, Fernando e René – foi uma farsa jurídica, guiada por interesses políticos da sempre activa mafia cubana de Miami. Condenados a pesadas penas, contra eles não foi apresentado um único indício que provasse as acusações que lhes eram dirigidas. Mas foram condenados às penas máximas em todas as acusações.
Ricardo Alarcón é presidente da Assembleia Nacional cubana e seguramente um dos maiores conhecedores da política norte-americana. Em entrevista ao jornal digital Rebelíon, o dirigente cubano acusa o governo dos Estados Unidos de cumplicidade com os terroristas de Miami. Segundo o político cubano, a própria Procuradoria do Sul da Florida, que conduziu o processo, reconheceu por escrito e perante o Tribunal que os cinco cubanos estavam infiltrados nos grupos da extrema-direita de Miami para recolher informações que ajudassem Cuba a defender-se dos seus ataques.
Mas esta não foi a única confissão dos acusadores. O Tribunal acabaria por adicionar uma pena suplementar aos acusados. Diz o Tribunal, literalmente, que «se proíbe ao acusado visitar os lugares onde se sabe que estão ou frequentam indivíduos ou grupos terroristas». Ricardo Alarcón afirma que «é tão vital para esse governo proteger os seus terroristas que se tomou a iniciativa de “incapacitar” alguém que se supõe que ficará encerrado numa prisão de alta segurança o resto da sua vida mais dez anos». Ao mesmo tempo, lembra Alarcón, indivíduos «com extenso historial terrorista passeiam-se livremente pelas ruas de Miami».
Noam Chomsky
«Cuba é valente exemplo de resistência»
«O assunto dos cinco cubanos é um escândalo tal que custa falar dele», afirmou o linguista norte-americano Noam Chomsky, que esteve em Cuba no mês passado, a participar na terceira Conferência de Ciências Sociais da América Latina e Caribe. Chomsky – em entrevista concedida à Radio Habana Cuba – considerou que a pouca informação que existe no mundo sobre tão escandaloso caso deve-se a um grande silenciamento que sobre ele se abateu. Porquê? Para o norte-americano, por uma simples razão: «não se pode desafiar o padrinho mafioso, todos sabem isso. Se o padrinho faz algo de que não se gosta, a única coisa que se pode fazer é ficar calado.» Noam Chomsky lembra que Cuba transmitiu ao FBI informações sobre os actos terroristas que tinham lugar contra Cuba desde Miami e que as autoridades norte-americanas, ao invés de prender os terroristas, prenderam as pessoas que lhes haviam dado essas informações.
Mas não é a única razão, afirma. O facto de a «elite europeia compartilhar dos interesses do poder norte-americano» faz com que nada se diga sobre semelhantes processos. «Talvez não gostem que os Estados Unidos lhes façam muita sombra – em especial quando interfere com os seus interesses particulares – mas no essencial não estão em desacordo», assegura.
Chomsky expressou ainda que Cuba «converteu-se em símbolo de valente resistência contra o ataque» e que o país sobrevive, apesar dos ataques que lhe são dirigidos pela poderoso vizinho do Norte».
O linguista norte-americano aderiu à petição do Comité Nacional dos EUA para a Libertação dos Cinco, juntando-se assim a Ramsey Clark, antigo Procurador-Geral dos Estados Unidos, e a muitos outros seus compatriotas.