86.º aniversário da Revolução de Outubro

Um projecto com futuro

Dezenas de iniciativas por todo o país, promovidas por diversas organizações do PCP, congregaram muitos militantes comunistas em torno da comemoração do 86.º aniversário da Revolução de Outubro de 1917.

Estamos a comemorar um acontecimento de significado e importância universais

Reforçados pela justeza, o alcance e a validade de tal acontecimento, cerca de três centenas de militantes comunistas juntaram-se, sexta-feira, no cine-teatro D. João V, na Damaia, para o festejar «com a consciência clara de que, neste tempo difícil e complexo que vivemos, estamos a comemorar um acontecimento de significado e importância universais. E é indispensável que sublinhemos – sem margem para dúvidas, com toda a clareza – a nossa identificação total, a identificação total dos comunistas portugueses, com os objectivos e os ideais da Revolução de Outubro. Quer isto dizer que assumimos frontalmente que o projecto de sociedade pelo qual o nosso partido tem lutado ao longo dos seus mais de oitenta anos de vida e pelo qual continuará a lutar, esse projecto de sociedade tem as suas raízes nos princípios, nos valores e no conteúdo das conquistas alcançadas pela Revolução de Outubro», como referiu José Casanova no discurso de encerramento.

Várias gerações, o mesmo ideal

Antes do arranque da iniciativa, jovens e menos jovens entraram na sala empunhando a mesma bandeira rubra, onde a foice e o martelo se cruzam para simbolizar a aliança operário-camponesa, e a estrela assinala o internacionalismo proletário que une a luta dos povos de todo o mundo.
Cá fora, várias gerações de comunistas entregaram-se ao convívio fraterno no átrio do cine-teatro, enquanto alguns militantes realizavam generosamente tarefas várias.
Uma espreitadela na banca vislumbrava livros e documentos que se misturavam com T-shirts e Pin’s, amalgamando causas, valores e convicções de hoje e de sempre. Palestina, Código do Trabalho e Educação eram algumas das que, entre o Cancioneiro Revolucionário, esboçavam as linhas gerais da luta de todos os dias.

Música migrante e migrações musicais

Coube ao coro «Os Alentejanos» abrir o palco, cantando os parabéns à Revolução de Outubro e à primeira célula do PCP que nasceu na Amadora à oitenta anos.
Entre cada música foram desfiando fragmentos da memória de um povo que abandonou as planícies alentejanas em busca de melhor sustento, com a convicção de que a mais pobre região da Europa possa, um dia, acolher os que partiram e os que ficaram, com a dignidade que quem trabalha merece.
Seguidamente foi a vez de actuar uma banda do concelho da Amadora.
Enquanto migravam pelo canto de intervenção, entre a «Trova do vento que passa» e o «Hasta siempre Comandante», juntaram-se os restantes elementos do grupo, ao qual não faltava um russo que teve que abandonar o seu país para melhor ganhar o pão.

Confiança na luta

«A Juventude Comunista Portuguesa, organização revolucionária da juventude, marxista-leninista, tem prosseguido na luta contra a política ofensiva deste Governo, em defesa dos direitos e pela concretização das aspirações dos jovens», afirmou, na intervenção de abertura, Rita Guimarães, da Direcção Nacional da JCP.
Passando em revista as linhas prioritárias de trabalho, destacou a luta dos estudantes por «um ensino público, gratuito e de qualidade», da qual foi exemplo a manifestação do passado 5 de Novembro que juntou 15 mil estudantes em Lisboa.
A finalizar citou Ary dos Santos, instigando em todos a confiança de que «A cada assalto, a cada escalada fascista, subirá sempre mais alto a Bandeira Comunista!».
Antes da intervenção final, foram ainda divulgadas duas saudações ao comício, lidas por António Tremoço da Organização Concelhia da Amadora. A primeira, de Georgete Ferreira, uma das mais destacadas militantes daquela organização, seguida de uma outra enviada pelo ex-secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, recebida com enorme entusiasmo por todos os camaradas (Ver caixa).

Lembrar a Revolução, projectar o futuro

Coube a José Casanova encerrar o comício que já se estendia noite dentro.
Saudando «de forma fraterna os presentes», o membro da Comissão Política do PCP enalteceu o esforço de todos os que «nas empresas, nos locais de residência, nas associações diversas, actuam na defesa dos interesses e dos direitos dos trabalhadores e das populações» e deixou «uma palavra especial de admiração e homenagem aos camaradas que, há 80 anos, aqui criaram a primeira organização do nosso partido».
Só para citar uma das muitas batalhas que envolvem o Partido, José Casanova recordou a travada pelos trabalhadores da Sorefame-Bombardier e reiterou que «a vossa luta é a nossa luta», arrancando um sentido aplauso dos que, há já muitos anos defendem a manutenção da mais emblemática empresa da Amadora.
Numa breve análise aos fundamentos que estiveram na base da falência da experiência socialista da União Soviética, o dirigente do PCP acrescentou que «é importante que os comunistas procurem analisar e aprofundar as razões dessa derrota», mas reforçou a ideia de que «as consequências foram terríveis», pois «uma nova ordem imperialista, opressora, repressora, belicista, de cariz totalitário, passou a dominar o mundo».
Antes do fecho com o «Avante Camarada!» e a «Internacional», José Casanova lançou o mote mobilizador, pois apesar dos tempos serem de resistência, esta deve ser feita «à nossa maneira, através das lutas de todos os dias por objectivos imediatos mas conferindo a essas lutas um conteúdo revolucionário», na sequência do «sonho da sociedade nova, socialista, comunista de que a Revolução de Outubro foi portadora».

Comemorações por todo o País

Diversas iniciativas assinalaram os 86 anos da Revolução de Outubro.
No Porto sábado, dinamizada pelo Sector Intelectual daquela Organização Regional, muitos camaradas debateram com o professor Eduardo Chitas, e José Pedro Rodrigues, da DORP do PCP, no espaço da Cooperativa Árvore, o contexto e a importância da experiência soviética, depois de terem sido projectadas imagens, fotos e cartazes alusivos há época.
No mesmo dia, os colectivos do Vale do Sousa e Baixo Tâmega juntaram mais de 150 militantes e amigos do Partido para um jantar em Penafiel, evento que decorreu em ambiente fraternal e contou com intervenções de José Casanova, da Comissão Política do PCP, e Arnaldo Mesquita, do Sector Intelectual da DORP.
Em Lisboa, paralelamente ao almoço do colectivo da Soeiro Pereira Gomes, sexta-feira na sede do PCP, outras organizações promoveram comemorações.
Na Voz do Operário, os Sectores dos Transportes e Intelectual da ORL organizaram um jantar para mais de uma centena de pessoas, no qual interveio Albano Nunes, do Secretariado do Comité Central.
Há mesma hora, mas no Centro de Trabalho Vitória, Francisco Lopes, também do Secretariado do PCP, participou com outros 70 camaradas num convívio organizado pelo Sector da Hotelaria e Serviços.

Saudação de Álvaro Cunhal

Queridos camaradas:

Saúdo-vos calorosamente pela realização do comício comemorativo da Revolução de Outubro e do aniversário da formação da primeira célula do PCP.
Trata-se de facto de duas datas de alto significado: da revolução que pela primeira vez na história da humanidade pôs fim à exploração do homem pelo homem e da criação da organização do Partido, dando à classe operária e a todos os trabalhadores uma arma de valor único na defesa dos seus interesses vitais. Saúdo-vos pois com as mais calorosas felicitações pela vossa iniciativa.
Viva o Partido Comunista Português!