Os conservadores vão ressurgir das próprias cinzas
A forçada demissão do leader do Partido Conservador britânico, Iain Duncan Smith, era inevitavel. Já durante o Congresso «Tory», realizado há poucas semanas, a insatisfação das bases, como dos parlamentares do partido, tinha ficado suficientemente demonstrada. Mas o IDS, assim ficou mais conhecido o dirigente conservador, conseguiu fazer um discurso combativo que o aguentou por alguns dias. Logo a seguir, porém, soube-se que a esposa, Betsie, recebia do Parlamento a soma de 15 000 libras (21 000 euros) anuais para organizar-lhe a agenda e o arquivo na Câmara dos Comuns havendo provas de que nunca lá punha os pés. O destino de Mr. IDS, 777 dias após a sua eleição, estava traçado.
Os estatutos do partido exigem pelo menos 25 assinaturas em cartas dirigidas a sir Michael Spencer, chefe do «Comité de 1922», órgão executivo dos «Tories» no Parlamento. Sir Michael, então, na posse dessas cartas, foi obrigado a exigir votos ao grupo parlamentar. E esses votos, depois de contados, eram 75 a favor de IDS e 90 contra. O partido, assim, decidia ser necessário encontrar um novo leader que, mais tarde, seria submetido à confirmação dos militantes at large, quer dizer em todas as circunscrições eleitorais.
O problema, na passada quinta-feira, punha-se, apenas, na eleição do novo «leader». Mas já se sabia haver consenso quanto à personalidade de Michael Howard (68 anos) antigo ministro nos dias de Margaret Thatcher e John Major, uma personalidade sólida, hábil, experimentada, com grande capacidade para o debate das mais importantes. Quase sempre, tem prevalecido frente às principais figuras trabalhistas.
Michael Howard, um céptico quanto à Europa, vai realinhar toda a classe média, que Blair atraíra ao «New Labour», à volta do seu programa de centro-direita, hostil à Constituição europeia e ao euro, ciosa da independência britânica e do valor da libra esterlina, dedicada aos interesses do capitalismo, sim, mas sem concessões a Bruxelas. Pensa-se que a sua eleição, a realizar hoje, não passará de mera formalidade posto que outros possíveis candidatos renunciaram a concorrer com tão engenhoso advogado e barrister da City preferindo aliar-se-lhe.
Esta é a terceira vez que assistimos à ressurreição dos «Tories» quando os acontecimentos indicavam que o seu partido estava destinado ao caixote do lixo da História. Na verdade, após a vitória dos trabalhistas em 1945 e no clima empolgante do fim da 2.ª Guerra Mundial, previa-se que a Grã-Bretanha avançaria para o socialismo deixando no passado os tempos do desemprego, da repressão dos trabalhadores em greve, dos problemas nascidos da convertibilidade da libra em relação ao oiro, da vocação imperialista para conflitos, os tempos do Império em decadência. Mas as vacilações dos gabinetes trabalhistas (Attlee) desiludiram o povo e, em 1951, os conservadores, ainda liderados por sir Winston Churchill, regressavam ao poder.
Mais tarde, com o povo britânico a exigir medidas de grande fundo social, de modernização industrial e de fuga às constantes crises financeiras e da economia em geral, as eleições de 1964 e 1966 dariam a Harold Wilson meios para impulsionar o país e destruir a herança dos governos do imperialismo. Contudo, a reacção dispunha de meios eficientes e ferozes que minaram o programa trabalhista até às mais fundas raízes deixando-o sem abrigo perante o eleitorado. Foi assim que surgiu Edward Heath, primeiro, e, depois, Margaret Thatcher cujo governo catastrófico parecia interminável.
Agora, já vemos os conservadores de novo a reagruparem-se. Nas próximas eleições gerais, dentro de dois anos, recuperarão todo o terreno perdido porque o eleitorado em geral não mais aceitará o actual primeiro-ministro, Tony Blair. E a menos que os trabalhistas o substituam, como tantos exigem, e ponham em acção um novo programa político, será o «New Labour» e serão os seus inventores e o respectivo chefe, que acabarão no caixote do lixo da História.
Posição dos partidos no Parlamento, actualmente:
Trabalhistas: 412 lugares; Conservadores: 165; Liberais-democratas: 52; Outros: 26.
A Voz da História
Primeiros-ministros conservadores que deixaram nome
1812-1827
Robert Banks Jenkinson (conde de Liverpool)
Como ministro da Guerra durante a Guerra Peninsular esteve na direcção da acção militar britânica em Portugal que conduziu às vitórias de Wellington e tanto martirizou o nosso país.
1834-35
1841-46
Sir Robert Peel
Percursor da política livre-cambista, criador do sistema de impostos conhecido como «Income Tax», ainda em vigor.
1855-58,
1859-1865
Henry Temple Palmerston (3.º Visconde Palmerston)
Especialista de negócios internacionais, um dos mais constantes advogados da política de supressão dos interesses coloniais portugueses. A tal ponto insistiu nessa estratégia que a raínha Vitória teve de dizer-lhe: «Deixe os portugueses em paz, mylord».
1868 e 1874-80
Benjamin Disraeli
Estadista e escritor judeu. Impulsionou a construção do Canal de Suez. Viveu quase constantemente afogado em dívidas pessoais. Também conhecido como lord Beaconsfield.
1885-1902
Robert Gascoyne Cecil, marquês de Salisbury
Combateu o nacionalismo e o desejo de independência dos irlandeses; lidou com problemas coloniais constantes mas consolidou os interesses britânicos no Egipto. Na política estrangeira, como na colonial, usava de firmeza mas, também de simplicidade. Dirigiu o esforço britânico na 2.ª Guerra dos Boers (1899-1902).
1902-1905
Arthur James Balfour
Autor da célebre «Balfour declaration» prometendo um Estado aos judeus no território da Palestina.
1923-24; 1924-29; 1935-37
Stanley Aldwin
O homem que dirigiu a subversão e o esmagamento da greve geral de 1926; mas em 1935 viu-se confrontado com a abdicação do rei Edward VIII que abandonou o trono para casar com uma americana divorciada.
1937-40
Neville Chamberlain
Célebre negociador dos acordos de Munique onde, com Edouard Daladier, fez criminosas concessões a Adolf Hitler. Ao declarar em Londres: «Tenho um papel com a assinatura de Herr Hitler, que é uma garantia de paz», condenou-se perante a Grã-Bretanha e perante a História.
1940-45 e
1951-55
Sir Winston Spencer Churchill
Aristocrata da família dos Marlborough. Nasceu no castelo de Blenheim. Participou na Guerra dos ‘Boers’ (África do Sul). Primeiro ‘lord’ do Almirantado durante a 1.ª Guerra Mundial. Alertou para a iminência de um ataque nazi à Grã-Bretanha. Um dos principais dirigentes (com Stalin, Roosevelt e De Gaulle) na luta global contra os hitlerianos.
1955-57
Sir Anthony Eden
Ministro dos Estrangeiros nos governos Churchill de coligação nacional durante a 2.ª Guerra Mundial; sucessor natural de sir Winston, apostou todo o seu prestígio na invasão da zona do Canal de Suez (1956) após este ter sido nacionalizado por Gamal Abdel Nasser. Sofreu uma derrota humilhante.
1957-1963
Harold Macmillan
Herdeiro da catastrófica situação financeira resultante da aventura de Suez. Conseguiu recuperar a estabilidade da economia e das finanças britânicas e viu a produção industrial e as exportações atingirem níveis até então não conhecidos. Durante a campanha eleitoral de 1960 pronunciou a célebre frase: «You never had it so good !» Dirigia-se a uma circunscrição de maioria operária e queria dizer: «Nunca vocês viveram tão bem !»
1970-1974
Edward Heath
O politico obscuro que tirou partido das hesitações e fraquezas do governo trabalhista de Harold Wilson. Recebeu o chefe da ditadura portuguesa, Marcelo Caetano, em Londres (1973) para confirmar-lhe que a Grã-Bretanha não apoiava a guerra colonial nem ajudaria o nosso país financeiramente.
1979-1991
Margaret Hilda Thatcher
Uma das principais figuras que trabalharam na recuperação das posições do imperialismo e na sabotagem do sistema socialista internacional. Voltando-lhes as costas, deixou morrer os patriotas irlandeses em greve da fome. Presidiu à destruição da indústria mineira e mobilizou toda a Polícia britânica, assim como forças militares, contra a heróica classe dos mineiros em greve.
1991-1997
John Major
Sucessor da odiada política thatcherista. Nada mais havendo para dar aos capitalistas, privatizou os caminhos de ferro, o que resultou num desastre. Foi durante os seus governos que a moeda inglesa sofreu um dos mais sangrentos saques de sempre por iniciativa de especuladores internacionais e o Banco de Inglaterra perdeu biliões de libras.
O problema, na passada quinta-feira, punha-se, apenas, na eleição do novo «leader». Mas já se sabia haver consenso quanto à personalidade de Michael Howard (68 anos) antigo ministro nos dias de Margaret Thatcher e John Major, uma personalidade sólida, hábil, experimentada, com grande capacidade para o debate das mais importantes. Quase sempre, tem prevalecido frente às principais figuras trabalhistas.
Michael Howard, um céptico quanto à Europa, vai realinhar toda a classe média, que Blair atraíra ao «New Labour», à volta do seu programa de centro-direita, hostil à Constituição europeia e ao euro, ciosa da independência britânica e do valor da libra esterlina, dedicada aos interesses do capitalismo, sim, mas sem concessões a Bruxelas. Pensa-se que a sua eleição, a realizar hoje, não passará de mera formalidade posto que outros possíveis candidatos renunciaram a concorrer com tão engenhoso advogado e barrister da City preferindo aliar-se-lhe.
Esta é a terceira vez que assistimos à ressurreição dos «Tories» quando os acontecimentos indicavam que o seu partido estava destinado ao caixote do lixo da História. Na verdade, após a vitória dos trabalhistas em 1945 e no clima empolgante do fim da 2.ª Guerra Mundial, previa-se que a Grã-Bretanha avançaria para o socialismo deixando no passado os tempos do desemprego, da repressão dos trabalhadores em greve, dos problemas nascidos da convertibilidade da libra em relação ao oiro, da vocação imperialista para conflitos, os tempos do Império em decadência. Mas as vacilações dos gabinetes trabalhistas (Attlee) desiludiram o povo e, em 1951, os conservadores, ainda liderados por sir Winston Churchill, regressavam ao poder.
Mais tarde, com o povo britânico a exigir medidas de grande fundo social, de modernização industrial e de fuga às constantes crises financeiras e da economia em geral, as eleições de 1964 e 1966 dariam a Harold Wilson meios para impulsionar o país e destruir a herança dos governos do imperialismo. Contudo, a reacção dispunha de meios eficientes e ferozes que minaram o programa trabalhista até às mais fundas raízes deixando-o sem abrigo perante o eleitorado. Foi assim que surgiu Edward Heath, primeiro, e, depois, Margaret Thatcher cujo governo catastrófico parecia interminável.
Agora, já vemos os conservadores de novo a reagruparem-se. Nas próximas eleições gerais, dentro de dois anos, recuperarão todo o terreno perdido porque o eleitorado em geral não mais aceitará o actual primeiro-ministro, Tony Blair. E a menos que os trabalhistas o substituam, como tantos exigem, e ponham em acção um novo programa político, será o «New Labour» e serão os seus inventores e o respectivo chefe, que acabarão no caixote do lixo da História.
Posição dos partidos no Parlamento, actualmente:
Trabalhistas: 412 lugares; Conservadores: 165; Liberais-democratas: 52; Outros: 26.
A Voz da História
Primeiros-ministros conservadores que deixaram nome
1812-1827
Robert Banks Jenkinson (conde de Liverpool)
Como ministro da Guerra durante a Guerra Peninsular esteve na direcção da acção militar britânica em Portugal que conduziu às vitórias de Wellington e tanto martirizou o nosso país.
1834-35
1841-46
Sir Robert Peel
Percursor da política livre-cambista, criador do sistema de impostos conhecido como «Income Tax», ainda em vigor.
1855-58,
1859-1865
Henry Temple Palmerston (3.º Visconde Palmerston)
Especialista de negócios internacionais, um dos mais constantes advogados da política de supressão dos interesses coloniais portugueses. A tal ponto insistiu nessa estratégia que a raínha Vitória teve de dizer-lhe: «Deixe os portugueses em paz, mylord».
1868 e 1874-80
Benjamin Disraeli
Estadista e escritor judeu. Impulsionou a construção do Canal de Suez. Viveu quase constantemente afogado em dívidas pessoais. Também conhecido como lord Beaconsfield.
1885-1902
Robert Gascoyne Cecil, marquês de Salisbury
Combateu o nacionalismo e o desejo de independência dos irlandeses; lidou com problemas coloniais constantes mas consolidou os interesses britânicos no Egipto. Na política estrangeira, como na colonial, usava de firmeza mas, também de simplicidade. Dirigiu o esforço britânico na 2.ª Guerra dos Boers (1899-1902).
1902-1905
Arthur James Balfour
Autor da célebre «Balfour declaration» prometendo um Estado aos judeus no território da Palestina.
1923-24; 1924-29; 1935-37
Stanley Aldwin
O homem que dirigiu a subversão e o esmagamento da greve geral de 1926; mas em 1935 viu-se confrontado com a abdicação do rei Edward VIII que abandonou o trono para casar com uma americana divorciada.
1937-40
Neville Chamberlain
Célebre negociador dos acordos de Munique onde, com Edouard Daladier, fez criminosas concessões a Adolf Hitler. Ao declarar em Londres: «Tenho um papel com a assinatura de Herr Hitler, que é uma garantia de paz», condenou-se perante a Grã-Bretanha e perante a História.
1940-45 e
1951-55
Sir Winston Spencer Churchill
Aristocrata da família dos Marlborough. Nasceu no castelo de Blenheim. Participou na Guerra dos ‘Boers’ (África do Sul). Primeiro ‘lord’ do Almirantado durante a 1.ª Guerra Mundial. Alertou para a iminência de um ataque nazi à Grã-Bretanha. Um dos principais dirigentes (com Stalin, Roosevelt e De Gaulle) na luta global contra os hitlerianos.
1955-57
Sir Anthony Eden
Ministro dos Estrangeiros nos governos Churchill de coligação nacional durante a 2.ª Guerra Mundial; sucessor natural de sir Winston, apostou todo o seu prestígio na invasão da zona do Canal de Suez (1956) após este ter sido nacionalizado por Gamal Abdel Nasser. Sofreu uma derrota humilhante.
1957-1963
Harold Macmillan
Herdeiro da catastrófica situação financeira resultante da aventura de Suez. Conseguiu recuperar a estabilidade da economia e das finanças britânicas e viu a produção industrial e as exportações atingirem níveis até então não conhecidos. Durante a campanha eleitoral de 1960 pronunciou a célebre frase: «You never had it so good !» Dirigia-se a uma circunscrição de maioria operária e queria dizer: «Nunca vocês viveram tão bem !»
1970-1974
Edward Heath
O politico obscuro que tirou partido das hesitações e fraquezas do governo trabalhista de Harold Wilson. Recebeu o chefe da ditadura portuguesa, Marcelo Caetano, em Londres (1973) para confirmar-lhe que a Grã-Bretanha não apoiava a guerra colonial nem ajudaria o nosso país financeiramente.
1979-1991
Margaret Hilda Thatcher
Uma das principais figuras que trabalharam na recuperação das posições do imperialismo e na sabotagem do sistema socialista internacional. Voltando-lhes as costas, deixou morrer os patriotas irlandeses em greve da fome. Presidiu à destruição da indústria mineira e mobilizou toda a Polícia britânica, assim como forças militares, contra a heróica classe dos mineiros em greve.
1991-1997
John Major
Sucessor da odiada política thatcherista. Nada mais havendo para dar aos capitalistas, privatizou os caminhos de ferro, o que resultou num desastre. Foi durante os seus governos que a moeda inglesa sofreu um dos mais sangrentos saques de sempre por iniciativa de especuladores internacionais e o Banco de Inglaterra perdeu biliões de libras.