Confissões da Pastoral Social (2)
Toda a formação do agente sócio-caritativo da igreja obedece a uma disciplina rigorosa. O P. Feytor Pinto começou por chamar a atenção para as características pessoais do leigo ou do religioso e para a sua correcta integração num adequado modelo de agente animador ou paternalista. É porém evidente que em todos os casos há formas de representação que devem ser comuns: o agente social católico nunca pode pretender ser um pai das camadas populares mas um parteiro que ajuda a fazer nascer os frutos das reivindicações. No mesmo sentido, procurará ser visto pelas massas como um agricultor, como um médico ou como um enfermeiro, jamais como um general.
É com a preocupação da reconstrução da imagem que o agente católico deve enquadrar a sua intervenção social nas futuras etapas de crescimento. Numa primeira fase, importa trabalhar para as pessoas, como se «as carregasse» aos ombros. Em seguida, logo que estejam criadas condições mínimas, o agente deve trabalhar com as pessoas, «amparando-as para caminharem» por si mesmas. Finalmente, quando as multidões já puderem andar pelo seu pé, o agente pastoral deve pôr-se a seu lado, nas práticas da inserção. É então que o activista sócio-caritativo terá de provar ser capaz de mudar as ligações superficiais em contactos vivos e espírito de missão; de participar regularmente nas acções do grupo que apoia; de partilhar os hábitos e as preocupações do seu núcleo operacional; e de se inserir na maneira de viver dos outros. Diz o p. FP, da forma mais clara: «Inserção... para mergulhar mais fundo nas condições de vida dos oprimidos e dos que sofrem.» Veja-se como o olhar da igreja é sempre frio e externo ao lugar do sofrimento humano.
O sacerdote (simples relator dos centros do poder católico) aborda finalmente as vastas áreas da Mística do Trabalho Social. Sobre esta mística declara pragmaticamente: «O critério infalível que desfaz todos os equívocos do serviço é este: "se - com o serviço - se cria mais autonomia ou se agrava a dependência; se - com o serviço - as pessoas são libertadas ou se amarram ainda mais".» Dilemas graves que, mesmo no interior da igreja, só encontram resposta na praxis. Para encontrar uma saída, FP joga, então, com o «complexo dos afectos»: «amar as pessoas tal como elas são; confiar nelas e apreciar os seus valores; respeitar a sua liberdade, a sua palavra, as suas iniciativas, a sua história e a sua capacidade de mudança; servi-las e trabalhar a seu lado». Curiosas normas que a própria Igreja Católica, como organização política, é a primeira a não respeitar. Mas o P. F. Pinto bem sabia que a questão social lhe começava a fugir para as áreas da abstracção teológica. Corrigiu o tiro e regressou aos três sentidos estratégicos concretos da acção sócio-caritativa da igreja: o trabalho assistencial e o Evangelho (fundamentação ideológica); o problema do método de acção (crítica pragmática); e a caracterização de casos exemplares da acção sócio-caritativa no terreno experimental (fixação de referências na memória).
A questão da orientação ideológica é tratada no primeiro capítulo. A igreja faz, à sua maneira, a leitura da situação económico-social nos tempos de Jesus Cristo. Depois, mecanicamente, transporta a sua interpretação para os quadros actuais da sociedade. «A situação económico-social, no tempo de Jesus Cristo era difícil... JC privilegiou sempre os pobres... Nasceu e morreu pobre, curou os doentes, recebeu os marginais e os pecadores, foi sensível à fome da multidão e preocupou-se com os problemas das minorias... Os lugares que frequentou eram lugares dos pobres... Denunciou os ricos e os poderosos... A sua defesa perante o tribunal teve traços políticos, sociais e religiosos... Assumiu a sua missão: dar vista aos cegos, a Boa-Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a liberdade aos cativos, a alegria aos que sofrem... Porém, ultrapassou sempre o simples problema material e apontou para valores universais...»
Era esta a melhor altura para dar a volta aos aspectos sociológicos. FP não deixou fugir a oportunidade e conclui: «Cristo revela a permanente preocupação pela felicidade das pessoas: Felizes, mesmo que tenham fome!»
Continuaremos com o p. Feytor Pinto. Ele ensina a ler correctamente muito daquilo do que agora acontece.
É com a preocupação da reconstrução da imagem que o agente católico deve enquadrar a sua intervenção social nas futuras etapas de crescimento. Numa primeira fase, importa trabalhar para as pessoas, como se «as carregasse» aos ombros. Em seguida, logo que estejam criadas condições mínimas, o agente deve trabalhar com as pessoas, «amparando-as para caminharem» por si mesmas. Finalmente, quando as multidões já puderem andar pelo seu pé, o agente pastoral deve pôr-se a seu lado, nas práticas da inserção. É então que o activista sócio-caritativo terá de provar ser capaz de mudar as ligações superficiais em contactos vivos e espírito de missão; de participar regularmente nas acções do grupo que apoia; de partilhar os hábitos e as preocupações do seu núcleo operacional; e de se inserir na maneira de viver dos outros. Diz o p. FP, da forma mais clara: «Inserção... para mergulhar mais fundo nas condições de vida dos oprimidos e dos que sofrem.» Veja-se como o olhar da igreja é sempre frio e externo ao lugar do sofrimento humano.
O sacerdote (simples relator dos centros do poder católico) aborda finalmente as vastas áreas da Mística do Trabalho Social. Sobre esta mística declara pragmaticamente: «O critério infalível que desfaz todos os equívocos do serviço é este: "se - com o serviço - se cria mais autonomia ou se agrava a dependência; se - com o serviço - as pessoas são libertadas ou se amarram ainda mais".» Dilemas graves que, mesmo no interior da igreja, só encontram resposta na praxis. Para encontrar uma saída, FP joga, então, com o «complexo dos afectos»: «amar as pessoas tal como elas são; confiar nelas e apreciar os seus valores; respeitar a sua liberdade, a sua palavra, as suas iniciativas, a sua história e a sua capacidade de mudança; servi-las e trabalhar a seu lado». Curiosas normas que a própria Igreja Católica, como organização política, é a primeira a não respeitar. Mas o P. F. Pinto bem sabia que a questão social lhe começava a fugir para as áreas da abstracção teológica. Corrigiu o tiro e regressou aos três sentidos estratégicos concretos da acção sócio-caritativa da igreja: o trabalho assistencial e o Evangelho (fundamentação ideológica); o problema do método de acção (crítica pragmática); e a caracterização de casos exemplares da acção sócio-caritativa no terreno experimental (fixação de referências na memória).
A questão da orientação ideológica é tratada no primeiro capítulo. A igreja faz, à sua maneira, a leitura da situação económico-social nos tempos de Jesus Cristo. Depois, mecanicamente, transporta a sua interpretação para os quadros actuais da sociedade. «A situação económico-social, no tempo de Jesus Cristo era difícil... JC privilegiou sempre os pobres... Nasceu e morreu pobre, curou os doentes, recebeu os marginais e os pecadores, foi sensível à fome da multidão e preocupou-se com os problemas das minorias... Os lugares que frequentou eram lugares dos pobres... Denunciou os ricos e os poderosos... A sua defesa perante o tribunal teve traços políticos, sociais e religiosos... Assumiu a sua missão: dar vista aos cegos, a Boa-Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a liberdade aos cativos, a alegria aos que sofrem... Porém, ultrapassou sempre o simples problema material e apontou para valores universais...»
Era esta a melhor altura para dar a volta aos aspectos sociológicos. FP não deixou fugir a oportunidade e conclui: «Cristo revela a permanente preocupação pela felicidade das pessoas: Felizes, mesmo que tenham fome!»
Continuaremos com o p. Feytor Pinto. Ele ensina a ler correctamente muito daquilo do que agora acontece.