- Nº 1561 (2003/10/30)

CONTRA A POLÍTICA DE DIREITA

Editorial

A cada dia que passa, a luta contra a ocupação do Iraque ganha novos adeptos em todo o Mundo; igualmente, a cada dia que passa, cresce a resistência do povo iraquiano ao ocupante imperialista - e há nestas duas realidades uma complementaridade que importa sublinhar e valorizar. Na verdade, da mesma forma que a intensificação da luta contra a ocupação dá força à resistência do povo iraquiano, também essa resistência, persistente e crescente, incentiva e estimula a participação das massas na luta pela paz e contra a ocupação. Essas duas componentes da luta estiveram em evidência no passado fim de semana através, por um lado, das manifestações e concentrações realizadas em vários países, entre os quais Portugal – e com particular destaque para os Estados Unidos da América, onde os protestos assumiram expressão relevante; por outro lado, através do ataque contra o protegidíssimo Hotel Al-Rashid, em Bagdade, onde se encontrava instalado o «número dois» do Pentágono, Paul Wolfowitz
Apesar da intensa campanha de mistificação e desinformação promovida pelas centrais de propaganda imperialistas, são cada vez mais os homens, mulheres e jovens que ganham consciência das verdadeiras motivações que estiveram na origem da ocupação do Iraque pelos EUA e pela Grã-Bretanha. É, hoje, claro para a imensa maioria das pessoas, em todo o Mundo – inclusive nos EUA e na Grã-Bretanha - que as alegadas preocupações de Bush e de Blair com a ditadura de Saddam Hussein e com as armas de destruição maciça de que este disporia, não só eram falsas e hipócritas como não passavam de pretextos para legitimar a invasão e ocupação do Iraque e para a subsequente apropriação das imensas riquezas petrolíferas ali existentes. Também o argumento da guerra ao terrorismo tende a ser visto pela generalidade das pessoas como aquilo que, de facto, é: um instrumento essencialmente ao serviço dos objectivos expansionistas e de domínio do Mundo por parte do imperialismo norte-americano.

A resistência do povo iraquiano à ocupação da sua pátria parece ter surpreendido os ocupantes e, naturalmente, os seus propagandistas encartados. As previsões do Presidente Bush e dos seus assessores civis e militares - intensa e amplamente difundidas pelos seus porta-vozes na comunicação social dominante – revelaram-se totalmente desenquadradas da realidade: em vez dos aplausos, das aclamações, dos agradecimentos do povo iraquiano, os libertadores, têm vindo a confrontar-se com uma resistência tenaz, com uma disposição de luta que tem logrado compensar a enorme desproporção de forças dos intervenientes. O exército de mais de cento e cinquenta mil ocupantes, utilizando as mais modernas e sofisticadas armas, dispondo dos mais poderosos meios de intervenção, não conseguiu vergar a resistência do povo. Multiplicam-se as notícias sobre o medo que invade os representantes militares do mais poderoso país do Mundo e os obriga a entrincheirar-se em abrigos super protegidos. A figura e as palavras de Paul Wolfowitz – visivelmente apavorado, descomposto e debitando atabalhoadamente o discurso da democracia e do terrorismo – na sequência do ataque ao Hotel Al- Rashid (que, sublinhe-se, é um dos locais mais protegidos de Bagdade, precisamente por ser alojamento das mais importantes personalidades norte-americanas), é por demais elucidativa da dimensão e da quantidade dos obstáculos que se deparam aos ocupantes. E é significativo que o secretário de Estado Collin Powel tenha sido forçado a vir pedir ajuda a outros países e a reconhecer publicamente que os Estados Unidos da América não esperavam tanta e tão longa resistência.

Por tudo isto, as concentrações e manifestações de sábado passado adquirem uma importância e um significado particulares. Elas foram um novo ponto de partida para a luta em cada um dos países onde se realizaram e evidenciaram claras potencialidades de continuidade, indiciando que é possível repetir as impressionantes manifestações do início do ano – contra a guerra, pela paz, contra a ocupação do Iraque.
E, porque a luta pela paz é uma vertente da luta de classes, esta luta assume, naturalmente, um carácter anti-imperialista e, no caso concreto do nosso País, um carácter de frontal combate à política de direita praticada pelo Governo Barroso/Portas. Não é obra do acaso, aliás, o envolvimento deste Governo nesta guerra: a política de total subserviência aos ditames e aos interesses do imperialismo norte-americano e dos grandes e poderosos da União Europeia; a repetição, pelo Primeiro Ministro Durão Barroso, da mentira sobre as armas de destruição maciça, numa exibição de total desrespeito pelos portugueses; a decisão de enviar para o Iraque um contingente da GNR; enfim, a adopção pelo Governo PSD/CDS-PP de uma postura que envergonha Portugal e os portugueses e fere a soberania nacional, são, em matéria de política externa, o complemento da política que, no plano interno, se caracteriza pelo favorecimento absoluto dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e pelo ataque ao regime democrático e aos direitos e interesses dos trabalhadores e da imensa maioria do povo. Não foi igualmente obra do acaso o facto de, na concentração do Largo do Camões, terem soado alto os protestos contra o pacote laboral, contra o desemprego, contra o aumento das propinas, contra a política de direita.
Nem é obra do acaso dizermos que a luta continua. Hoje mesmo, na jornada nacional promovida pela CGTP.