
- Nº 1554 (2003/09/11)
XIII Bienal de artes plásticas
Festa do Avante!
As artes plásticas estão sempre por toda a parte na Festa do Avante. Não é preciso procurá-las, basta passar as portas da Atalaia e logo as formas e as cores, os volumes e as superfícies nos convidam, nem sequer os lugares «reservados» a actividades mais caracterizadas escapam ao ordenamento e ao artefacto, à arrumação dos espaços, à concepção e à técnica de os mostrar. Mas há lugar cativo para as artes plásticas na sua especificidade. De dois em dois anos - embora não recordemos edição em que a pintura, a escultura, a fotografia, a arquitectura não haja encontrado local de exprimir-se - vamos ao encontro de uma Bienal. Desta vez foi a XIII.
Sempre de algum modo ligada espacialmente ao Pavilhão Central, este ano essa ligação era mais forte e mais sequencial. De facto, as artes plásticas ficavam como que no desaguar do pavilhão, onde todos os visitantes iam dar, um convite assim mais forte à apreciação das centenas de obras ali expostas, apesar de, na sua arrumação e iluminação, o lugar, que ora se recolhia em recantos ora se abria à luz do dia ou às luzes da Festa, possuía um recolhimento apropriado ao diálogo mudo que o artista - ali muitas vezes ausente - estabelece com o espectador.
Para além das obras em si - e pudemos demoradamente apreciar a pintura e a escultura, a fotografia e a arquitectura e algumas poucas «instalações» - é o espectáculo desse diálogo silencioso que mais nos apraz registar. A visita, seja a que hora for, era feita com o vagar do gosto, as vozes moderadas nas trocas de impressões com as eventuais companhias dessa peregrinação por entre os quadros, a averiguação da arte, passando pelo diapasão de emoções e de entendimentos era um percurso lento e interessado, mesmo se o esforço dos menos afoitos a exposições se podia notar aqui e ali nas expressões dos visitantes.
Com a participação de centenas de obras, esta Bienal mais uma vez propôs a todos o usufruir de uma exposição onde, a par de nomes conhecidos, se podiam encontrar os talentos de novos artistas e as artes de participantes que não fazem profissão disso. Só um olhar perito o diria, porém. E os olhares de milhares de visitantes eram os de quem raramente é solicitado a demorar-se perante a arte enquanto tal. Com os passos silenciosos vencendo os corredores alcatifados, foi um percurso que valeu a pena.