- Nº 1554 (2003/09/11)

Portugal em poucas horas

Festa do Avante!

A viagem continua pelo País comunista da Atalaia, que se percorre em poucas horas. Saindo das «regiões» maiores e visitando as mais pequenas, é difícil resistir à variedade das vivências e tradições, dos atrasos e das lutas para os superar. No espaço de Aveiro, lembra-se as lutas dos operários do calçado de 1943, ao mesmo tempo que se recorda o drama vivido actualmente pelos trabalhadores deste e de outros sectores, a braços com o desemprego e a precariedade. Tendo como base o Avante!, e uma reportagem sobre o distrito, denunciava-se a situação actual e destacava-se a luta constante do PCP em prol dos direitos dos trabalhadores e das populações da região. A exposição, a todo o comprimento do espaço, não deixava indiferente nenhum dos muitos visitantes que ali se deslocaram para encomendar os célebres e deliciosos ovos moles.
Outra região que se depara com um desemprego elevado – no País real, pois no Portugal da Atalaia trabalho é o que nunca faltou – é Braga. Terra de procissões e «berço da nação», em Braga, e no seu espaço na Festa, o vinho e a gastronomia são rei e rainha, a julgar pelas enormes romagens que desde muito cedo se dirigiam ao restaurante. O destaque da exposição é dado à Festa da Alegria, que decorreu em Julho, e que constituiu uma enorme realização dos comunistas de Braga e do Norte em geral. «A festa continua» foi a promessa deixada.
No Algarve, curiosamente situado no ponto mais alto da Festa – a seguir à bandeira vermelha, claro – era constante a animação. Em torno de um pratinho de marisco, eram muitos os que por ali passavam e por ali ficavam. Denunciados foram os problemas do «outro» Algarve, já não o da Atalaia mas o real, marcado pela destruição de alguns dos seus sectores económicos tradicionais, como a cortiça, as conservas ou a pesca. A hotelaria é de qualidade – os algarvios sabem receber, como se sente na Atalaia –, mas os trabalhadores são mal pagos e vêem os seus direitos espezinhados.

Fogos e cantorias

Os incêndios ocupavam lugar de destaque do espaço de Santarém. «Ordenamento da floresta: uma exigência nacional» era palavra de ordem. Expostos estavam fragmentos da história e da vida das populações do distrito: para além dos muito apreciados – e amplamente consumidos – vinhos e enchidos, as alfaias agrícolas e outros instrumentos de trabalho faziam parte da decoração. A intervenção diversificada do PCP no distrito e a evocação da figura do campino – com um poema de Ary dos Santos – eram outras marcas «decorativas».
As propostas e iniciativas do PCP para o desenvolvimento do interior do País assumiam o papel principal da exposição no espaço de Castelo Branco e Guarda. Lembrando que arderam nestes dois distritos 90 mil hectares de floresta, os comunistas beirões acusam o Governo, e não o clima, pelo sucedido e retomam as propostas do PCP para proteger o que falta e reflorestar a área ardida. Enquanto saboreavam uma fatia de presunto ou um queijo da serra, os visitantes podiam mirar o Zêzere, não ao vivo, claro, mas em fantásticas fotografias de Diamantino Gonçalves e Balarmino Lopes.
Em Coimbra, a recordação da localidade romana de Conímbriga marcava a decoração deste espaço, um dos preferidos pelos mais boémios, que aqui permaneceram noite fora, cantando fados e baladas, acompanhados, não à guitarra e viola, mas com excelentes vinhos e queijos. A luta das populações contra a instalação de um aterro no Baixo Mondego e pela construção do hospital pediátrico apareciam em destaque na exposição, lado a lado com testemunhos da actividade do PCP na luta contra a privatização da água e pela conclusão de importantes obras para a região.
Em Viana do Castelo, situada em local nobre, junto à entrada da Quinta da Princesa e ao lado da Cidade Internacional – onde o País da Atalaia se transforma em mundo –, a cultura esteve em destaque: bordados, louças e o inevitável vinho verde eram os produtos preferidos. A intervenção do Partido em torno de problemas locais era o tema de destaque na exposição política.
As obras em vidro da Marinha Grande voltaram a ser um dos motivos de maior procura no espaço de Leiria. Mas a sardinha assada de Peniche também convenceu muita gente a ficar por Leiria, onde a exposição abordava as lutas dos vidreiros e o encerramento da Eurovela, nas Caldas da Rainha. A VI Assembleia de Organização Regional de Leiria do PCP e as suas principais conclusões estavam também retratadas com o destaque que merece uma iniciativa desta natureza e dimensão.