- Nº 1554 (2003/09/11)

A Festa do Livro

Festa do Avante!
Instalada num vasto espaço no topo do terreno, a «Festa do Livro» foi um sucesso verdadeiramente espectacular, com milhares de visitantes permanentemente a percorrer, compulsar, adquirir (sempre a preços mais baixos que os do mercado) ou, simplesmente espreitar os também milhares de títulos que os aguardavam.

Num auditório adjacente sucediam-se os lançamentos de novos títulos, às vezes com a presença dos autores, enquanto as sessões de autógrafos também se realizavam com regularidade.
Havia momentos que chegava a ser difícil circular no vasto recinto, tal era a multidão que deambulava vagarosamente pelo enorme dédalo onde descansavam milhares de livros, espreitando, reluzentes, nos escaparates, num convite quase irresistível para um breve compulsar de páginas.
É impossível dar nota da variedade e abundância de títulos expostos, mas importa sublinhar que estavam presentes não apenas as grandes editoras nacionais, como estava patente ao público um amplo leque de opções no que toca a géneros, ora literários e de ficção, ora científicos ou especializados, mas também para crianças, jovens ou estudantes.

Os lançamentos

Em todos os dias da Festa houve lançamentos de livros (e até de um CD de poemas), em sessões sempre concorridas e, quase na generalidade, com a presença dos autores.
A sexta-feira (quando a Festa abriu ao fim do dia) foi dedicada ao lançamento do livro A Flor da Utopia, de Urbano Tavares Rodrigues e à inauguração da exposição sobre a sua vida literária, que contou com a presença do autor.
O sábado foi o dia forte das apresentações, tendo-se realizado nem mais nem menos que sete. A primeira, foi por sinal um CD de poemas ditos por José Morais e Castro, seguindo-se três livros que abordaremos com maior detalhe mais à frente: Ary dos Santos O Homem, O Poeta, O Publicitário, de Alberto Bemfeita, Fidel Uma Biografia, de Claudia Furiarti, e Soma Pouca<, de Carlos Aboim Inglez.
Seguiu-se, ainda no sábado, os lançamentos de As Duas Vozes, de Arnaldo Mesquita, de Em Maio Há as Cerejas, de Odete Santos e No Mar Não Há Árvores, de Ilda Figueiredo.
No domingo foi lançada a colecção Contra o Esquecimento, de Viale Moutinho, e o livro Bossy, de Luísa Monteiro.

Ary, Fidel e Aboím

«O Zé Carlos é uma figura maior da nossa cultura e é o poeta da Revolução de Abril», começou por dizer José Casanova, da Comissão Política do CC do PCP, na apresentação do livro Ary dos Santos O Homem, O Poeta, O Publicitário, da autoria de Alberto Bemfeita, também publicitário e companheiro de trabalho de Ary durante muitos anos na mesma agência publicitária. Mas também «um poeta militante», pois utilizou igualmente a poesia como arma política ao serviço da luta do PCP, de quem era militante. José Casanova lembrou alguns desses poemas escritos a pedido por Ary, de que destacou o célebre «A Bandeira Comunista», composto na sequência do assalto e destruição do Centro de Trabalho do PCP em Braga a 14 de Agosto de 1975. «O Ary era este vulcão, este talento espantoso, esta sensibilidade para se aperceber das grandes questões políticas» e pô-las em poema que toda a gente entende e canta, acrescentou ainda José Casanova, assinalando igualmente a homenagem feita a Ary por toda a Festa do Avante! deste ano.
O embaixador cubano em Portugal, Reinaldo Calviac, apresentou a obra em dois volumes Fidel Uma Biografia, da autoria da jornalista brasileira Claudia Furiati, assinalando que era a primeira vez que surgia uma obra abordando a vida de Fidel Castro desde a sua infância até aos dias de hoje, recordando que Fidel sempre cortou o passo ao «culto da personalidade» (não há uma única estátua sua em Cuba) e realçando que esta obra, longe de ser apologética, mostra com honestidade e rigor a trajectória de Fidel e o seu papel fundamental nos difíceis 44 anos da defesa da revolução cubana e da luta contra o criminoso bloqueio norte-americano.
Finalmente, Manuel Gusmão fez a apresentação de Soma Pouca, «um título belíssimo», como afirmou, reunindo poemas escritos por Carlos Aboim Inglez e agora publicados postumamente. Um homem que escrevia para si mesmo mas também para os outros, de uma forma dialéctica e marxista. Um homem «que só se concedia tempo para escrever quando lhe sobrava tempo» - sobretudo no tempo da prisão onde, por outro lado, lhe roubavam a vida...
Mais adiante Manuel Gusmão assinalou que, nos belos poemas de Aboim Inglez, «há uma dimensão na poesia que é oficina e outra que é invenção», o que explicará a epígrafe que este faz a Sá de Miranda, segundo Manuel Gusmão um poeta admirado por Aboim, que se fascinava de encontrar neste clássico português «por um lado o encanto de uma voz satírica e, por outro, um poeta que dava um imenso valor ao trabalho da língua». Finalmente, referiu que Aboim «pertence a uma geração que foi animada por um projecto», com «homens que tentaram unir as suas várias paixões e convicções». E isso também está bem patente na sua poesia em Soma Pouca.