Portugal é pela paz, não pela guerra!
Ao Parlamento têm chegado os ecos de indignação e protesto pelo comportamento subserviente do Governo em relação à administração Bush. Foi assim na semana transacta e foi-o ontem no debate das moções de censura com que os partidos da oposição quiseram materializar a expressão institucional dessa vaga de repúdio popular.
«A credibilidade e a voz respeitada de Portugal no Mundo é a voz da Paz e não o Portugal da lógica da guerra e do seguidismo», afirmou o Secretário-Geral do PCP no debate realizado ainda antes do início oficial da agressão militar contra o Iraque.
Vivas estavam ainda as imagens da Cimeira dos Açores - «Cimeira da Guerra», como foi chamada -, conclave que no entender de Carlos Carvalhas associou o nosso País a «uma guerra unilateral, contrária à Carta das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança».
Durão Barroso reiterara no início do debate as posições assumidas na cimeira das Lajes, em que se juntou a Bush, Blair e Aznar, considerando serem aquelas factores de segurança e credibilidade do País.
«Triste papel para o Portugal de Abril, para o Portugal que afirma no artigo 7.º da Constituição que se rege nas relações internacionais pela solução pacífica dos conflitos internacionais e pela não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados», sublinhou o dirigente comunista, antes de acusar Durão Barroso de agir sem levar em conta as posições do Presidente da República.
Sem a resposta de Carvalhas não ficou também a afirmação do Primeiro-Ministro de não neutralidade entre a democracia e a ditadura e de que, em caso de conflito, Portugal estará sempre ao lado dos Estados Unidos.
«É um sofisma», desmontou o líder comunista, frisando que o Governo não opta pela democracia contra a ditadura». «O Governo opta, sim – acrescentou - , por uma guerra dita preventiva, unilateral, contra a Carta das Nações Unidas e a vontade do Conselho de Segurança; opta pela guerra contra a paz; opta pela chacina de inocentes contra a saída diplomática».
Ainda na passada semana, no próprio dia em que sobre Bagdad começaram a cair as bombas, voltaram a fazer-se ouvir as criticas à posição do Governo na questão iraquiana.
Atacando duramente a postura do PSD, CDS-PP e Governo, numa intervenção antes da ordem do dia, o presidente da bancada comunista, Bernardino Soares, considerou «chocante que aqueles que sempre seguem a doutrina da Igreja Católica façam agora letra morta das palavras do papa Joäo Paulo II numa questão tão importante como a da guerra e da paz».
O líder parlamentar do PCP chamou ainda a atenção para os ensinamentos da intervenção militar contra o Iraque em 1991, os quais, advertiu, evidenciam «os erros do recurso à guerra» para combater o regime de Saddam Hussein. «O exemplo da guerra de 1991 demonstrou que quem sofreu com a acção militar foi o povo iraquiano e não o ditador Saddam Hussein», concluiu Bernardino Soares, antes de acusar os partidos da maioria de ««só começaram a ser contra Saddam a partir do momento em que ele deixou de ser conveniente para os Estados Unidos».
Censura ao Governo
A «guerra contra o Iraque, dita "preventiva", é ilegítima e visa antes de mais a satisfação de interesses estratégicos da Administração Bush quanto ao controlo de importantes reservas petrolíferas e a imposição do domínio dos EUA no Médio Oriente», afirma-se na moção de censura apresentada pelo PCP que, tal como as subscritas pelo PS, «Os Verdes» e BE, em textos autónomos, esteve ontem em debate no Parlamento.
Nos seus considerandos, a moção de censura ao Governo da autoria do PCP releva o facto de, «apesar de todas as pressões sobre os seus membros», o Conselho de Segurança ter sabido «manter uma atitude digna e responsável, ao não aceitar a resolução para a guerra proposta pelos EUA, pelo Reino Unido e pela Espanha».
Sublinhada é também a preocupação quanto ao agravamento da instabilidade na situação internacional em resultado da guerra, bem como da situação no Médio Oriente, «em especial no que se refere ao conflito israelo-palestiniano», considerando os autores da moção que esta guerra «será factor, ela própria, do fomento de novas acções terroristas».
Criticada é ainda a atitude do Governo de «alinhamento incondicional com a política belicista de Bush», o que «contraria os sentimentos do povo português» e é encarado como um factor de desprestígio de Portugal na cena internacional».