A força do colectivo

No co­lec­tivo re­side uma das fontes de força es­sen­ciais do PCP

Mais de uma de­zena de As­sem­bleias de Or­ga­ni­zação, mais de três de­zenas de ple­ná­rios, vá­rias de­zenas de ou­tras reu­niões: eis o que foi o úl­timo fim de se­mana do PCP, em termos de de­bate, troca de opi­niões, pro­cura de res­postas para os pro­blemas exis­tentes, apro­fun­da­mento do fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico par­ti­dário. Nas As­sem­bleias de Or­ga­ni­zação pro­cedeu-se, co­lec­ti­va­mente, ao ba­lanço do tra­balho re­a­li­zado, de­fi­niram-se ori­en­ta­ções de tra­balho para o fu­turo, ele­geram-se or­ga­nismos de di­recção, de­bateu-se a si­tu­ação po­lí­tica na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal. Nos ple­ná­rios, dis­cutiu-se co­lec­ti­va­mente um leque di­ver­si­fi­cado de temas, desde o ter­ro­rista e anti-de­mo­crá­tico pa­cote la­boral até ao imi­nente (e igual­mente ter­ro­rista e anti-de­mo­crá­tico) bom­bar­de­a­mento do Iraque, pas­sando pelos múl­ti­plos pro­blemas que a po­lí­tica de di­reita co­loca à imensa mai­oria dos por­tu­gueses. Nas reu­niões – in­te­gradas no normal e co­lec­tivo fun­ci­o­na­mento do Par­tido – dis­cu­tiram-se, cer­ta­mente, os mais di­versos temas, desde o tra­balho de di­recção às ques­tões de or­ga­ni­zação, às formas de levar à prá­tica as ori­en­ta­ções de­ci­didas co­lec­ti­va­mente, às ini­ci­a­tivas em curso e a con­cre­tizar, enfim, a tudo o que cada co­lec­tivo en­tendeu dis­cutir.

Só neste con­junto de As­sem­bleias e ple­ná­rios par­ti­ci­param – su­blinhe-se – largas cen­tenas de mi­li­tantes co­mu­nistas! E, para quem pense que se tratou de um fim de se­mana ex­cep­ci­onal, es­cla­reça-se que os fins de se­mana an­te­ri­ores ha­viam sido mais ou menos assim e os pró­ximos não an­darão longe disso, visto que tal prá­tica faz parte do normal fun­ci­o­na­mento do PCP – fun­ci­o­na­mento que, porque par­ti­ci­pado como em ne­nhum outro par­tido, se re­veste de um con­teúdo de­mo­crá­tico in­com­pa­rável ao de qual­quer outro par­tido.

Não se in­fira daqui que pen­samos ter atin­gido o es­calão má­ximo nesta ou em qual­quer outra ma­téria re­la­ci­o­nada com o fun­ci­o­na­mento do PCP. Não. Por isso é nossa pre­o­cu­pação cons­tante o apro­fun­da­mento da de­mo­cracia in­terna do Par­tido. Pri­vi­le­gi­ando a par­ti­ci­pação, como é o nosso es­tilo – que é o nosso porque é o que jul­gamos mais de­mo­crá­tico. No en­tanto, se al­guém co­nhecer um outro mais de­mo­crá­tico que nos diga em que par­tido é que ele mora e que nos de­monstre que assim é.

É claro que a co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante – cum­prindo exem­plar­mente a sua ta­refa de si­len­ciar e (ou) de­ne­grir e fal­si­ficar a vida e a ac­ti­vi­dade do PCP – passa pela re­a­li­dade acima des­crita como cão por vinha vin­di­mada. Ne­nhum órgão de in­for­mação – o su­bli­nhado impõe-se, no­va­mente - deu ou dará nota dessa in­tensa in­ter­venção e par­ti­ci­pação dos mi­li­tantes co­mu­nistas na vida do seu par­tido. O pleno cum­pri­mento das ta­refas desses media em re­lação ao PCP impõe-lhes que, com frequência, em vez de in­formar, de­sin­formem, em vez de dizer a ver­dade, mintam. E eles assim fazem – ao mesmo tempo que aplaudem cada gesto, cada pa­lavra, cada sus­piro, de qual­quer dos cha­mados «re­no­va­dores» (seus aju­dantes pre­ci­osos e ines­ti­má­veis no ataque ao PCP e na ten­ta­tiva de o li­quidar ou de, pelo menos, o en­fra­quecer).

Dizer a ver­dade sobre o PCP e as suas prá­ticas de fun­ci­o­na­mento in­terno é coisa pe­ri­gosa, na me­dida em que é sus­cep­tível de es­ti­mular os lei­tores, ou­vintes e te­les­pec­ta­dores a fazer com­pa­ra­ções... Ima­ginem-se as pos­sí­veis con­sequên­cias da cons­ta­tação, por parte dos con­su­mi­dores nor­mais de co­mu­ni­cação so­cial, de que, no plano par­ti­dário, ao con­trário do que todos os dias lhes é dito, par­ti­ci­pação mi­li­tante e de­bate am­plos e co­lec­tivos, são prá­ticas ex­clu­sivas (mais um su­bli­nhado) do PCP; ima­gine-se o que pen­sa­riam esses con­su­mi­dores se vi­essem a des­co­brir que, ao invés do que lhes tem sido dito, a in­ter­venção mas­siva, co­lec­tiva, dos mi­li­tantes na de­fi­nição das ori­en­ta­ções par­ti­dá­rias é coisa só exis­tente (vale a pena su­blinhá-lo) no PCP... E se fosse dita a ver­dade sobre o fun­ci­o­na­mento de cada par­tido e, de­pois, se pro­ce­desse à com­pa­ração dos con­teúdos de­mo­crá­ticos do fun­ci­o­na­mento in­terno de cada um deles, como po­de­riam as di­rec­ções do PS e do PSD, por exemplo, in­vocar a de­mo­cracia para jus­ti­ficar uma lei dos par­tidos que mais pa­rece filha da de­funta União Na­ci­onal?

Anote-se ainda – e su­blinhe-se - uma im­por­tante e exem­plar ini­ci­a­tiva le­vada a cabo pelo PCP no pas­sado fim de se­mana: o 2º Se­mi­nário Na­ci­onal sobre a Festa do Avante!, no qual par­ti­ci­param cerca de tre­zentos mi­li­tantes co­mu­nistas - im­por­tante, porque se tratou de um amplo de­bate pro­cu­rando os ca­mi­nhos e so­lu­ções sus­cep­tí­veis de con­duzir a uma Festa do Avante! cada vez me­lhor e mais bo­nita; exem­plar, porque este Se­mi­nário é uma ex­pressão con­creta de es­tí­mulo e apelo à opi­nião de cada um para cons­truir a opi­nião de todos; do papel de­ci­sivo e de­ter­mi­nante do tra­balho co­lec­tivo, enfim, de fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico in­terno.

Da Festa do Avante! pode dizer-se, di­zendo uma ver­dade in­con­tes­tável e (pelo menos até ver...) in­con­tes­tada, que ela cons­titui - desde a sua pri­meira edição na an­tiga FIL até hoje - uma obra co­lec­tiva ímpar. Só com um in­tenso tra­balho co­lec­tivo foi pos­sível (é pos­sível) er­guer uma obra com a di­mensão e a im­por­tância da Festa do Avante! – uma obra que mor­reria se al­guma vez fosse en­tregue ao in­di­vi­du­a­lismo deste ou da­quele génio, desta ou da­quela es­trela, deste ou da­quele in­subs­ti­tuível. Na ver­dade, cada uma das 26 edi­ções da Festa do Avante! teria sido cons­truída na mesma se um ou outro dos seus cons­tru­tores nela não ti­vesse par­ti­ci­pado; mas não teria ha­vido Festa do Avante! sem a exis­tência e a in­ter­venção do co­lec­tivo par­ti­dário. Nessa di­fe­rença entre o co­lec­tivo e o que não o é, re­side uma das fontes de força es­sen­ciais do PCP.