A super derrota do SPD
O SPD sofreu uma estrondosa derrota nas eleições regionais de domingo em Hessen e na Baixa-Saxónia. Schröeder assumiu a derrota, mas não se demite.
«Foi uma das mais amargas derrotas da minha vida política», admitiu o chanceler, depois de o seu partido perder a Baixa-Saxónia, a sua região natal, para os democratas-cristãos, que conquistaram ainda a maioria absoluta em Hessen com quase o dobro dos votos do SPD.
Segundo a Lusa, o chanceler anunciou ainda que a coligação SPD/Verdes irá «prosseguir e reforçar» a política de reformas, nomeadamente no domínio da saúde, do mercado de trabalho e das pensões de reforma, embora reconhecendo que isso só será possível com acordos pontuais com os democratas-cristãos, que após o triunfo em Hessen e na Baixa-saxónia passaram ter a maioria absoluta no Conselho Federal, a segunda câmara legislativa do país, formada por representantes das regiões federadas.
Schröeder atribuiu a dupla derrota eleitoral à dificuldade de explicar a alegada necessidade de proceder a reformas do sistema social alemão, no contexto europeu e mundial.
De facto, os resultados das eleições regionais do último fim-de-semana na Alemanha, além de confirmarem que o povo alemão continua a fugir das urnas como o diabo da cruz, trouxeram mais duas derrotas históricas para a social-democracia, que obteve naqueles dois estados os seus piores resultados desde a fundação da Alemanha Federal.
A enorme abstenção provocou o afastamento das urnas de mais de um terço dos eleitores inscritos, na sua maioria trabalhadores e desempregados, e fez cair o SPD no Hessen de 47,9 para 33,6 por cento, e na Baixa-Saxónia de 39,4 para 29 por cento.
Num país em que mais de 70 por cento da população e em todos os partidos políticos já se verifica uma forte oposição à agressão que os Estados Unidos preparam contra o Iraque, o SPD não pôde, desta vez, beneficiar da promessa de não participação da Alemanha na guerra, como acontecera em Setembro nas eleições federais. Aliás, o poderoso movimento pacifista e anti-imperialista, que já se estende aos sindicatos e às igrejas, não acredita na sinceridade de um chanceler que, ainda não há muito tempo, foi um dos maiores instigadores da agressão contra a Jugoslávia e que subitamente pretende apresentar-se como um anjo da paz.
Política de desastre social
A super derrota do SPD deve-se ao acentuar da política de desastre social, particularmente após a última remodelação ministerial com a entrada para o governo dos chamados «super ministros», como Wolfgang Clement, e de uma chusma de «modernizadores» e «reformadores», imediatamente traduzida na liquidação do Ministério do Trabalho e na apresentação de um catálogo de horrores contra os trabalhadores e os desempregados.
O ex-ministro-presidente da Renânia do Norte - Vestefália e actual ministro da Economia, Clement, um homem vendido de alma e coração ao grande capital, decidiu «liberalizar» a lei dos despedimentos com o pretexto de que assim se diminuiria o desemprego. Quer dizer que a possibilidade de mais facilmente se despedir, isto é, de aumentar o número dos desempregados, cria mais postos de trabalho. Ninguém percebe a «super lógica» deste «super ministro» que, recebido no 1º de Maio por um estrondoso concerto de assobios ao tentar dirigir-se aos trabalhadores da Opel em Bochum, mostrou, já então, claramente ao SPD qual o caminho que conduziria a mais uma super derrota da social-democracia.
As duas guerras
contra os trabalhadores
A Siemens, um dos pilares do imperialismo alemão, acaba de demonstrar como a desastrosa política hoje conduzida pelo SPD em nome da «estagnação» e da «crise» só serve para produzir «super lucros».
24 000 postos de trabalho foram destruídos o ano passado por aquele grupo monopolista. Os lucros aumentaram 24 por cento, isto é, 2,5 mil milhões de euros. Foi o segundo maior resultado da história da Siemens. Os grandes bancos e os grandes accionistas esfregam as mãos de contentes. O prémio que os membros do conselho de administração vão receber pela liquidação da base material da existência de milhares de famílias condenadas à miséria e ao desemprego é um aumento de remuneração de 5,6 milhões de euros. No total, as remunerações dos administradores da Siemens, que pregam diariamente a necessidade da contenção salarial, passa de 13,4 para 18,5 milhões de euros, isto é, um aumento de 43,4 por cento.
Além da guerra do Iraque, o capital conduz pois mais uma segunda guerra contra os trabalhadores. É por isso que a lista das crueldades da social-democracia não tem fim. Sob a capa de «reformar» sucedem-se diariamente os ataques aos sistemas de saúde e às carreiras dos funcionários públicos. Os assalariados receberam no final de Janeiro menos dinheiro do que no ano anterior, apesar do valor bruto dos salários ter aumentado. Eis o resultado de uma política de impostos que penaliza quem vive do trabalho e possui menos rendimentos.
O recente regresso triunfal de Oskar Lafontaine, opositor à política de Schröder, no congresso da federação do SPD de Saarbrücken, poderá significar que as contradições no seio da social-democracia estão a atingir o ponto de rotura. O impressionante movimento da paz e as lutas que os trabalhadores têm travado nos últimos tempos na Alemanha são a prova de uma crescente tomada de consciência popular da necessidade de intensificar a resistência contra as duas guerras do capital.