Lisboa

Uma cidade esburacada

Uma simples iniciativa do PCP na CML de recolha de telefonemas e «e-mails» no sentido de recensear os buracos nas ruas da Cidade colheu efeitos de sucesso. Centenas de cidadãos de todos os bairros acorreram de imediato a essas linhas de comunicação e colocaram as suas questões. Muitas centenas de pessoas. A tentarem ser ouvidas. Também sobre muitas outras questões que os afligem no seu dia-a-dia.

É que a Câmara real está paralisada, o espaço público abandonado. Mas quem só vê televisão não acredita. Parece, a quem só oiça as palavras encantatórias de Santana Lopes, que tudo vai no melhor dos mundos.

Mas não. É que, de facto, os serviços estão parados. Muitos funcionários, sem trabalho, deitam as mãos à cabeça e não sabem mais como ocupar os seus dias. Muitos departamentos só funcionam no gabinete dos directores e arredores. Num segundo círculo já ninguém tem orientações, ninguém sabe o que fazer. Os processos acumulam-se. Esta é a realidade. Tudo o resto é ficção.

 

Um minuto de televisão

 

Surpreendentemente, os lisboetas reagiram num ápice à notícia de um minuto na televisão: o telefone SOS Buracos não mais parou. O que não seria com as horas e horas de televisão que Santana Lopes tem por semana! Mas as pessoas não falaram só de betuminoso e de calçada. Não. Falaram de tudo o que as aflige. E são muitas as situações que afligem Lisboa neste momento.

Telefonemas e queixas de todo o tipo, numa só semana. Após um único e modesto minutozinho de televisão. A Cidade parece uma panela de pressão. A Cidade está mal. Sente-se mal.

Numa segunda fase, já em Fevereiro, os mesmos canais vão servir para as questões da iluminação, essenciais para manter uma cidade em segurança. São aos milhares as lâmpadas fundidas e os candeeiros inoperacionais por toda a cidade. Depois, outras iniciativas similares vão seguir-se.

Tudo porque, durante todo ao ano de 2002, Santana Lopes e a sua equipa não tiveram a sensibilidade de perceber que uma cidade sem manutenção permanente é uma cidade em degradação e que a vida real das pessoas não vive de parangonas nos jornais a prometer cenouras e mais cenouras, em passada cada vez mais larga, a prometer coisas lá mais para a frente. A vida real das pessoas está hoje, aqui, nesta rua, neste bairro, neste mercado. Não percebem. Não sabem que só podem enganar muitos por algum tempo, mas não podem enganar todos por todo o tempo…

 

Campanha eleitoral «non-stop»

 

E tudo isso foi acontecer logo nos mesmos dias em que, com polícias à frente, o arquitecto americano dos milhões era levado em ombros para mais uma das ideias faraónicas dos actuais responsáveis da Praça do Município…

Santana Lopes não teve ainda tempo de concretizar nem a décima parte do que prometera que faria logo a abrir o mandato. e continua em campanha eleitoral ‘non-stop’, numa lógica de ir mostrando sempre mais cenouras lá mais adiante, sem se dar conta de que já passou um ano após as eleições e as pessoas esperariam agora que começasse a trabalhar de facto.

Os buracos não são tapados. Mas fervem dia a dia ideias mirabolantes. Ora a Carris e o Metro hão-de vir para a propriedade municipal. Ora as laterais da Avenida da Liberdade vão desaparecer. Ora os parques de estacionamento subterrâneos vão surgir como cogumelos Avenida abaixo…

Os Serviços não têm orientações sobre como funcionar: a simples marcação de uma vistoria é um degredo. Mas os cartazes e os encontros com jornalistas sucedem-se para elogiar o despacho de qualquer papel ao fim de um mês…

Não se limpa a cidade em condições, quanto mais lavá-la. Mas as viaturas de lavagem são mandadas às cinco e seis ao mesmo tempo, ao sábado das onze para a meia-noite para a Segunda Circular e para o Eixo Norte-Sul molhar as bermas, para serem vistos numa descarada operação de marketing bacoco …

Os presidentes das juntas de freguesia queixam-se de falta de diálogo e não são atendidos pelos eleitos. Mas nos jornais e nas televisões Santana Lopes diz e manda dizer que todos agora têm e obtêm resposta imediata.

Nas palavras, Lisboa é agora uma «terra de leite e mel», como a Terra Prometida…

 

Má educação repetida

 

Mais grave: por um destes dias, um dos vereadores de Santana, qual guarda presidencial, escrevia que as pessoas que se preocupam com a cidade, com os buracos, com a vida real, estariam a ver a História passar… numa prosa mal-educada, arrogante, deslocada, injectada de ódios velhos.

O mesmo vereador, aliás, faz jus à fama que já traz da Assembleia da República, quando, dois dias depois, na Assembleia Municipal, se mostrava completamente mal-educado para com um presidente de Junta de Freguesia que reclamara do processo de atribuição de verbas de forma pouco transparente, quase obrigando os eleitos a andarem de chapéu na mão, à moda do antigamente, a pedinchar dinheiro para os protocolos de descentralização de competências da CML para as Freguesias.

 

Linhas SOS Cidade

Telefone: 21 322 72 62

E-mail: [email protected]

 



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