Pela paz e contra a guerra

Milhões de homens, mulheres e jovens continuarão a erguer as suas vozes pela vida

Do crescente empobrecimento do conteúdo democrático do sistema que hoje domina o Mundo emergem, com cada vez maior frequência, preocupantes sinais de intolerância. O pensamento único, decidido pela nova ordem imperialista e difundido pela mais poderosa máquina de intoxicação alguma vez existente, estende as suas garras a todos os recantos do Planeta e procura instalar-se e ocupar definitivo lugar – sempre em nome da «democracia», da «liberdade», dos «direitos humanos»...

A liberdade de expressão de pensamento, sujeita às mais sofisticadas limitações, tende a empurrar cada cidadão para um círculo cerrado onde lhe é concedida toda a liberdade de pensar, escrever e dizer... o que os donos do Mundo, ou os seus propagandistas, pensam, escrevem e dizem... Na verdade, quem ousar contestar e combater o pensamento dominante está irremediavelmente condenado: a poderosa máquina produtora e difusora do pensamento único triturará o prevaricador sem dó nem piedade.

Apesar disso, milhões de pessoas – entre as quais, naturalmente, os comunistas ocupam lugar de destaque - não desistem de pensar. Nem de lutar: pela verdade, pelo direito à livre expressão de pensamento, pelos direitos a que todo o ser humano, pelo simples facto de existir, tem direito. Para raiva dos donos do Mundo. E para desespero dos seus propagandistas, os quais, zelando pelos seus futuros, não hesitam em recorrer à mentira, à manipulação, à intriga, à calúnia, à hipocrisia, à arrogância, à prepotência, à intolerância, enfim a todos os ingredientes que são componente básica do processo de imposição do pensamento único.

Vivemos, na situação actual, exemplos vários do que acima é dito. Deixando para outra altura a abordagem da suja, baixa, abjecta operação que a generalidade da comunicação social dominante conduz contra o PCP, fixemo-nos, por agora, na forma como essa mesma comunicação social prepara a guerra contra o Iraque, abre caminho aos tanques e aos bombardeiros norte-americanos, prepara e justifica o massacre de dezenas ou centenas de milhar de pessoas inocentes.

Há dias, a dita comunicação social comemorou o 12º aniversário da chamada «Tempestade no Deserto» recordando, enlevada, as «18 mil toneladas de bombas lançadas sobre o Iraque e o Koweit». Bombas «inteligentes» - sublinharam inteligentes comentadores - e a cuja «inteligência» se ficou a dever o tão «reduzido número de baixas, tanto militares como civis».

Quer isto dizer que, doze anos passados, a monumental fraude «da guerra em directo» e dos «bombardeamentos cirúrgicos» prossegue e, com ela, o objectivo de esconder à opinião pública os duzentos mil mortos vítimas das tais «bombas inteligentes». Duzentos mil mortos na sua maioria civis, sublinhe-se. E, a propósito, recordem-se os soldados iraquianos que, vencidos e entregando-se, rendidos, ao exército norte-americano foram, por este, enterrados vivos no deserto - humanitariamente, como é timbre do exército do Império.

Diz um dos vários «correspondentes em Nova Iorque» (repare-se que estes «correspondentes em Nova Iorque» regra geral escrevem todos igual) que «em 1991, o objectivo era a libertação do Koweit (...) e hoje é impedir que Saddam utilize os seus arsenais de armas de destruição maciça». Bush não colocaria as coisas com mais parcialidade nem mais ao jeito dos interesses do Império, ou seja: os «correspondentes em Nova Iorque» cumprem exemplarmente a sua tarefa...

E assim se prepara o terreno para o próximo massacre.

É-nos dito que os bombardeamentos começarão logo que os inspectores da ONU descubram as provas que hão-de legalizar o massacre. E multiplicam-se as notícias que abrem caminho aos bombardeamentos: «ONU descobre ogivas químicas num armazém abandonado» (estranho local para o Governo iraquiano esconder provas tão comprometedoras...); «os inspectores continuam sem saber onde poderão estar guardadas» toneladas de «armas químicas que se suspeita que o Iraque possui» (talvez em alguns «armazéns abandonados»)...

Mas a máquina propagandística do Império não se esgota na fabricação de tais notícias: «debates», «comentários», «análises», «estudos», «imagens», demonstram todos os dias, em todas as latitudes e longitudes, que a guerra é «inevitável», que «a democracia, a liberdade, os direitos humanos, a civilização» exigem o bombardeamento do Iraque. Bombardeamento que, anote-se, não se concretizará se Saddam Hussein se demitir e optar pelo exílio – querendo isto dizer que, garantido o livre acesso dos EUA às imensas reservas de petróleo iraquiano, estão salvas «a democracia, a liberdade, os direitos humanos, a civilização»... Se Saddam não se demitir,

os EUA provarão a existência de tudo o que for necessário provar para justificar os bombardeamentos; a comunicação social dominante, no cumprimento fiel do seu papel de voz do dono, exibirá as provas todas em directo e ao vivo; os tradicionais «comentadores», fingindo que ignoram a sua conivência no assassinato de centenas de milhar de pessoas, demonstrarão a «inevitabilidade dos bombardeamentos»...

Entretanto, do outro lado, do lado da vida, milhões de homens, mulheres e jovens erguem as suas vozes pela paz e contra a guerra – em todo o Mundo, EUA incluídos, e em Portugal onde, no quadro da jornada europeia contra a guerra, dezenas de organizações, entre as quais o PCP, convocaram uma manifestação para 15/2.

Vozes que poderão não ganhar esta concreta batalha. Mas que – porque jamais se calarão – ganharão as batalhas do futuro: as batalhas da paz, da justiça social, da liberdade, da democracia, da solidariedade, da fraternidade, da vida.