Porto
Virgínia
Moura homenageada
Desde sexta-feira passada, um busto de Virgínia
Moura recorda às gerações vindouras, no Largo de Soares dos
Reis, no Porto, a vida desta grande figura de mulher e resistente
antifascista que uma inscrição resume de forma simples: «Uma
vida, uma luz na longa noite de pedra... Homenagem à mulher, à
cidadã, à grande lutadora pela liberdade».
Da autoria do
escultor Manuel Dias, o busto foi inaugurado precisamente no dia
em que se completavam 50 anos sobre a primeira detenção de
Virgínia Moura pela Pide, em frente ao edifício que albergava
aquela polícia política e onde pela primeira vez a homenageada
foi presa.
A retirada da bandeira da cidade que cobria o busto foi
acompanhada por uma onda de aplausos e de cravos vermelhos
agitados comovidamente pelos participantes, entre os quais se
podiam ver Rui Sá e Maria José Azevedo, vereadores da Câmara
do Porto, Ilda Figueiredo, eurodeputada comunista, Carlos Barral,
ex-governador civil, o editor Jorge Araújo ou o actor Júlio
Cardoso.
Numa breve intervenção, Maria José Azevedo, em representação
da Câmara do Porto, invocou a figura de «cidadã e mulher
exemplar» que foi Virgínia Moura, de que todos «nos devemos
orgulhar», e Alexandrina Soares, em nome da comissão de
mulheres de onde partiu a iniciativa, reputou-a de «exemplo
enorme», considerando que, pela sua vida, Virgínia Moura
«merecia uma estátua», não apenas um busto.
Por sua vez, Edgar Correia, membro da Comissão Política do PCP
recordou de Virgínia Moura «a personalidade indomável cuja
coragem e inteireza impressionaram quantos a conheceram»,
sublinhando que a sua vida como «a do seu companheiro
inseparável», António Lobão Vital, «confundem-se de tal
forma e durante décadas com a resistência antifascista e com a
actividade do Partido Comunista Português, a que aderiram na
juventude, que evocá-los é sobretudo falar da longa e corajosa
luta do nosso povo pela liberdade e pela democracia».
Fazendo, depois, uma resenha do seu passado, das suas prisões e
condenações, das agressões de que foi vítima e das inúmeras
batalhas políticas em que corajosamente participou juntamente
com o seu companheiro, lembrou que o pequeno escritório do
António Lobão Vital e da Virgínia Moura, situado junto à
Câmara, «estava transformado num activo centro de luta
"legal" contra a ditadura. Abaixo-assinados,
iniciativas políticas e culturais, acções dos trabalhadores,
dos jovens, das mulheres, e de solidariedade aos presos
políticos, circulação de informações tudo acabava por
convergir aí, mesmo quando eram diversos e invisíveis os fios
que ligavam as várias dinâmicas unitárias à rede
clandestina».
Como Edgar Correia também lembrou, não foram também pequenas
as dificuldades económicas que Virgínia e Lobão Vital tiveram
de enfrentar: «Negado o exercício normal das suas profissões
pela perseguição que lhes era movida pelo regime e pelo ódio
dos seus apaniguados, Virgínia Moura, a primeira mulher
portuguesa licenciada em engenharia civil, teve que recorrer
durante muitos anos a ministrar explicações de matemática e à
elaboração de cálculos técnicos para colegas, enquanto o
António Lobão Vital, arquitecto de valor, elaborava projectos
que eram depois muitas vezes apresentados com a assinatura de
outros profissionais para assim escaparem à reprovação dos
agentes que o governo fascista colocava à frente das Câmaras
Municipais.»
Prosseguir a
luta
de Virgínia Moura
Invocando, em
seguida, a figura de grandes democratas que, como Virgínia Moura
e Lobão Vital, «impuseram ao regime fascista a realidade de uma
continuada e combativa oposição democrática», Edgar Correia
recordou que «a afirmação dos comunistas na cena política
nacional, como o 25 de Abril veio depois a evidenciar, resultou
de um longo e minucioso trabalho que durante décadas enraizou o
PCP em importantes pólos da classe operária e dos
trabalhadores, da juventude e da intelectualidade, através de
uma constante intervenção em defesa dos interesses populares e
de luta contra a ditadura e pela democracia».
Assim, «unindo o combate democrático à afirmação do PCP e
dos seus objectivos na vida nacional, Virgínia Moura como
Lobão Vital não deram apenas um contributo corajoso à
derrota do regime fascista e colonialista e à conquista da
liberdade e da democracia tal como viriam a ser conquistadas pelo
25 de Abril. Eles identificaram também profundamente a sua luta
com a causa da emancipação social e política dos
trabalhadores, situando assim a sua vida exemplar no centro de
combates e de transformações políticas e sociais mais
profundas que marcaram o seu tempo e que continuam ainda a
marcar, em condições muito mudadas, o nosso.»
Por isso, disse por fim Edgar Correia, a melhor forma «de
mantermos viva a memória da camarada extraordinária que foi
Virgínia Moura, é o prosseguimento da luta que foi a sua vida
pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo».
A cerimónia terminou com uma romagem à campa de Virgínia
Moura, junto da qual, após se guardar um minuto de silêncio se
entoou o hino nacional e gritou «25 de Abril sempre, fascismo
nunca mais!».