Carvalhas nas Festas da Agonia
Uma esquerda que não imita a direita


«Olhe pelos Pescadores! Olhe pelos pescadores!» e «Isto tem de desandar!» foram palavras que Carlos Carvalhas ouviu nas ruas da ribeira de Viana do Castelo. O secretário-geral do PCP deslocou-se à linda cidade da beira Lima, sexta-feira passada, em plenas Festas da N. Sr » da Agonia, a convite da candidatura da CDU.

Acompanhado por João Duarte, cabeça de lista da CDU às próximas legislativas, autarcas e duas belas mordomas, Carvalhas percorreu as ruas da zona piscatória, que os moradores atapetaram de imaginosos desenhos, sal e serradura para a passagem da procissão do mar, tradição ancestral carinhosamente mantida, admirou a formosura da capela de Stª Catarina, dialogou com os vianenses, que o reconheciam e com ele falavam com a característica franqueza nortenha, e assistiu à passagem da majestosa procissão de uma varanda da Junta de Freguesia de Monserrate, administrada desde há anos pela CDU. Aliás, o mesmo se passa com outra autarquia, a Junta de Santa Maria Maior. Com propriedade se diz que Carvalhas visitou a capital vermelha do norte.
A Senhora da Agonia » uma festa dos pescadores. Por isso, foi a zona ribeirinha e as suas gentes que Carvalhas privilegiou nesta visita a Viana do Castelo. Um pescador, ao cruzar por Carvalhas, disse-lhe que «isto tem que desandar», enquanto uma mulher, visivelmente angustiada com a situação dos trabalhadores do mar, apesar da atmosfera festiva que se vivia no bairro, lhe pediu «Olhe pelos pescadores, olhe pelos pescadores!» O secretário-geral respondeu-lhe que » o PCP que mais tem defendido os pescadores, quer na Assembleia da República, quer no Parlamento Europeu.

O crit»rio da verdade

Ao fim da manhã, Carvalhas almoçou com os comunistas e amigos do Partido no Centro de Trabalho. O momento de convívio serviu tamb»m para trocar ideias, coisa que nunca » de desperdiçar, e para ouvir o que devia ser dito.
João Duarte, cabeça de lista da CDU pelo distrito às próximas eleições, afiançou que os candidatos da CDU por Viana do Castelo são pessoas de prestígio, honestas e que sempre puseram os valores à frente dos interesses, algo raro nos dias que correm. Duarte lembrou que, se » certo que na campanha eleitoral que se avizinha os vários candidatos vão dizer a mesma coisa, prometendo mundos e fundos, há um critério para estabelecer a verdade. E esse critério, a prática, que sempre diferenciou os comunistas de todas as outras formações partidárias.
João Duarte acusou o poder central do abandono a que votou Viana do Castelo e a região. «Somos do litoral, mas com taxas de desenvolvimento semelhantes às da região do interior. E isto refere-se, por exemplo, a salários, produtividade e mortalidade infantil».


Não imitamos a direita

Carlos Carvalhas, por sua vez, afirmou que «há muitos que só nos dias de festa se lembram que a comunidade está desprotegida». Todavia, durante o ano, não se lembram da importância dos estaleiros para o desenvolvimento de Viana e do país, nem do desemprego que atinge a regi‹o. «A nós, comunistas - salientou - nada disso nos passa ao lado, pois respeitamos e sofremos com as pessoas. É que somos um partido do povo e não um partido de negociatas!»
Carvalhas perguntou aos presentes, nomeadamente aos jornalistas, se se lembravam de uma lei positiva aprovada na Assembleia da República que não tenha tido a luta e o voto do PCP. «Nós apresentamos medidas e dizemos onde se há-de ir buscar o dinheiro para as pôr em prática. Daí a imporância do reforço eleitoral do nosso partido».
«Que tem Viana a ganhar ao eleger mais um deputado do PS ou do PSD? - questionou - Terão mais voz os pescadores ou os agricultores, verão facilitada a vida os trabalhadores dos estaleiros? Ora, este » o compromisso da lista da CDU».
Quanto à lista da CDU por Viana, disse Carvalhas que é composta por pessoas que «podem não ser grandes cientistas, mas que sabem ouvir e aprender, sabem compreender os trabalhadores e conhecem a realidade». Por conseguinte, «se a CDU sair reforçada das próximas eleições, a esquerda ficará a ganhar. É que somos uma esquerda que não imita a direita, somos uma esquerda que sempre esteve e estará ao lado do povo».
Reportando-se ainda às manobras eleiçoeiras de uns tantos, o secretário-geral recordou que «há para aí quem ande aos abraços aos agricultores, mas que no Parlamento Europeu votou a favor da PAC». E quanto a Guterres, «só agora veio a Viana assinar protocolos, na véspera das eleições. Porque não o fez há quatro anos?»
Na mesma linha de pensamento, perguntou ainda Carvalhas: «Por acaso alguém viu um qualquer dos outros partidos apoiar uma luta dos trabalhadores, por mais justa que ela fosse, ou apoiar alguma greve? «Esta, reforçou, é mais uma das muitas razões para darmos o nosso voto à CDU nas próximas eleições».
João Duarte convidou Carvalhas para as primeiras Festas da Agonia do próximo milénio. Se a agenda o permitir, o secretário-geral tornará à festa, para conviver e estar com a gente do mar.


«Avante!» Nº 1343 - 26.Agosto.1999