Demanda do povo de Cuba
contra o governo dos EUA
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A presença norte-americana em Guantánamo constituiu mais do que um acto de provocação e humilhação do povo cubano. A partir da Base Naval foram feitas agressões que ceifaram vidas humanas, e actos de administração que lançaram milhares de trabalhadores no desemprego, sem direito a indemnizações ou pensões devidas por lei. Mas o terrorismo de estado levado a cabo pelos EUA não se ficou por aí: já nos anos 80, uma criminosa guerra biológica foi desencadeada contra Cuba, pondo em perigo todos os seus habitantes.

Entre 1962 e 1994, ano em que foram adoptadas, por iniciativa de ambos os Governos, medidas para reduzir os riscos de incidentes, depois do acordo migratório assinado entre Cuba e os Estados Unidos, a partir da Base de Guantánamo foram executadas 13.498 acções provocatórias, sendo as mais comuns ofensas verbais, gestos obscenos e actos pornográficos, violações da linha divisória - quer rompendo sectores da cerca quer atravessando-a para o lado cubano -, iluminação com reflectores das guaritas onde fazem plantão os soldados cubanos, disparos, fazer pontaria indevida com canhões, tanques e metralhadoras, reiteradas violações do espaço aéreo cubano (incluindo aterrissagem de helicópteros fora do perímetro da Base), e violações do nosso espaço marítimo.
Devido a estes factos, o Governo Revolucionário enviou inúmeras notas de protesto ao Governo dos Estados Unidos, sem que na esmagadora maioria dos casos tenham sido recebidas as devidas respostas de acordo com as leis internacionais. Múltiplas denúncias foram igualmente formuladas por Cuba nos organismos internacionais, e muitos jornalistas estrangeiros visitaram a zona fronteiriça, entrevistaram testemunhas e tomaram conhecimento comprovado das violações denunciadas. Durante mais de 30 anos, Cuba apresentou provas destes actos de agressão, e nenhuma das administrações norte-americanas foi capaz de apresentar uma única desculpa. Tampouco puderam mostrar um único caso de provocação cubana, alguma violação ou entrada no território arbitrariamente ocupado pelas suas tropas.
A partir da Base ou na própria Base foram no entanto assassinados ou feridos cubanos da Brigada Fronteiriça e cidadãos do nosso país. Eis alguns exemplos:

No total, em consequências das agressões provenientes da Base Naval, morreram oito cubanos e outros 15 ficaram incapacitados, o que se acredita com certificações anexas, marcadas com os números 20 e 21.
Acresce que foram cometidas grandes injustiças com os milhares de trabalhadores cubanos que prestavam serviço na Base.
Em Janeiro de 1964, mais de três mil trabalhadores cubanos tinham emprego na Base, e 2.300 deles entravam e saíam diariamente do local.
Entre 10 e 15 de Fevereiro, 500 trabalhadores foram dispensados por ordem do Governo dos Estados Unidos. Entre Fevereiro e Outubro foram despedidos mais 1.060, o que perfaz um total de 1.560, ou seja dois terços de trabalhadores despedidos em menos de sete meses. E assim continuou o processo, até ficarem reduzidos a menos de 100.
Outra medida cruel: em 5 de Março de 1966, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos informou que a política do seu Governo «não permitia o pagamento de aposentadorias a nenhum pessoal de Cuba», pelo que os despedidos não podiam receber nenhuma pensão ou reclamar a devolução das suas contribuições para a Caixa de Previdência, retidas pelo Governo norte-americano. Desta forma, o trabalhador cubano da Base não só perdia o emprego como todos os seus direitos.
Actualmente, são 17 os trabalhadores cubanos que diariamente entram na Base para trabalhar.

Sétimo: Que durante todos estes anos de Revolução as acções agressivas do Governo dos Estados Unidos afectaram de maneira significativa a saúde do nosso povo. Esta política criminosa teve como objectivo travar e obstaculizar os impressionantes avanços da política social cubana. Para isso utilizaram, entre outras vias, a agressão biológica, que provocou a morte de valiosas vidas humanas, incluindo crianças e mulheres grávidas.
Em Maio de 1981, começaram a aparecer no município de Boyeros, na capital do país, casos de doentes com febre, dores nas órbitas oculares, dores abdominais e musculares, cefaleia e astenia, acompanhadas frequentemente de múltiplas hemorragias com diferentes graus de gravidade. Poucos dias depois, e também de forma súbita, reportaram-se casos similares nas províncias de Cienfuegos, Holguín e Villa Clara, espalhando-se posteriormente, de forma igualmente repentina, pelo resto do país.
Nos estudos iniciais realizados comprovou-se que os primeiros casos tinham aparecido de forma simultânea em três localidades da Ilha, distantes entre si mais de 300 quilómetros. Não houve nenhuma explicação epidemiológica para a interpretação destes factos como uma infecção natural.
Os estudos de laboratório confirmaram que o agente etiológico era a dengue de tipo 2. O seu aparecimento de surpresa, sem que existisse actividade epidémica da dengue do tipo 2 na região das Américas, nem em nenhum dos países com os quais Cuba mantinha um importante intercâmbio de pessoas, bem como o seu aparecimento simultâneo em diferentes regiões do país, são elementos de suporte aos estudos realizados por cientistas cubanos de reconhecido prestígio, com a cooperação de cientistas estrangeiros altamente especializados na detecção e luta contra as agressões biológicas.
As pesquisas e estudos minuciosos realizados conduziram à evidência de que a epidemia foi introduzida deliberadamente no território nacional por agentes ao serviço do Governo dos Estados Unidos. Especialistas norte-americanos na guerra biológica foram os únicos a obter uma variedade do mosquito Aedes Aegypti estreitamente associada à transmissão do vírus 2, segundo informou o coronel Phillip Russel, no 14º Congresso do Oceano Pacífico, efectuado em 1979, apenas dois anos antes de deflagrar a brutal epidemia em Cuba.
É um elemento significativo o facto de que em 1975 o cientista norte-americano Charles Henry Calisher, numa viagem a Cuba, se interessasse e obtivesse informação acerca da existência de anticorpos da dengue na população cubana e a não existência na mesma, pelo menos em 45 anos, de anticorpos do vírus 2.
No julgamento celebrado em 1984 nos Estados Unidos contra Eduardo Arozarena, cabecilha da organização terrorista Omega 7, este confessou ter introduzido germes em Cuba, e reconheceu que a febre da dengue hemorrágica foi introduzida na Ilha através de grupos afins de origem cubana radicados nos Estados Unidos.
Se for verdadeira a confissão do chefe da conhecida organização terrorista Omega 7 sobre os grupos utilizados para introduzir a epidemia da dengue hemorrágica em Cuba, já explicámos e demonstrámos aqui de forma exaustiva quais eram esses grupos, quem os organizou e ao serviço de quem actuavam.
Por outro lado, o exército norte-americano informou da existência de uma vacina de protecção contra a dengue que foi aplicada à população da Base Naval de Guantánamo, o que permitiu que nesse enclave militar não houvesse um só caso dessa doença, a qual, pelo contrário, abalou o resto da Ilha, sem nenhuma outra excepção.
Durante a 91ª sessão do Congresso dos Estados Unidos, de 18 a 20 de Novembro, e em 2, 9, 18 e 19 de Novembro de 1969, foi celebrada uma audiência para analisar os alegados planos sobre o uso de armas biológicas contra Cuba.
Nessa sessão, registou-se o seguinte diálogo:

«Sr. Fraser - Disseram que os Estados Unidos estavam preparados para utilizarem armas biológicas em relação a Cuba. Poderia dizer-nos se isso é verdade ou não?
«Sr. Pickering - Não tenho conhecimento disso.
«Sr. Fraser - Alguns dos presentes tem informação sobre este assunto? (Ninguém responde).
«Sr. Pickering - Eu vi na imprensa os debates sobre esse assunto.
«Sr. McCarthy - Eu diria que o Comité das Relações Exteriores do Senado não é alheio aos incidentes a que se faz alusão, e há pessoas no Governo que conhecem todas as actas do presente e do passado. Sei que as informações estão acessíveis nas suas actas...».

O uso de insectos para transmitir doenças foi alvo de profundos estudos em Fort Detrick. Um jornalista escreveu que o inventário de insectos de Fort Detrick , em 1959, incluía mosquitos infectados com febre amarela, malária e dengue; pulgas infectadas com doenças, carrapatos com tularemia, febre recidiva, febre do Colorado; moscas domésticas infectadas com cólera, antraz e disenteria.
Segundo dados revelados pelo exército norte-americano, há mais de 20 anos, em Julho de 1958, o Centro de Armas Bacteriológicas das Forças Terrestres dos Estados Unidos realizou experiências com mosquitos Aedes Aegypti portadores de febre amarela, efectuadas num polígono aéreo no estado da Flórida. O enxame de mosquitos - não contagiados, logicamente -, composto aproximadamente por 600 mil exemplares, foi disperso no polígono por avião. O resultado das pesquisas realizadas demonstraram que os mosquitos voaram num dia distâncias entre 1,6 e 3,2 quilómetros, e picaram muitas pessoas; que o Aedes Aegypti tinha grandes possibilidades para propagar a febre amarela a grandes distâncias.
Em 29 de Outubro de 1980, uma informação procedente de Washington afirmava que:
«... o Governo dos Estados Unidos pensou seriamente em utilizar o mosquito portador da febre amarela contra a União Soviética, em 1956.
«Segundo documentos militares desclassificados e tornados públicos actualmente, o exército norte-americano considerou a utilização do mosquito Aedes Aegypti para infectar com febre amarela o território da União Soviética.
«Milhões de mosquitos portadores da febre amarela estão a ser experimentados em Fort Detrick, Maryland, com capacidade para produzir mensalmente meio milhão, enquanto se espera o início da construção de um novo laboratório desenhado pelo exército, com capacidade para produzir 130 milhões de mosquitos por mês.
«Os documentos desclassificados afirmam que a agressão contra a URSS seria realizada levando em conta a impossibilidade de a União Soviética poder lançar um programa de imunização maciça contra o ataque dos mosquitos.»
Tratava-se de uma grande potência, a uma grande distância e com um imenso território, com o qual os Estados Unidos não estavam em guerra. Porém, estudava-se a ideia de uma silenciosa sabotagem biológica.
Pode servir como antecedente, para explicar o ocorrido em Cuba, um artigo de 1 de Setembro de 1981 do jornal The Miami Herald, insuspeito de amizade com Cuba:
WASHINGTON - A retumbante afirmação de Fidel Castro de que as «pragas nocivas» que destroem colheitas e animais em Cuba, bem como a epidemia da febre de dengue, que provocou a morte da mais de 100 pessoas na Ilha, são obra da Agência Central de Inteligência (CIA), não parece inconcebível para os autores de um novo livro que será lançado neste Outono.
«O ex-agente do Bureau Federal de Investigações (FBI), William W. Turner, e o jornalista Warren Hinckle referem que os EUA utilizaram a guerra biológica contra Cuba durante a administração Nixon.
«Os autores alegam que a CIA comprometeu os Estados Unidos numa guerra secreta, não declarada e ilegal contra Cuba, durante mais de 20 anos. O chamado Projecto Cuba é o maior e o menos conhecido que a CIA opera fora dos limites legais dos seus estatutos, afirmam.
«A história do Projecto Cuba é a história de uma importante guerra norte-americana não declarada pelo Congresso, não reconhecida por Washington e não informada pela imprensa.»
Anteriormente, uma informação da UPI, enviada de Washington em 9 de Janeiro de 1977, continha o seguinte:
«O Newsday, jornal de Long Island (Nova Iorque), disse hoje que «pelo menos com apoio tácito da CIA, agentes ligados aos terroristas anticastristas introduziram o vírus da febre suína africana em Cuba, em 1971».
«Seis semanas depois, um surto da doença obrigou as autoridades sanitárias de Cuba a sacrificarem 500 mil porcos, a fim de evitar uma epidemia animal de proporções nacionais.«Uma fonte não identificada da CIA revelou ao Newsday que, nos começos de 1971, um recipiente que continha vírus lhe foi entregue em Fort Gullickk, base do exército dos Estados Unidos no Canal do Panamá, também utilizada pela CIA, e que o mesmo foi levado num navio pesqueiro a agentes que operavam clandestinamente em Cuba.
«Era a primeira vez que a doença aparecia no hemisfério ocidental.
«Sabe-se, por conhecimento próprio, que no momento em que se produziu em Cuba o surto de febre suína africana, a CIA e o exército dos Estados Unidos estavam a fazer experiências com venenos, toxinas mortais, produtos para a destruição de colheitas e outras técnicas da guerra bacteriológica.»
Há uma quantidade de evidências, antecedentes e factos que é impossível ignorar.
É indiscutivelmente verdade que, em poucas semanas, a epidemia de dengue hemorrágica em Cuba, onde nunca tinha existido, atingiu o número de 344.203 pessoas contaminadas, uma quantidade sem precedentes em todo o mundo, com uma cifra verdadeiramente recorde de 11.400 doentes reportados num só dia (6 de Julho de 1981).
Dos doentes, 116.143 foram hospitalizados; mais de 24 mil tiveram hemorragias; 10.224 sofreram choques significativos provocados pela dengue.
Morreram 158 pessoas em consequência da epidemia, entre as quais 101 crianças.
Todos os recursos do país foram mobilizados para lutar contra a epidemia. Combatia-se intensamente e ao mesmo tempo, em todas as cidades e vilas do país, a presença do mosquito, o agente transmissor, com todos os meios possíveis e com produtos e equipamentos adquiridos de urgência em todo o lado, incluindo nos Estados Unidos, onde a Organização Pan-Americana da Saúde solicitou - e finalmente obteve, no mês de Agosto - a venda de um importante larvicida. Os meios químicos e equipamentos eram trazidos muitas vezes por via aérea, em certas ocasiões de lugares tão distantes como o Japão, em cujas fábricas foi possível obter milhares de aparelhos de fumigação. Houve que trazer malathion da Europa, por avião, a um custo de transporte de cinco mil dólares por tonelada, isto é, três vezes e meia mais do que o valor do produto.
Como acrescento à rede hospitalar existente, dezenas de escolas para alunos internos foram convertidas em hospitais, para isolar sem excepção cada pessoa que adoecia diariamente. Ao mesmo tempo, foram construídas e equipadas salas de cuidados intensivos em todos os hospitais pediátricos do país.
Dessa forma, em 10 de Outubro de 1981 foi possível reportar o último caso.
Se não fosse aquele esforço colossal teriam morrido milhares de pessoas, na sua imensa maioria crianças. Em pouco mais de quatro meses foi derrotada uma doença que os especialistas calculavam ser necessário muitos anos para erradicar. O prejuízo económico foi considerável.
A relação dos falecidos por causa desta epidemia são acreditados mediante os certificados de óbito correspondentes, emitidos pelo Ministério da Saúde Pública, documento que aparece com o número 22.


«Avante!» Nº 1343 - 26.Agosto.1999