Sudão
Ficheiros
secretos
desmascaram EUA
O bombardeamento a 20 de Agosto de 1998 da fábrica de medicamentos Al Chaifa, em Cartum, no Sudão, ordenado pelo presidente Bill Clinton em pleno «escândalo Mónica Lewinsky», em represália pelos atentados contra as embaixadas norte-americanas no Quénia e na Tanzânia, foi justificado pela administração norte-americana com a alegação de que a referida fábrica produzia armas químicas.
Uma notícia
divulgada esta semana no Washington Post contraria não
só essa versão como revela que especialistas da Agência
Central de Inteligência (CIA) haviam informado o presidente, um
mês antes, de que necessitavam de mais tempo para determinar com
segurança se em Al Chaifa se produzia e armazenava efectivamente
o produto letal (o gás neurológico VX).
A administração Clinton, pressionada pelos escândalos
internos, considerou não ter tempo a perder. A pretexto de que a
fábrica estava ligada ao multimilionário saudita Osama Bin
Laden, um fundamentalista em tempos aliado de Washington e agora
acusado de estar por trás dos atentados às suas embaixada em
África, que em Agosto do ano passado provocaram 225 mortos, foi
desencadeado o ataque. Treze mísseis de cruzeiro arrasaram Al
Chaifa, provocando um morto e sete feridos.
Não era suposto que as informações agora divulgadas pelo Washington
Post viessem a público. Não é certamente uma coincidência
que o actual director da CIA, George Tenet, tenha mandado no
início desta semana retirar ao seu antecessor, John Deutch, o
acesso aos documentos classificados, seguindo a recomendação de
um inspector-geral que descobriu que Deutch tinha ficheiros
secretos no seu computador pessoal.
Os EUA enfrentam uma demanda pela destruição de Al Chaifa,
apresentada pelo dono da fábrica, e o Governo de Cartum exige um
pedido formal de desculpas pelo bombardeamento, mas apesar de
alguns membros da administração Clinton já terem reconhecido
que a fábrica produzia medicamentos e que não está provado que
produzisse armas químicas, a posição oficial de Washington
continua a ser a defesa da «legitimidade» do bombardeamento.