Com a participação de Álvaro Cunhal
CDU/Beja divulga candidatura


Álvaro Cunhal presidiu em Beja, na passada sexta-feira, à apresentação da lista de candidatos da CDU à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Beja. Com o actual deputado Rodeia Machado a liderar a equipa, a lista é uma aposta na consciência alentejana, no trabalho demonstrado pela CDU e na necessidade de mudança no Alentejo, com vista ao aproveitamento e promoção das suas potencialidades.

A divulgação da lista foi feita no decorrer de um jantar-convívio com a presença de algumas centenas de militantes e apoiantes da Coligação.
Na sua intervenção, Álvaro Cunhal começou por referir e enaltecer o glorioso passado de luta do Alentejo, no tempo da ditadura fascista pelo pão e pela liberdade, na revolução de Abril por grandes realizações e conquistas democráticas, nomeadamente pela Reforma Agrária e o poder local democrático, e desde 1976 na resistência à contra-revolução.
«Estas referências não são uma lembrança saudosista do passado», sublinhou, mas uma forma de «recebermos do passado de luta, experiências, valores, ensinamentos e estímulos para a nossa luta presente e futura.»
A contra-revolução provocou profundas alterações no Alentejo: liquidação de muitas dezenas de milhar e postos de trabalho, emigração em massa, terras abandonadas, aramados, reservas de caça, idosos e reformados sem o mínimo necessário à sua subsistência, zonas desertificadas. Como consequência uma alteração profunda da composição social da população.
Assim, «além das novas realidades, novos problemas, novas dificuldades de natureza económica e social que tornam necessárias respostas novas, estas modificações significam uma grave redução da tradicional base de apoio da CDU e nomeadamente da base de apoio do Partido. É uma situação que necessariamente está presente em toda a nossa actividade e concretamente em relação às próximas eleições para a Assembleia da República em que estamos empenhados.»

PS e PSD - a mesma política

Para Álvaro Cunhal, a situação política em que estas eleições vão realizar-se é caracterizada por um governo do PS que continua a levar por diante, nos aspectos fundamentais a política contra-revolucionária do governo do PSD: «assiste-se à degradação económica, social, política e cultural da democracia e a uma política de capitulação nacional na União Europeia, de submissão às decisões de instâncias federativas onde mandam a Alemanha, a Grã-Bretanha e a França impondo aos países menos desenvolvidos, como é o caso de Portugal, políticas lesivas dos seus interesses e direitos fundamentais.» A situação atinge, porém, extrema gravidade porque «a NATO, na continuação da criminosa guerra contra a Jugoslávia, se arroga um poder autónomo e supremo de intervenção, agressão e guerras onde e quando entender.»
E se «o PS e o PSD disputam entre si, por vezes com violência, o exercício do poder» é para realizarem uma mesma política, razão por que «acabam sempre por entender-se, tendo o CDS-PP ora com um ora com outro».
Agora «procuram institucionalizar a bipolarização no poder e para isso, entre muitas outras medidas projectam novas leis eleitorais anti-democráticas» e «dão o espectáculo de uma violenta luta como se tivessem políticas diferentes». É, porém, uma luta «por uma alternância - ora um ora outro no governo -, mas não por uma real alternativa».
«Seria completa ilusão pensar que é possível uma alternativa de esquerda, com um partido que há mais de 20 anos, em sucessivos governos ou fora deles, está totalmente empenhado na realização de uma política de direita, de uma política contra-revolucionária», alertou Álvaro Cunhal.
Daí «a importância das próximas eleições para a Assembleia da República», disse, sublinhando o valioso trabalho dos eleitos pela CDU, particularmente a competência e acção do Grupo Parlamentar do PCP, «apresentando propostas para resolução de graves problemas, conseguindo impedir, suster, alterar ou melhorar numerosos projectos e propostas antidemocráticas do governo». Ou seja, «os nossos eleitos têm mostrado que o povo e o país precisam dos deputados comunistas na Assembleia da República e nenhum outro partido pode susbstituí-los na defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores, do povo e do país.»

PCP tem identidade própria

Finalizando a sua intervenção, Álvaro Cunhal sublinhou o grande valor da CDU: «todos unidos com objectivos comuns numa acção comum - o PCP, os Verdes, Intervenção Democrática, independentes de grande valor». Nenhuma destas componentes perde, contudo - como sublinhou -, «a sua própria natureza e reflexão, que constituem valiosa contribuição para a reflexão e acção comum. Nenhuma se apaga nem se dilui na acção unitária. O PCP, promove e dinamiza esta grande coligação unitária com a sua natureza e identidade própria, como um partido comunista que, por vontade dos seus militantes quer continuar a ser um partido comunista.»
Referiu, depois, «vozes da contra-revolução» que dizem e repetem que o PCP só conseguiria assegurar o seu futuro se abandonasse a sua natureza de classe, se repudiasse o seu passado de luta, se abandonasse a sua teoria revolucionária, desistisse do seu objectivo de construção de uma sociedade socialista. «Dizem que o PCP teria o seu futuro assegurado na política portuguesa se deixasse de ser comunista. E alguns até nos dão o exemplo de partidos comunistas que seguiram esses conselhos e desapareceram e de outros que, estando a seguir o mesmo caminho, correm também o risco de desaparecer.»
Houve mesmo «partidos que assim se suicidaram». «Estou certo», disse Álvaro Cunhal, «que os comunistas portugueses consideram absurda a ideia de que o seu glorioso Partido pudesse suicidar-se. Os que sonham tal coisa percam essa esperança.»
No decurso da sua intervenção, centrada nas próximas eleições, o dirigente comunista sublinhou ainda como tarefas inadiáveis da mais alta importância o desenvolvimento das lutas dos trabalhadores (com relevo para o papel da CGTP) e de vastíssimos sectores sociais atingidos pela acção do governo e o reforço do Partido (a sua organização, os seus quadros, a sua militância, o seu rejuvenescimento) que, além dos seus objectivos específicos, constituem também uma importante contribuição para que nas próximas eleições o número de deputados eleitos pela CDU venha a reforçar-se.

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Lista de candidatos CDU no distrito de Beja

Efectivos:

António Rodeia Machado
51 anos
Deputado na Assembleia da República
Membro da Direcção da Organização Regional de Beja do PCP

Susana Correia da Fonseca
44 anos
Mestre em arqueologia
Membro da Comissão Concelhia de Beja do PCP

José Mestre Soeiro
51 anos
Operário agrícola
Membro da Direcção Regional do Alentejo do PCP, responsável pelo acompanhamento das organizações no Alentejo

Suplentes:

Manuel Paulo Neto
40 anos
Presidente da Câmara Municipal de Mértola
Membro do Comité Central e da Comissão Concelhia de Mértola do PCP

Maria Luísa Palma
53 anos
Professora do Ensino Básico

Ana Rita Costa Domingos
18 anos
Estudante


«Avante!» Nº 1340 - 5.Agosto.1999