Um problema que
afecta profundamente a Grã-Bretanha
Drogas
a alma negra do capitalismo
Por Manoel de Lencastre
Quando se tornou conhecido que os jovens voluntários do programa antidroga em operação no Wymondham College, de Norfolk, tinham visitado a prisão de Wayland para trocas de impressões e de experiências com os reclusos, a Inglaterra mais conservadora ficou perplexa e horrorizada. Mas a gravidade do problema das drogas neste país permite e obriga a todas as experiências que possam contribuir para aliviar o martírio dos que vivem na dependência de estupefacientes ou barrar esse enlouquecedor caminho aos menos preparados.
O director da escola «Bolton Boys», Mr. Alan Wright, disse: «Ainda que não me parecesse existir um problema de uso de drogas entre os alunos da minha escola, estava certo de que durante os fins-de-semana os rapazes ficavam expostos a toda a sorte de ofertas. Regressariam, na segunda-feira, já com a saúde prejudicada pelos produtos usados nas noites de sexta e sábado. A política da nossa "Unidade para a educação no campo das drogas" admite o recurso a todos os meios e a todos os sectores externos no sentido de que a troca de informações daí resultante possa contribuir para as nossas finalidades.»
Morte nos «night-clubs»...
A visita à referida prisão colocou frente a frente os presos e os alunos do Wymondham College. O problema das drogas, como se sabe, aprofunda-se nas escolas e nas prisões. Em ambos os campos as autoridades lutam num difícil e desigual combate para impedir a entrada de drogas nos respectivos estabelecimentos e na educação adequada à recuperação das vítimas. Mas todos os dias aparecem nos jornais as mais desconcertantes e entristecedoras notícias de jovens que tombam devido ao uso imoderado de estupefacientes em condições a que os governos central e regionais não têm a coragem de opor-se. Por exemplo: as «Friday night fevers» ou os «Saturday night parties» normais em todo o país e frequentados por autênticas multidões de jovens, não constituem situações de espectáculos de divertimento ou do uso e experiência das liberdades próprias nas «democracias» do capitalismo. O licenciamento dos lugares onde a juventude vive e morre às sextas-feiras e aos sábados à noite deveria ser férreo, sujeito a condições bem firmes e à mais absoluta vigilância. Mas o Estado, porta-bandeira dos interesses dos meios de negócios, sejam eles quais forem, recusa intervir numa situação que aflige o país. Não deseja negar à pirataria que negoceia na exploração de «night-clubs», «discoes» e todas as espécies de lugares de divertimento (?) os seus «direitos». O espectáculo das turbas de jovens (e não só...) abandonados no consumo de álcool, drogas, tabaco, em danças colectivas de aberto sentido sexual, no interir de estabelecimentos onde as próprias condições de segurança são duvidosas é abismal define, sem margem para dúvidas, a miséria do capitalismo global aplicado ao viver das gerações mais jovens.
...e nas prisões
As mortes nas
prisões britânicas, como resultado do uso de drogas ou de
problemas anímicos e psicológicos disso resultantes, são
frequentes. Há uma prisão de mulheres na Escócia onde os
falecimentos estão a fazer história, a de Cornton Vale, perto
da histórica cidade de Stirling. Aí, parece que o próprio
pessoal da prisão já está preparado para aceitar uma
inevitabilidade que reputamos incompreensível. As guardas
prisionais já sabem quais são as reclusas que acabarão por
suicidar-se. Não admira que nasçam em Glasgow diversas
campanhas pela defesa das vidas das reclusas de Cornton Vale
campanhas que não hesitam em apontar o dedo das mais
terríveis acusações ao governo e ao sistema socioeconómico em
que se vive. Angela Bollan, Ariene Elliot, Denise Devine, Kelly
Holland, Yvonne Gilmour, Joanne O'Reilly, na verdade, apareceram
mortas nas respectivas celas, mas foram assassinadas pelo
capitalistmo. Nem vale a pena especificar a natureza dos crimes.
O capitalismo está no banco dos réus. Começou a assassiná-las
no próprio dia em que nasceram. E os leitores do
"Avante!" nem precisam que se lhes explique porquê.
Se preocupados com a possibilidade, os pais devem fazer uso da
mais severa cautela. Isto, porque alguns sistemas que podem ser
atribuídos ao uso de estupefacientes são próprios, também, do
raiar da adolescência, da puberdade. Em Inglaterra, a
«Autoridade para a Educação na protecção de Saúde»
aconselha os pais a manterem-se alerta, constantemente, no
sentido de poderem detectar o aparecimento de alterações no
comportamento geral dos filhos. Podem verificar-se inesperadas
mudanças de aspecto, o surgir de novos amigos e interesses
diferentes. Deve observar-se a duração dos períodos de sono
se forem erráticos, se apareceram sintomas de cansaço
seguidos de momentos da energia inesperados...
Jovens que comecem a envolver-se na absorção de solventes pelas
vias respiratórias, começarão por parecer embriagados. O
cheiro proveniente do corpo ou das peças de vestuário, pode
equivaler-se ao de certos produtos químicos. A irritabilidade
repentina, tal o inabitual desejo de ser agradável, de
mostrar-se capaz de ajudar, podem ser sintomas do uso de drogas.
A referida Alta Autoridade aconselha: «não interfiram, na
altura em que vos pareça que ele ou ela estão sob o efeito de
qualquer droga. Usem uma desculpa, talvez um programa de TV, para
abordarem o assunto. Tentem não parecer zangados. Mostrem que a
vossa preocupação está apenas na defesa da saúde e do
bem-estar dele ou dela. Tornem claro que ele ou ela é
responsável pelos seus próprios actos e pelas respectivas
consequências».