Sarajevo
Uma
cimeira vazia
A cimeira de Sarajevo reuniu no fim-de-semana representantes de 39 países e de 17 organizações internacionais, alegadamente para lançar o «pacto de estabilidade» para os Balcãs. Um enorme aparato militar velou pela segurança dos senhores do mundo, mas nem isso contribuiu para a tomada de qualquer medida concreta. Dir-se-ia que todos foram à capital bósnia com a exclusiva preocupação de convencer os sérvios da Jugoslávia a derrubar Milosevic.
O objectivo consta
na declaração final da conferência, na forma de mensagem aos
sérvios: «Apelamos ao povo da República Federal da Jugoslávia
que se empenhe na mudança democrática e a trabalhar activamente
na reconciliação geral». O tema tinha de resto servido de
abertura à cimeira, sob a forma de declaração da União
Europeia, igualmente dirigida aos sérvios: «A responsabilidade
do actual isolamento da República Federal da Jugoslávia é da
inteira responsabilidade de M. Milosevic e de outros dirigentes,
que foram inculpados pelo Tribunal Penal Internacional de crimes
contra a humanidade».
Quanto a medidas concretas para a implementação do famoso
«pacto de estabilidade» não houve. Os custos da reconstrução
do que foi destruído pela guerra, a divisão do financiamento, a
ajuda humanitária, não constaram da ordem do dia.
O sentimento de inutilidade da cimeira reflectiu-se na imprensa.
Segundo o semanário búlgaro «Capital», «o exemplo bósnio
fez regressar as inquietações de que mais uma vez os grandiosos
planos de reanimação dos Balcãs possam emperrar na burocracia,
na corrupção e nos processos demorados». O diário «Borba»,
sérvio, foi ainda mais contundente, escrevendo que se assistiu a
«uma verdadeira farsa em Sarajevo». «Os americanos e os seus
vassalos europeus têm necessidade de justificar as ruínas que
provocaram nos Balcãs e as humilhações infligidas» aos povos
da região, acrescenta.
O protagonista destacado da cimeira foi naturalmente o Presidente
dos EUA, Bill Clinton. Mas a sua intervenção desiludiu os que
esperavam mais do que os inevitáveis ataques ao regime de
Belgrado. De concreto, Clinton apresentou uma ajuda económica de
150 milhões de dólares para um fundo de investimentos para a
região, a abertura de uma linha de crédito de 200 milhões de
dólares e a promessa de facilitar o acesso dos produtos
balcânicos ao mercado norte-americano».
Segundo um jornal romeno, a ajuda proposta equivale a pretender
«tratar um cancro com uma aspirina».
A Declaração final da cimeira limita-se, na verdade, a um
enunciado de boas intenções sobre democracia e direitos
humanos, desenvolvimento económico e cooperação, e segurança.
O conteúdo ficou para segundas núpcias.