MULHER
Dia Internacional


Em todo o mundo se celebrou o Dia Internacional da Mulher. Com objectivos bem diferentes, governos, Nações Unidas, partidos políticos, sindicatos, organizações de mulheres e movimentos feministas comemoraram o 8 de Março. Declarações de princípio igualdade homem/mulher, algumas recomendações e poucas medidas concretas é o balanço que podemos apontar, duma forma genérica, aos poderes instituídos. Evocaram a igualdade para encobrir uma política que acentua as discriminações. Lamentaram a violência alheando-se das suas responsabilidades. Propuseram quotas para iludir os principais problemas das mulheres. Do lado dos movimentos sociais e das forças políticas de esquerda predominou a denúncia das desigualdades e a mobilização para a luta por uma alternativa de desenvolvimento assente no progresso social.

Sendo certo que as mulheres, no seu árduo processo de emancipação, alcançaram importantes direitos, não é menos certo que hoje se defrontam com novos problemas e ameaças decorrentes da internacionalização dos processos produtivos e da crescente mundialização da economia. As políticas neoliberais e a crise do sistema criam enormes desigualdades, entre países e regiões do mundo, sempre "com as mulheres a pagarem a parcela mais elevada das injustiças sociais". A regressão económica e social, a par da mediatização de modelos e dum obscurantismo em ascenso, significam para a maioria das mulheres mais exploração e desvalorização do seu trabalho e, em muitos países, conduz à sua total marginalização da vida económica e social.

É aterrorizadora, pelo elevado grau de opressão, a situação das mulheres no mundo árabe. O fundamentalismo islâmico impôs e limitou o espaço da mulher à casa, obrigando-a a deixar o trabalho, a repôr o véu, vedou-lhe o acesso ao ensino e à vida pública. Nos países capitalistas desenvolvidos as mulheres debatem-se com a desigualdade salarial, os contratos a prazo, o desemprego, enquanto se teoriza sobre as vantagens do trabalho a tempo parcial como factor de conciliação da vida familiar e profissional. Noutras regiões, a luta pelo direito à terra é determinante para a sobrevivência e o direito a um tecto é a principal aspiração das mulheres. A luta pela IVG que está na primeira linha das reivindicações femininas em muitos países contrasta com o desconhecimento para milhões de mulheres da possibilidade de controlar os nascimentos. A violência, de que hoje tanto se fala, tem obviamente um conteúdo diferente para uma operária da Europa ou para uma angolana ou iraquiana, vítimas da guerra. A situação é pois muito diferente de país para país. Mas apresenta , contudo, traços comuns de grande insegurança e de importantes recuos.

Tal situação não impede as mulheres de se organizarem e resistirem. Chegam-nos notícias de lutas das mulheres de todo o mundo. Na Austrália, as mulheres conseguiram investimentos especiais para a saúde das mulheres e, no Canadá, as funcionárias públicas viram reconhecida a igualdade salarial, após 13 anos de luta persistente. No Chile e na Argentina as mulheres manifestam-se contra a impunidade dos responsáveis dos crimes das ditaduras, enquanto na Colômbia as mulheres associam a luta de massas à sua participação na guerrilha. Destacamos a resistência das mulheres argelinas contra o terrorismo; a luta das timorenses pela autodeterminação e independência, a das mulheres sahouris, das curdas, das palestinianas, pelos seus direitos nacionais e sociais ; das mulheres da Indonésia que, neste 8 de Março, apesar do afastamento de Suharto, viram reprimida a sua manifestação. Das francesas que viram a paridade consagrada na Constituição. E no nosso país a luta exemplar das têxteis pelas 40 horas. E de tantas outras mulheres para quem a solidariedade recíproca é fundamental, como ficou bem expresso no Encontro de Solidariedade entre mulheres, realizado em Havana.

A luta das mulheres contra a opressão e pela igualdade, sendo parte integrante da luta dos trabalhadores e dos povos, é indispensável para a transformação progressista da sociedade. — Manuela Bernardino


«Avante!» Nº 1320 - 18.Março.1999