Vila Real tem novo Centro de Trabalho
O PCP
tem um novo Centro de Trabalho e a Direcção da Organização
Regional de Vila Real tem uma nova sede.
As instalações foram inauguradas no passado dia 6, com a
presença de várias personalidades regionais e de dirigentes do
Partido, entre os quais se contavam os camaradas Agostinho Lopes,
do Secretariado e da Comissão Política, António Lopes, da
Comissão Política, e Mário Costa, coordenador da DORVIR e
membro do Comité Central.
Mário Costa
proferiu na altura algumas palavras agradecendo a presença das
personalidades e dos militantes e amigos do Partido e assinalando
que a inauguração, que ocorre no ano em que se comemoram os 25
anos do 25 de Abril, e no dia do 78.º aniversário do PCP, abre
uma nova casa do Partido, «que estará sempre aberta para todos
os que, ao nosso lado, queiram efectivamente e com verdade,
libertos dos mais comezinhos interesses pessoais, lutar pelo
progresso e desenvolvimento da região, pelo bem-estar dos
transmontanos e dos durienses».
Discursou depois Agostinho Lopes, cuja intervenção reproduzimos
em seguida:
Esta nossa e nova casa
Do velho Centro de
Trabalho na Rua da Misericórdia, passámos às instalações na
Rua António Azevedo, e como à terceira é de vez, eis agora em
casa nova, e nossa. Um Centro de Trabalho nos Quinchosos, de
estranho ressoar medieval. E se é certa a alegria pelas novas
instalações, também é verdade que às casas velhas fica
sempre agarrada alguma saudade de histórias e momentos
partilhados, a saudade do que nós próprios éramos, com menos
uns anos em cima, das crianças que alguns dos que aqui estão
eram, da lembrança de outros companheiros que bem gostaríamos
de ter junto de nós nesta inauguração.
Porque penso que não envelheceram, deixai-me já que
tenho de fazer o sermão repetir-vos algumas palavras
proferidas aquando do almoço em que a DORVIR anunciou a sua
intenção de comprar uma casa para os comunistas em Vila Real.
Disse então que queria uma casa nossa, dos comunistas, para ser
cada vez mais dos outros. Dos trabalhadores, dos jovens, dos
agricultores, dos reformados, de todos os que trabalham e lutam.
Dos transmontanos e durienses.
Uma casa nossa, para nos dar mais força. Para dar mais força à
razão da nossa luta.
Uma casa para alargar a combativa organização dos comunistas
transmontanos e durienses. Uma casa nossa, par dizer que a
sementeira comunista feita nesta terra, está para durar.
Que essa força comunista não foi febre ou desvario que lhes
deu. Mas a vontade serena, forte e firme de querermos um
futuro melhor para Trás-os-Montes e Alto Douro. Para o seu povo.
Mas a vontade de afirmar de corpo inteiro e voz clara nas
alevantadas serranias ou estendidas veigas, do reino maravilhoso
de Torga, do Barroso ao Douro, do Marão a Montesinho, um
Portugal dos trabalhadores e do povo, um País de liberdade e
democracia, o País de Abril, sempre presente nas nossas acções
e emoções.
E se os comunistas não podem estar satisfeitos com os votos que
o seu Partido aqui tem obtido, se quase todas as vezes esse
julgamento eleitoral tem o sabor amargo da injustiça, os
comunistas também sabem que não é essa a razão funda da sua
luta. Luta que se confunde com a luta que animam nestas fragas,
nestes campos, nestas aldeias e cidades.
Uma luta tenaz, resistente, árdua, muitas vezes fios de água,
outras impetuosas torrentes de grandes invernadas. Sempre com a
esperança de que todos os córregos algum dia se engrossem, no
rio douro dos nossos anseios, das nossas emoções, das nossas
ideias.
A luta resistente dos povos dos baldios. A luta dos camponeses
que não desistem da sua dignidade de trabalhadores da terra. A
luta dos trabalhadores agrícolas do Douro. A luta de quantos,
nas fábricas, escritórios, repartições destas terras,
enfrentam a exploração. A luta de quantos emigraram, fugindo a
uma terra madrasta, que amam acima de tudo. A luta dos que nestas
aldeias têm resistido ao fim do comboio, á retirada dos postos
dos CTT, à eliminação de Postos de Saúde, à liquidação das
Escolas Primárias.
Uma luta que não fazemos por votos, mas que acabará também
por merecer a confiança eleitoral das gentes destas terras.
Porque é, muito simplesmente, por Trás-os-Montes e Alto Douro
que lutamos, que lutam os comunistas que aqui vivem.
Uma luta de jovens, porque somos a novidade nestas serras. Porque
somos a juventude neste tempo, fim do tempo da desumanidade, da
indignidade e da humilhação, da injustiça, da fome e da
ignorância, do medo e da guerra!
Porque somos a possibilidade de uma sociedade mais justa e
fraterna. A possibilidade do socialismo.
Dois nomes de lutadores
Deixai-me
associar ao novo Centro de Trabalho dois nomes de comunistas
transmontanos. De um camarada sem cartão, Francisco Araújo. De
um comunista com cartão, Manuel Leão. Dois homens que sempre
estiveram connosco, nas nossas preocupações, nas nossas
dificuldades, na procura de casa para o trabalho dos comunistas
em Vila Real.
Lembrar Francisco Araújo, a quem continuamos a dever,
não a homenagem, que o Chico não gostava de homenagens, mas o
dever de continuarmos a sua luta por esta terra, que tanto amou
como amou a liberdade, a democracia e o socialismo.
Um amor feito de forma exemplar, por um percurso humano
irrepreensível, de coragem, de dádiva, de verticalidade, de uma
modéstia que afligia.
Um amor feito na luta por Portugal liberto do fascismo. Um amor
que começou pela sua adesão juvenil aos militares de Vila Real
que marcharam até Amarante no primeiro levantamento militar
contra o fascismo (3 de Fevereiro de 1927). Um amor que
prosseguiu pela sua presença em todas as batalhas que os
democratas portugueses travaram contra a ditadura. Um amor feito
pela sua presença internacionalista, ao lado do povo espanhol,
na defesa da República ameaçada.
Um amor feito pela sua presença interveniente e exigente em
todos os combates que os democratas transmontanos travaram após
Abril, pela consolidação do regime democrático.
Um amor feito de assumida cidadania, de companheirismo fraterno,
de contida paixão pelos homens e mulheres explorados, humilhados
e ofendidos desta terra, militante de esquerda, comunista sem
cartão.
Lembrar Manuel Leão, falecido há menos de um ano, para
reconhecer convosco o cidadão plenamente assumido no exercício
da liberdade e da democracia, porque lutou antes de Abril e
defendeu depois de Abril. A liberdade e a democracia que viveu
intensamente como militante partidário, como sindicalista, como
candidato em inúmeras eleições, como deputado municipal.
Reconhecer convosco quem, modestamente, quase sem se dar por ele,
esteve ao nosso lado em tantos e tantos combates cívicos,
sociais e políticos. Pela sua Bila, pela sua terra transmontana,
pelo seu País. (O camarada Leão assinou o contrato de
arrendamento do primeiro Centro de Trabalho após o 25 de Abril,
na Rua da Misericórdia.)
Recordá-los é a forma de ligar os seus percursos, a sua memória, a esta nossa e nova casa.
E acabo. Convido-vos a beber um copo deste vinho que eles tanto estimavam. Estou certo que gostariam que o fizéssemos: por Trás-os-Montes! Pelo Partido Comunista Português!