O
78.º aniversário do Partido
e o Dia Internacional da Mulher
Como é de tradição, também na sede central do PCP, os camaradas que aí trabalham e os que, nesse dia, lá participavam em reuniões, juntaram-se em convívio para comemorar o aniversário do Partido. Foi no dia 8 de Março. Comemorava-se também o Dia Internacional da Mulher. Por isso, a intervenção então feita por Domingos Abrantes, da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central, abrangeu o significado dessas duas datas. Publicamos hoje na íntegra o discurso do camarada.
Comemorar o
aniversário do Partido, deve servir para lembrar e homenagear os
homens, as mulheres e os jovens que tornaram possível a
existência do PCP, para recordarmos e reflectirmos sobre o que
somos e o que se exige de nós para que o Partido continue a
desempenhar um papel determinante e insubstituível na sociedade
portuguesa.
78 anos de existência em termos partidários são uma muito
longa vida e no caso português, isto é de tal forma relevante,
que o PCP se tornou um caso único, com um património de luta
que importa defender e divulgar, sobretudo às jovens gerações
de comunistas que terão a responsabilidade de assegurar a
continuidade do Partido.
Nós, os comunistas portugueses temos razões fundadas para nos
sentirmos profundamente orgulhosos com a história do nosso
Partido. Não significa isso que vejamos a história do Partido,
toda a sua história, cor de rosa. Na história do Partido há
erros, desvios e derrotas, o que, se atendermos às condições
extremamente difíceis em que o Partido nasceu, viveu e continua
a viver, era difícil que fosse de outro modo, mas o que marca
decididamente a longa história do Partido Comunista Português
é um património de luta heróica de milhares e milhares de
comunistas que dedicaram o melhor das suas vidas, desinteressada
e abnegadamente à luta dos trabalhadores, à defesa dos
interesses do povo e do progresso do país.
Pela sua natureza, pela sua actividade, pelos seus objectivos,
o património de luta do PCP quer dizer resistência
ao fascismo e luta pela liberdade, pela democracia e pelo
socialismo, quer dizer luta contra todos as formas de
exploração, quer dizer luta pela emancipação da mulher,
numa palavra, PCP quer dizer uma luta persistente e abnegada
pelas causas mais nobres, pela dignificação e emancipação dos
trabalhadores.
É possível que aqueles que no longínquo ano de 1921 tiveram a
ousadia e o mérito de fundar o PCP, dotando a classe operária
do seu Partido não pudessem imaginar toda a importância dessa
decisão, nem as dificuldades que o PCP teria de enfrentar para
se tornar num grande Partido nacional, mas uma coisa sabemos
todos nós hoje, se não se tivesse forjado um Partido Comunista
revolucionário como o é o PCP, profundamente dedicado à causa
dos trabalhadores, empenhado na luta pela liberdade, a
resistência ao fascismo, não teria sido o que foi, as
condições de vida dos trabalhadores seriam incomparavelmente
piores, a Revolução de Abril não teria tomado o rumo que
tomou, nem as suas conquistas teriam sido defendidas.
A história do nosso Partido confirma que um verdadeiro Partido
Comunista, um Partido revolucionário, não vive só de ideias,
de projectos, de programas, vive igualmente de homens, mulheres e
jovens que lutam e vivem em consonância com os objectivos,
militantes de moral e conduta revolucionárias, firmes nas
convicções, dispostos a arrostar com as dificuldades e os
sacrifícios que impõem uma luta prolongada e travada sempre
debaixo de fogo dos inimigos de classe.
Ao comemorarmos o 78º Aniversário do Partido é, portanto,
oportuno lembrar os camaradas que ao longo dos anos defenderam,
renovaram e afirmaram o Partido, os camaradas que já partiram,
como Octávio Pato que nos deixou recentemente e tantos outros,
os que continuam no activo, todos os camaradas sem os quais não
teria sido forjado o Partido que temos, um Partido cuja
existência ao longo de 78 anos se confunde com o que há de mais
significativo e determinante, na luta dos trabalhadores, na
resistência ao fascismo, na luta pela liberdade e pela
democracia, pelo socialismo.
O mistério
da nossa força
Os últimos anos
foram extraordinariamente tumultuosos. As derrotas do socialismo
e em particular a desintegração da União Soviética
enfraqueceram a base material de apoio à luta revolucionária.
Não poucas certezas e convicções foram abaladas. O movimento
operário e revolucionário sofreram pesadas derrotas. O capital
e o imperialismo continuam na ofensiva e procuram aprofundar e
consolidar as suas vitórias. As dificuldades que atingem as
forças revolucionárias são prolongadas. A luta dos
trabalhadores e dos povos tornou-se mais difícil e as
perspectivas de sucesso mais longínquas. É uma época de
refluxo. É uma época para muita gente de dúvidas, de
interrogações, de desespero e de deserção mas nem por isso
vemos com menos justa a nossa opção e a nossa razão de ser
comunistas, nem por isso encaramos com menos confiança a
perspectiva da nossa luta, porque continuamos a ver que o
capitalismo não perdeu a sua natureza exploradora nem superou as
suas contradições, que os trabalhadores e os povos continuam a
lutar.
Sem subestimarmos o significado e o alcance dos retrocessos
sofridos quando nos debruçamos sobre o passado pensando no
futuro, é útil que nos interroguemos, donde vinha a força de
gerações sucessivas de camaradas, que actuando sob a ditadura
fascista, com prisões, torturas, assassinatos, vendo o avanço
avassalador do nazi-fascismo no mundo, para já não falar dos
que se tornaram comunistas na altura em que o capital se
apresentava todo poderoso e as organizações operárias eram
extremamente débeis, conseguiam a determinação que lhes
permitiu resistir às dificuldades criando um Partido
indestrutível apesar da sua morte ter sido mil vezes anunciada
pelos inimigos de classe e dos meios poderosos que contra ele
sempre foram mobilizados.
Embora esse mistério há muito tenha sido esclarecido, é sempre
oportuno recordá-lo. Essa força tem assentado na natureza de
classe do partido, na sua base ideológica, na construção de
uma sólida organização.
A natureza de classe de um partido, de qualquer partido,
define-se pela política que realiza e pelos interesses que
defende. O que distingue o PCP dos outros partidos é que ele é
o resultado lógico do processo histórico de crescimento,
consciencialização e actuação da classe operária, e
consequentemente defende os interesses da classe operária e de
todos os trabalhadores. Isto é de tal modo verdadeiro que a
acção do Partido ao longo dos 78 anos de existência é
indissociável da luta dos trabalhadores e das massas populares.
Foi nesta profunda ligação aos trabalhadores e às massas
populares que o PCP encontrou os quadros, a determinação e as
condições para resistir, para lutar, para se renovar.
A sua base ideológica, o marxismo-leninismo não foi só um guia
para a acção, foi ela que lhe deu a solidez, a coerência e a
perspectiva de luta, sem o que o Partido da classe operária não
teria conseguido desenvolver uma acção política e
ideologicamente independente. A base ideológica do Partido ao
determinar o carácter histórico, não conjuntural da nossa
luta, foi determinante para resistir a todas as tempestades, aos
recuos e às derrotas, sem perder a perspectiva de futuro.
Partido internacionalista
A natureza
internacionalista do nosso Partido não é menos importante na
formação e na acção do Partido.
Somos um Partido nacional, mas somos igualmente um Partido que
considerou sempre a defesa dos interesses de Portugal, da
independência e da soberania nacionais, como inseparáveis das
posições de solidariedade e amizade com a luta dos
trabalhadores e das forças progressistas e revolucionárias de
qualquer parte do mundo. Isto é de tal forma marcante na acção
do Partido ao longo da sua existência, que esses princípios se
inscrevem no nosso património, não apenas como uma afirmação
de princípios gerais, mas como a expressão de acções bem
concretas.
Quando se desenvolve uma acção global do capital contra o mundo
do trabalho, atacando e liquidando conquistas democráticas e
sociais de alcance histórico, quando o imperialismo, se arroga
no direito e no dever de se ingerir abertamente nos destinos dos
povos, quando se sabe que a NATO e a União Europeia, sob a
batuta dos E. Unidos, criam e ampliam novos mecanismos destinados
a desencadear acções de agressão em qualquer parte do mundo as
questões do internacionalismo e da solidariedade tornam-se ainda
mais problemas cadentes para um partido revolucionário.
As razões que levaram gerações de comunistas a abraçar os
ideais libertadores e emancipadores do comunismo são tão
válidos hoje como ontem, mas a realização deste ideal precisa
de partidos comunistas, de partidos revolucionários. È isso que
somos. É isso que queremos continuar a ser.
Sabemos quanto são difíceis as tarefas que temos pela frente,
mas sabemos igualmente existir uma grande determinação e uma
grande confiança no Partido e nos resultados da nossa luta.
Não temos outro objectivo, nem outra razão de ser que não seja
servir o nosso povo. Não temos outra ambição que não seja
pôr fim à exploração e construir um país de progresso e bem
estar, livre e soberano. É nossa profunda convicção que só um
Partido como o nosso poderá alcançar esse resultado.
A emancipação da Mulher
Às comemorações
do aniversário do Partido associa-se uma outra comemoração de
grande significado para os homens e mulheres comunistas, o 8 de
Março, Dia Internacional da Mulher.
Não vemos esta data como um dia durante o qual se presta um
pouco mais de atenção às mulheres e aos seus problemas, mas
como um dia que simboliza o longo e empenhado papel das mulheres
na luta pela sua emancipação e pelo progresso social.
A emancipação da mulher tornou-se uma aspiração e uma
reivindicação que mobiliza largos sectores progressistas, e que
se tornou igualmente uma bandeira de luta do movimento operário
e comunista.
É sabido que as mulheres tiveram sempre um grande papel em
importantes lutas de massas. Não será certamente por acaso que
em vários países, grandes lutas revolucionárias, como a
Revolução Francesa, foram eternizadas com a figura de mulheres,
mas é com o desenvolvimento do movimento operário e a
afirmação dos partidos comunista que a luta emancipadora da
mulher se liga à luta contra todas as formas de opressão e
exploração de classe. Aliás o 8 de Março está ligado à luta
da classe operária feminina.
Este século pode ser considerado como um século que é marcado
por grandes avanços nos direitos das mulheres. Elas participam
hoje de forma crescente no desenvolvimento material e social,
intervém em todas as esferas da vida e são quase metade da
população activa, mas é igualmente verdadeiro que as mulheres
continuam a ser fortemente descriminadas e sujeitas a um estatuto
menorizante na sociedade e na família, apesar da proclamação
formal da igualdade entre homens e mulheres.
As mulheres foram, talvez quem mais beneficiou com a Revolução
de Abril, ao serem consagrados importantes direitos específicos,
e com as alterações nas mentalidades, mas de igual modo têm
sido elas as mais afectadas em consequência dos avanços do
processo contra-revolucionário, ao serem liquidadas importantes
conquistas sociais e económicas, com a adopção de medidas
contra a dignificação da função social da maternidade, com o
desenvolvimento de preconceitos retrógrados e obscurantistas
quanto à mulher e à família, problema que atingiu grande
dimensão aquando da discussão do problema do aborto.
A Revolução de Abril demonstrou que a luta pelos direitos da
mulher é inseparável da luta por profundas transformações
políticas, económicas, sociais e culturais.
Hoje, como ontem a luta das mulheres, o desenvolvimento e
reforço das suas organizações assumem uma extraordinária
importância. Sobre o Partido recaem enormes responsabilidades
para que assim seja. Se a afirmação de Lénine, de que o
movimento feminino, parte integrante do movimento de massas se
podia tornar decisivo em determinadas condições era verdadeira
para a época, é-o muito mais na actualidade, com a larga
incorporação da mulher no mercado do trabalho, com a sua
integração em grandes organizações de massas, com a
participação massiva na luta. É impossível que nestas
condições o movimento operário se possa desenvolver e triunfar
sem a crescente participação organizada das mulheres.
Infelizmente, apesar do muito que o Partido tem feito, do elevado
número de mulheres no Partido é justo reconhecer que a
importância do movimento das mulheres, não está inteiramente
assimilada no Partido e que preconceitos em relação às
mulheres também nos atinge, embora saibamos e que esta questão
não se resolve por decreto, mas também é verdade que
precisamos de prestar maior atenção a todas as questões da
emancipação da mulher, e de dar combate os preconceitos em
relação ao papel da mulher na sociedade e dar maior atenção
às orientações do Partido sobre esta matéria.
Entretanto, as nossas insuficiências e atrasos nesta matéria
não anulam uma outra realidade que é oportuno recordar neste
dia, que é o facto da luta das mulheres se confundir com a luta
do PCP ao longo da sua existência. Somos um partido cuja
história está cheia de exemplos magníficos de dedicação, de
coragem e de heroísmo dados por muitas mulheres comunistas. O
PCP é por isso mesmo e muito justamente, também o Partido da
emancipação da mulher.