Equador
Greve geral contra plano económico


O Equador, a braços com uma grave crise económica, vê-se agora confrontado com um duro plano apresentado pelo Governo, que prevê nomeadamente o congelamento durante um ano de metade dos depósitos bancários em dólares e sucres, um valor que ronda os 3 mil milhões de dólares. O plano inclui outras medidas como o aumento do preço dos combustíveis em 165 por cento, a subida da taxa do IVA em 50 por cento, a privatização de numerosas empresas públicas e uma futura lei de convertibilidade da moeda nacional e da norte-americana.

A greve geral de dois dias, realizada na semana passada, foi o primeiro grande momento de contestação popular no âmbito da «desobediência civil» convocada pela Frente Patriótica, que reúne sindicatos e organizações indígenas e populares, e a Frente Unitária dos Trabalhadores.
«O plano é uma declaração de guerra ao povo, uma ofensa muito grave», considera a oposição, que exige a demissão imediata do presidente Jamil Mahuad e a formação de um Governo de concertação nacional, lembrando que o ex-presidente Abdalá Bucaram foi destituido «por muito menos».
A Frente Patriótica apelou à população para que não pague as contas da electricidade e retire dos bancos todo o dinheiro que possa. A resposta do Governo foi policiar as ruas de forma massiva e colocar em estado de alerta a polícia e o exército.
Numa intervenção polémica, o presidente Mahuad justificou o plano económico dizendo que «não há mais tempo para actuar». Muhad reconhece ter cometido erros e admite que a acção do seu Governo para enfrentar a crise foi lenta.
Quatro dos cinco membros da direcção do Banco Central do Equador renunciaram aos seus cargos na sexta-feira, devido à «impossibilidade de trabalhar coordenadamente com o Executivo na política monetária e fiscal do país».
No mesmo dia registaram-se graves incidentes nos postos de gasolina de todo o país, depois de algumas distribuidoras tentarem vender gasolina com os novos preços antes destes entrarem em vigor. A polícia interviu com gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.
O Governo afirma que vai negociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, de forma a permitir rever a dívida externa (15 mil milhões de dólares) e a obter um novo empréstimo. Contudo, altos funcionários do FMI declararam que um processo de negociação não poderá decorrer em breve. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Rubin, referiu que «antes de concluir um acordo credível com o FMI, o Equador tem de resolver as suas severas dificuldades fiscais».
Isto quer dizer que, num país em que 60 por cento da população é considerada pobre e 35 por cento indigente, a liberalização da economia se vai acentuar ainda mais a bem, não do povo, mas das exigências e dos interesses do FMI.


«Avante!» Nº 1320 - 18.Março.1999