Violência na Argélia


Cerca de meio milhar de mortos e mais de quatrocentos feridos é o trágico balanço da violência registada na Argélia desde Setembro, data em que o presidente da República, Liamine Zéroual, decidiu antecipar a eleições presidenciais para 15 de Abril.

Segundo a imprensa argelina, o maior número de mortes foi registado durante o último mês do Ramadão, em Dezembro passado, com um balanço de 188 mortos e 76 feridos.
Apesar de os sete candidatos à Presidência afirmarem como objectivo comum «a paz e a segurança», e as autoridades se terem comprometido a usar todos os meios necessários para garantir a segurança durante a campanha eleitoral, cujo início está previsto para o próximo dia 25, esta ameaça ser particularmente sangrenta. A imprensa argelina, citada pela Lusa, deu conta este fim-de-semana de um encontro dos chefes dos grupos fundamentalistas armados visando instaurar um clima de instabilidade em todo o país.
Os sete candidatos concorrentes às presidenciais são Hocine Ait-Ahmed (Frente das Forças Socialistas, FFS), os ex-ministros Abdelaziz Bouteflika e Ahmed Taleb Ibrahimi, os antigos chefes de governo Mouloufd Hamrouche e Mokdad Sifi, o dirigente islâmico Abdallah Djaballah e o dirigente histórico da guerra da independência Youcef Khatib.
O Conselho Constitucional excluiu da corrida eleitoral quatro partidos, o que também contribuiu para fazer subir a tensão na Argélia. O Movimento da Sociedade para a Paz (MSP, ex-Hamas), está a mobilizar os seus militantes para protestar contra o afastamento do seu líder, Mahfoud Nannah, da corrida eleitoral. Em comunicado divulgado no domingo, o MSP qualificou a decisão do Conselho Constitucional como «ilegal», considerando tratar-se de «uma fraude antecipada».
O Partido da Renovação Argelina (PRA), outro dos excluídos, pretende conhecer as razões que levaram à recusa da candidatura do seu presidente, Noureddine Boukrouh, alegadamente afastado por não ter reunido as 75.000 assinaturas exigidas por lei, o que o PRA desmente.
Outra candidata rejeitada, Louisa Hanoune, porta-voz do Partido dos Trabalhadores (PT, extrema-esquerda), já apelou ao voto em branco.
Apenas o antigo chefe de governo, Sid Ahmed Ghozali, não contestou a decisão do Conselho Constitucional e anunciou que poderá apoiar Youcef Khatib.


«Avante!» Nº 1320 - 18.Março.1999