Da Torre de Ulisses à Casa do Fado
O Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas, deslocou-se na passada sexta-feira ao Castelo de S. Jorge, onde visitou o Centro de Interpretação da Cidade de Lisboa (CICL) - um fascinante e sofisticado conjunto de equipamentos audiovisuais instalados no próprio castelo, mostrando a história da cidade em cinco línguas -, descendo depois a pé, pelos bairros históricos em reabilitação urbanística, até à Casa do Fado e da Guitarra, no mítico Largo do Chafariz de Dentro, também conhecido como «Museu do Fado».
O anfitrião da visita foi o vereador do PCP António Abreu, que tutela estes equipamentos da Câmara Municipal de Lisboa, sendo Carlos Carvalhas acompanhado pelos dirigentes do PCP, Ruben de Carvalho e Luís Fernandes. Presentes, igualmente, os presidentes das Juntas de Freguesia do Castelo, de Santo Estêvão e de S. Miguel, respectivamente Jaime Salomão, João Constantino e Virgílio Teixeira.
O Centro de Interpretação da Cidade de Lisboa (CICL) consiste, genericamente, num extraordinário conjunto de equipamentos audiovisuais instalados nas salas Ogival, das Colunas e da Cisterna e das Antigas Prisões, construídas sobre vestígios do Paço da Alcáçova, mandado erguer no Castelo de S. Jorge pelo próprio D. Afonso Henriques. Trata-se de uma estrutura de interpretação de Lisboa, constituída por vários núcleos de informação sustentada por programas audiovisuais, uma verdadeira exibição multimédia denominada «Olisipónia», em honra ao nome romano da cidade, Olisipo.
O espectáculo
desenrola-se ao longo de três salas e tem três grandes momentos
audiovisuais, estando cada visitante apetrechado com um sistema
de auriculares que lhe permite acompanhar as exposições numa
das cinco línguas constantes do menú.
O primeiro mostra a evolução física da urbe, desde os remotos
e lendários tempos da chegada fenícia, passando pela sua
primeira grande estruturação romana e o subsequente
desenvolvimento árabe, seguindo-se, naturalmente, todo o
trajecto desde a conquista cristã: a expansão para o estuário,
a monumentalização ribeirinha, a reorganização pombalina, a
abertura para o interior através da Avenida da Liberdade e as
expansões deste século, como a abertura das Avenidas Novas, a
monumentalidade dos anos 30 ou a EXPO dos nossos dias.
Mesmo ao lado, surge o extraordinário «Quadroscópio», um
gigantesco globo ilusório formado por ecrãs e espelhos e que
mostra a «idade de ouro» de Lisboa no mundo do século XVI,
proporcionando um espectáculo fundamentalmente centrado na saga
marítima dos Descobrimentos.
Finalmente, e numa terceira sala onde se acede através de outra
com forais em exposição, surge um videowall constituído
por 36 monitores, proporcionando um espectáculo audiovisual de
grande envergadura, historiando a cidade como alfobre de culturas
e civilizações.
Mas as novidades no Castelo de S. Jorge não se ficam pelo espectáculo multimédia «Olisipónia»: há também o periscópio da «Torre de Ulisses», um instrumento colocado no alto do Castelejo, a 110 metros acima do nível do mar, constituído por um espelho móvel e duas lentes fixas, captando imagens vivas do espaço circundante e na rotação completa dos 360 graus, enviando-as para o interior da Torre, onde são vistas num ecrã horizontal. «A proposta é entrar numa câmara escura e testar o princípio óptico na origem da fotografia», como se elucida nos folhetos promocionais.
Valorizar o Castelo
«A intervenção
da Câmara Municipal de Lisboa, na área do Castelo de S. Jorge,
tem sido feita com cuidado e com grande sensibilidade»,
comentou Carlos Carvalhas à saída do espectáculo multimédia
«Olisipónia», recordando a política de Reabilitação Urbana
dos Bairros Históricos decidida pelo executivo da «Coligação
Por Lisboa» em 1994 e que, na zona do Castelo de S. Jorge, se
tem traduzido num processo de reabilitação de todo o edificado
habitacional e de recuperação e valorização do património
monumental, procurando incrementar as actividades económicas,
turísticas, lúdicas e culturais, objectivo, aliás, destes
novos equipamentos montados no próprio castelo. Continuando o
seu raciocínio, Carvalhas acrescentou: «É uma intervenção
sempre muito delicada e de fácil polémica. A CDU, que tem
particulares responsabilidades nestas obras, tem também
conduzido os trabalhos e as opções num verdadeiro diálogo com
as populações, a Junta de Freguesia, os lojistas e a
restauração. Pelo que ouvi e pude observar, há um acordo
geral.» Quanto às novas estruturas que acabara de visitar e
apreciar, o Secretário-Geral do PCP reconheceu que «os
equipamentos já instalados e o que está projectado,
proporcionam aos visitantes uma informação útil e valorizam
significativamente a área do Castelo».
A visita prosseguiu numa caminhada a pé pela quase
labiríntica malha dos bairros históricos do Castelo, Santo
Estêvão e S. Miguel, onde prossegue um minucioso trabalho de
recuperação dos edifícios degradados através do programa
RECRIA, agora seriamente posto em causa pela intenção do
governo em alterar o regime e as regras destes programas.
Um Museu de visita obrigatória
No célebre Largo do
Chafariz de Dentro (imortalizado, aliás, em vários fados
clássicos) está, muito apropriadamente, localizada a Casa do
Fado e da Guitarra, que os lisboetas rapidamente popularizaram
como «Museu do Fado». Está instalada numa antiga estação
elevatória de água que, após o 25 de Abril, foi durante muitos
anos um activo Centro de Trabalho do PCP, até ter sido adquirido
e recuperado pela Câmara para esta nova função. Como esclarece
o vereador António Abreu no livro-guia deste equipamento, «a
Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa integra diversas funções
- um núcleo museológico com espólio e acervo documental
próprios, um espaço de exposições temporárias, um
auditório, uma Escola de Guitarra Portuguesa, uma loja
específica sobre a temática do Fado e da Guitarra e um espaço
de cafetaria e snack-bar - que lhe conferem, à partida,
condições para torná-la um ponto fulcral de encontro de todos
os lisboetas e de todos os amantes do fado». A EBAHL -E.P.
(empresa municipal responsável por diversos equipamentos dos
Bairros Históricos) superintende esta magnífica estrutura
cultural dependente do Pelouro da Reabilitação Urbana, da
responsabilidade do vereador comunista António Abreu, à
semelhança do que acontece com os equipamentos no Castelo de S.
Jorge atrás referidos.
Quem queira saber a história do Fado no nosso país deve visitar
esta Casa. Está lá tudo, desde minuciosas reconstituições de
tascas e casas de fado, passando por um acervo impressionante de
instrumentos, adereços, discografias, folhetos históricos,
audições ao vivo, distinções entre o fado de Lisboa, Coimbra
ou Porto, etc., etc. Outra coisa não seria de esperar de um
programa museológico que saiu do empenho, entusiasmo e
colaboração de mais de duas centenas de pessoas, onde avultam
fadistas, músicos, compositores e poetas, bem como alguns
familiares, investigadores, colectividades, academias e
associações, proprietários de casas de fado e numerosos
particulares.
«Esta visita ao que popularmente já se designa por Museu do
Fado, tem pela nossa parte o sentido de homenagem, respeito e
valorização da cultura popular», afirmou Carlos Carvalhas
no final da visita, acrescentando que «este local, que
também foi Centro de Trabalho do PCP, recorda a muitos de nós
as múltiplas reuniões, a grande intervenção e participação
do PCP nas lutas dos trabalhadores e dos trabalhadores da
Administração Pública. Gostei de o revisitar. Os arranjos
arquitectónicos do Arquitecto Santa Rita Filho, também
valorizam o espaço. O Museu está bonito e é de visita
obrigatória.