Guerras esquecidas


A comunidade internacional e os media prestam mais atenção ao que se passa no Kosovo do que aos «conflitos mortais» que ensanguentam África, lamentou a semana passada o director-geral da UNESCO, Federico Mayor.

«A pobreza, a exclusão, as doenças vêm muitas vezes juntar-se aos conflitos mortais que não têm nos media e nas consciências o impacto que merecem», declarou aquele responsável, sublinhando a indiferença em que se desenrolam os conflitos no continente africano. Mayor considera que o mundo deve saber o que se passa naquela parte do mundo, tal como no caso do Kosovo.
«Não podemos tolerar que milhares de pessoas sejam massacradas, violadas e mutiladas, num silêncio quase total», acrescentou, referindo-se aos conflitos na Serra Leoa, Guiné-Bissau, Angola, Congo-Brazzaville e RD Congo, e também às guerras esquecidas, como a que persiste na Somália.
Quase silenciada é também a situação que respeita à liberdade de imprensa. No seu último relatório, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) anuncia que cinco jornalistas - quatro serra-leoneses e um norte-americano - foram assassinados em Janeiro durante os combates registados na Serra Leoa.
No documento relativo a Janeiro, a RSF informa que outros dois jornalistas estão dados como desparecidos na Serra Leoa, um foi gravemente ferido e instalações de vários orgãos de comunicação social foram saqueadas.
No mesmo período, outros 20 jornalistas foram detidos em vários locais no mundo, enquanto outros 28 sofreram agressões ou receberam ameaças e 16 orgãos tiveram as suas edições ou emissões censuradas.
A RSF recorda que «quando acabamos de celebrar o (quinquagésimo) aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem», 90 jornalistas estão actualmente presos em todo o mundo.
Apenas 92 dos 185 Estados membros das Nações Unidas respeitam a liberdade de imprensa, cuja situação é classificada pela RSF como «difícil» em 65 e «crítica» em 28.


«Avante!» Nº 1315 - 11.Fevereiro.1999