Rússia
Mini-orçamento
num país em crise
Vinte milhões de dólares (pouco mais de 3.600 milhões de contos) é o montante total do orçamento da Federação Russa aprovado no final da semana passada pela Duma, câmara baixa do Parlamento. Um orçamento ao nível de um pequeno país para o que já foi uma grande potência.
Considerado pelos
deputados como «irreal» e «um mau orçamento» - representa
cerca de metade do orçamento anual da cidade de Nova Iorque, por
exemplo -, o diploma foi aprovado apenas como uma manifestação
de apoio ao governo de Evgueni Primakov. Como sublinhou o
dirigente da maioria comunista, Guennadi Ziuganov, a aprovação
da lei financeira pretendeu contribuir para a estabilização da
situação política num ano de eleições legislativas.
Embora a aprovação do orçamento fosse uma das condições
básicas para a continuação das negociações da Rússia com
organizações financeiras internacionais, e designadamente com o
Fundo Monetário Internacional, a delegação do FMI conduzida
pelo respectivo director executivo, Michel Camdessus, presente em
Moscovo durante a semana passada, não viu motivos para prorrogar
os seus trabalhos, como pretendia Primakov, e regressou a
Washington na própria sexta-feira. Para o FMI, a simples
existência de um orçamento está longe de preencher os
requisitos para a concessão do prometido auxílio económico ao
Kremlin. Entre outras coisas, o FMI considera «irreais» quer o
nível de inflação anual (30 por cento) quer a cotação do
rublo face ao dólar (22.5) previstos para o ano em curso.
De acordo com a Interfax, citada pela Lusa, a delegação do FMI
só se propõe voltar a Moscovo dentro de dois meses, o que deixa
a Rússia, que precisa vitalmente de crédito externo, numa
situação complicada, já que só para pagar os juros da dívida
referente a este ano Moscovo precisa de quase 18.000 milhões de
dólares, ou seja, 90 por cento do seu orçamento anual.
Dependência
A degradação das
condições de vida na Rússia assumiu tais proporções que a
outrora segunda maior potência mundial está hoje dependente da
ajuda externa. Na sequência de um acordo com a União Europeia
(UE), a Rússia deverá começar a receber no final deste mês
ajuda alimentar de Bruxelas. A comercialização dos produtos
estará a cargo dos órgãos competentes russos a preços dos
mercados locais, destinando-se os recursos obtidos a necessidades
sociais prioritárias.
A assistência da UE cifra-se em 400 milhões de euros (80 mil
milhões de contos), traduzida na entrega de um milhão de
toneladas de trigo, 500.000 toneladas de centeio, 150.000
toneladas de carne de vaca, 100.000 toneladas de porco, 50.000
toneladas de arroz e outro tanto de leite em pó.
A UE reserva-se o direito de interromper a ajuda caso se
verifiquem irregularidades na comercialização dos produtos e
aplicação dos respectivos proventos.
Moscovo está igualmente dependente da ajuda financeira de
Washington, que se serve desta «arma» para intervir cada vez
mais na política russa. Durante a recente visita que fez à
capital russa, a secretária de Estado Madeleine Albright, num
encontro com o seu homólogo russo, Igos Ivanov, não se coibiu
de ameaçar com o corte de verbas caso o Kremlin insista em
vender armas à Síria. Segundo os EUA, a Síria é um dos
países patrocinadores do «terrorismo internacional».
A ajuda financeira em causa ascende a 50 milhões de dólares
(cerca de 8,8 milhões de contos).