Regime
disciplinar da GNR
gera cenas inacreditáveis
«Absolutamente desadequado a uma força de segurança», pelo seu carácter «repressivo, obsoleto e de feição acentuadamente militarista», assim classificou o deputado comunista João Amaral o regime disciplinar aplicável aos agentes da Guarda Nacional Republicana. O motivo próximo para esta crítica arrasadora, que tornou extensiva ao regime penal, - não menos desadequado, em sua opinião -, foi um episódio passado num posto da GNR e recentemente relatado pelo matutino «Público».
A história,
verdadeiramente «inacreditável», como diz João Amaral em
requerimento em que interpela o Governo sobre o assunto, conta-se
em poucas palavras. Um agente da GNR, de prevenção no posto de
Rio Tinto em 23 de Outubro de 1997, recusou-se a servir duas
cervejas a um colega, facto de que resultou a sua condenação em
Tribunal Militar pelo crime de insubordinação a um ano de
prisão.
Ainda segundo o deputado do PCP, que cita a peça jornalística,
«esta punição segue-se a uma outra, já aplicada, de
transferência do guarda de Rio Tinto para Barcelos, cidade que
fica razoavelmente longe, com todas as consequências que isso
forçosamente deve ter tido para a sua família».
Sem esconder a sua estupefacção perante o sucedido, só
possível face ao que considerou ser o «clima medieval que se
vive na GNR», João Amaral conclui que através desta história
ficaram-se a saber várias coisas, entre as quais, observou, a de
que «nos postos da GNR corre cerveja», bem como a de que «uma
das obrigações de serviço» dos seus agentes é «servirem
cervejas aos colegas».
«Fica-se a saber que há comandos, promotores de justiça e
tribunais militares -capazes de aplicarem penas de privação de
liberdade por causa de duas cervejas não devidamente servidas,
além de penas de transferência para transtornarem a vida pessoa
e familiar de agentes», acrescentou João Amaral, antes de
instar o Ministro da Administração a preonunciar-se sobre a
revisão de toda a legislação aplicável à GNR e seu
enquadramento conceptual, uma medida a que atribui a natureza de
«imperativo democrático absoluto».