Crise na suinicultura requer medidas urgentes


A crise profunda que atinge a suinicultura resulta de políticas erradas para o sector e de uma visão ultraliberal dos mercados, considera o Grupo Parlamentar do PCP, que acusa o Governo de não ter adoptado as medidas que a situação impunha, designadamente a adopção de «mecanismos públicos de regulação» que poderiam ter evitado o descalabro a que se chegou.

Depois do alerta lançado há meses atrás pelo Grupo comunista e das medidas por si então preconizadas, o assunto voltou a ocupar na passada semana a agenda parlamentar, desta feita em debate de urgência suscitado pelo CDS/PP. Apesar da «descoberta» tardia dos populares para o problema, o agendamento não deixou de revelar-se útil pela oportunidade aberta de trazer de novo para primeiro plano a necessidade de pôr cobro urgentemente a uma crise que ameaça transformar-se num processo de liquidação das pequenas explorações.
Para evitar este desfecho, no momento em que o preço à produção voltou a cair, situando-se nos 185$00/ quilo, não há outra saída que não seja mesmo a adopção de medidas de emergência que auxiliem a suinicultura nacional.
Foi este, de resto, o desafio deixado pelo deputado comunista Rodeia Machado ao Ministro da Agricultura, a quem exortou para que tenha a coragem política para encetar medidas de apoio directo aos produtores através de políticas concretas, a exemplo do que fizeram os seus congéneres espanhóis e franceses, que não hesitaram em incrementar ajudas directas às perdas de rendimento.
Não há outra alternativa se se quer evitar a completa ruína do sector, alertou Rodeia Machado, que considerou «tardias e insatisfatórias» as parcas medidas adoptadas pelo Governo, as quais, disse, «em nada se traduziram para os produtos portugueses».
Exemplificando, citou a ineficácia dos apoios à exportação para a Rússia ou das ajudas à armazenagem, lembrando, por outro lado, o reduzido alcance da transferência de cevada forrageira para redução dos custos de alimentação ou a abertura de uma linha de crédito que ainda nem sequer está a funcionar e que de pouco servirá a quem está à beira da falência.
Rodeia Machado acusou ainda o Governo de ter assistido impávido à substituição da produção nacional por importações sem qualquer controlo, quer de qualidade, quer de condições higio-sanitárias.
Na origem desta crise, recorde-se, estão, por um lado, os excedentes de produção na União Europeia situados num valor próximo do milhão de toneladas em resultado da crise asiática e do mercado russo e, por outro lado, o aumento de produção num passado recente motivado na altura por preços atractivos.


«Avante!» Nº 1315 - 11.Fevereiro.1999