Nota da
Comissão Política
Reforçar
o PCP e a CDU
para uma viragem à esquerda
O PS prepara-se para se apresentar às próximas eleições «fingidamente como estando em conflito agudo e insanável com a direita» quando, afinal, ao longo de três anos, sempre se entendeu «com essa mesma direita». Esta uma das conclusões da reunião da Comissão Política do PCP, divulgada por Vítor Dias, em conferência de imprensa.
Na opinião do PCP,
o Congresso do PS constituiu «sobretudo uma sofisticada
encenação» apostada «em escamotear as verdades essenciais
sobre a política seguida, nos domínios fundamentais, pelo
Governo do PS». Ou seja, o PS pretende partir para as próximas
eleições «imaculadamente inocente», fazendo desaparecer «sem
deixar rasto» todos os elementos políticos mais relevantes
desta legislatura, a começar pelas alianças que
sistematicamente fez, ora com o PSD, ora com o PP, ora com os
dois partidos da AD, precisamente para viabilizar tais
políticas.
É, assim, claro que o PS «se prepara para, até às próximas
eleições, se apresentar fingidamente como estando em conflito
agudo e insanável com a direita» quando a verdade é que, ao
longo de três anos, «se sentiu gostosamente à vontade para,
nas matérias mais decisivas e estruturantes, se entender,
negociar e convergir com essa mesma direita.»
«Tem sido o facto de o PS não ter a maioria absoluta», lembra
a Comissão Política, que tem permitido «travar e anular»
algumas das suas medidas mais gravosas e que «tem permitido ao
PCP impor ao PS algumas propostas de inegável alcance
positivo.»
Por isso, a ambição de uma maioria absoluta do PS, «bem
ostentada no Congresso», «longe de significar melhores
condições para uma política de esquerda, representaria sim a
total impunidade do PS no agravamento da política de direita».
Daí que «a maior esperança e o maior impulso para uma viragem
à esquerda» só possa vir «do reforço eleitoral do PCP e da
CDU.»
Confiança «intacta»
Quanto à anunciada
candidatura de Mário Soares às eleições para o Parlamento
Europeu, o PCP salienta «que o PS tem naturalmente o direito de
escolher o candidato que muito bem entender e que, de igual modo,
o ex-Presidente da República Mário Soares tem todo o direito de
voltar a participar numa disputa eleitoral como candidato de um
partido - o PS.
Mas tanto o PS como o Dr. Mário Soares não se podem furtar às
consequências das suas opções, como aconteceria se porventura
insistissem na tese da candidatura alegadamente
supra-partidária.»
Aproveitando para esclarecer que, em 13 de Junho deste ano, «não
se realizará qualquer eleição para Presidente do Parlamento
Europeu, mas sim para eleger 25 deputados portugueses àquele
órgão e pelo sistema proporcional», o PCP diz que é,
assim «uma evidência» que para Mário Soares ser eleito não
será necessária «qualquer mobilização especial de votos».
A Comissão Política mantém, pois, «intacta» a confiança com
que encara as eleições para o Parlamento Europeu e os seus
resultados, certa de que um número crescente de portugueses,
face a uma AD e um PS que defendem «as mesmas concepções e
compromissos em relação à actual construção europeia»,
verá no PCP o partido «que protagoniza aspirações e propostas
diferenciadas que merecem ser apoiadas por todos quantos se
inquietam com o caminho hoje impostos à Europa pelos ditames do
grande capital e dos senhores da finança em prejuízo dos
trabalhadores e dos povos.»
Silêncio estranho
O PCP chama ainda a
atenção para a «particular gravidade» das notícias do
passado fim de semana sobre a Denominação de Origem Porto/Port,
incluída na negociação União Europeia/África do Sul, segundo
as quais aquele país «fica autorizado a continuar a produzir
para o mercado interno e alguns mercados externos vinho com o
rótulo Porto, não se estabelecendo nenhuma data limite para o
fim da imitação sul africana do Vinho do Porto.»
A confirmarem-se as informações sobre a particular
responsabilidade do Comissário português Deus Pinheiro neste
«significativo golpe nos interesses nacionais ligados à defesa
da mais importante Denominação de Origem portuguesa», a
Comissão Política do PCP coloca a questão «de saber se o
Governo português mantém a sua confiança em Deus Pinheiro»
que, respondendo, embora perante a Comissão, foi por ele
escolhido e indicado.
Por outro lado, «é preocupante ver como dossiers com este
significado para o País são acompanhados e negociados, no
segredo dos corredores de Bruxelas, à margem de uma clara
intervenção do Governo português e dos parceiros sociais
respectivos, na defesa dos interesses nacionais.»
O PCP, que ao longo das várias legislaturas tem procurado que
esta questão «tenha o relevo e o tratamento que a sua
importância regional e nacional impõem», não pode, assim,
«deixar de considerar pelo menos estranho que, passados dois
dias sobre estas notícias, o Governo ainda não se tenha
pronunciado sobre uma questão que exige da sua parte «não o
silêncio mas uma postura clara, firme e inequívoca.»
O problema da AD
O problema maior da AD não é tanto os candidatos mas «a manifesta dificuldade em se distinguir do PS em matérias relativas à integração europeia», disse Vítor Dias, comentando a candidatura da AD às eleições europeias.
Dos nomes, na segunda-feira divulgados, resulta sobretudo «que o País vai poder ver Paulo Portas rendido às concepções do PSD que no passado tanto fustigou. Mas esse é o preço de ter querido fugir a todo o custo de contar os votos do seu PP».
Assim, também nas eleições europeias, a opção à AD e ao PS é o apoio ao PCP e à CDU, por uma Europa em que «pesem mais os direitos dos trabalhadores e dos povos e os interesses das nações».