60 anos de Revolução 60 anos de cinema
Com a revolução, o cinema cubano exprime os anseios de libertação do imperialismo, do colonialismo e do capitalismo
Houve um cinema cubano antes da revolução como houve uma Cuba antes da revolução. Foi em geral um cinema da dominação. Da dominação europeia (ou seja, espanhola) até 1918, ano até ao qual ainda existiu algum cinema nacional mesmo que incipiente. E da dominação americana (ou seja, estado-unidense) a partir de 1919, depois de diversas intervenções e ocupações militares dos EUA. Depois da Guerra Hispano-Americana (1898), Cuba tornou-se gradualmente numa república neocolonial dos EUA, com a Emenda Platt e a subordinação económica e política dela derivada.
Os filmes cubanos que marcaram a história do cinema foram fruto da revolução socialista que triunfou em Janeiro de 1959. É a partir deste momento que o cinema feito em Cuba surge como expressão popular, indissociável dos anseios de libertação do imperialismo, do colonialismo e do capitalismo. O ICAIC – Instituto Cubano da Arte e Indústria Cinematográficas (Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos) foi criado poucos meses após o governo revolucionário ter entrado em funções. Esta estrutura impulsionou de modo decisivo não só o cinema cubano, mas muito do cinema produzido na América Latina e no Caribe. Quatro reconhecidos cineastas cubanos estiveram ligados à fundação do instituto que teve como objectivo financiar, distribuir e exibir a produção audiovisual nacional: Tomás Gutiérrez-Alea, Julio García Espinosa, Alfredo Guevara e Santiago Álvarez.
Os filmes produzidos pelo ICAIC, em particular os documentários, foram reflectindo o processo revolucionário de forma crítica, as suas limitações e as suas conquistas, os seus desacordos e os seus desenvolvimentos. Este trabalho de registo e criação foi, em simultâneo, um resultado da democratização da cultura e uma das traves-mestras da construção da democracia na Cuba socialista. Memórias do Subdesenvolvimento (Memorias del subdesarrollo, 1968), dirigido por Gutiérrez-Alea, é uma das grandes obras cinematográficas na qual estes traços criativos estão inscritos com densidade e clareza. Hoje, a produção cubana tem um carácter mais transnacional, nomeadamente devido à participação do país no programa Ibermedia, que visa facilitar a co-produção de obras documentais e de ficção na comunidade ibero-americana. Apesar do agressivo embargo económico imposto pelos EUA a Cuba, que dificulta as relações comerciais com outros estados, também neste campo a política de Cuba tem seguido princípios de abertura e cooperação.
O Festival de Cinema de Havana, promovido pelo ICAIC e pelo Ministério da Cultura teve a sua primeira edição em 1979. De lá para cá, afirmou-se como um dos eventos mais significativos no reconhecimento e na difusão do cinema latino-americano e caribenho. O festival pretende afirmar e enriquecer essa matriz cultural, mas entende que ela passa também pela relação solidária e de intercâmbio com outros povos e outras culturas. Por essa razão, tem integrado na sua programação uma ampla e representativa mostra de filmes contemporâneos vindos de outras partes do mundo.
A segunda instituição fundamental para o desenvolvimento da produção audiovisual cubana foi a EICTV – Escola Internacional de Cinema e Televisão (Escuela Internacional de Cine y Televisión), criada em 1986 em San Antonio de los Baños. A Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), com sede em Havana, esteve na origem deste projecto que teve como mentores o escritor colombiano Gabriel García Márquez, o realizador argentino Fernando Birri, o cineasta brasileiro Sergio Muniz, e o já referido Espinosa. O objectivo inicial era criar um espaço de formação teórica e prática nas áreas do cinema e da televisão que juntasse estudantes da América Latina, África, e Ásia. Rapidamente esse âmbito se alargou. A escola contou e conta com visitas de cineastas como Ettore Scola, Mrinal Sen, Milos Forman, Peter Greenaway, Fernando Solanas, Walter Salles, Francis Ford Coppola, e Martin Scorsese.