No «coração» da Festa do Avante!

Homenagem ao cinema

Ficção, do­cu­men­tário, ani­mação: tudo isto, e muito mais, po­derá en­con­trar-se no Ci­ne­A­vante!, bem no «co­ração» do Es­paço Cen­tral, onde o vi­si­tante da Festa pode ver o que de me­lhor e mais ac­tual se faz no ci­nema por­tu­guês e es­tran­geiro, assim como falar com re­a­li­za­dores, ac­tores e ou­tros par­ti­ci­pantes, num am­bi­ente de li­ber­dade crí­tica e de cri­a­ti­vi­dade. «Este é um es­paço que, com o tempo, tem cres­cido, porque o seu re­co­nhe­ci­mento vai au­men­tando a cada edição da Festa, tra­zendo cada vez mais es­pec­ta­dores e pro­fis­si­o­nais do mundo do ci­nema», su­blinha Nuno Franco, um dos res­pon­sá­veis pelo Ci­ne­A­vante!. Marta Alves e Sérgio Dias com­pletam a equipa.

 

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No 40.º aniversário da Revolução de Abril, o CineAvante! vai destacar um dos mais importantes acontecimentos da história de Portugal. «Esta data será assinalada com filmes e documentários produzidos principalmente logo a seguir ao 25 de Abril de 1974», informou, ao órgão central do PCP, Nuno Franco, destacando dois: «As armas e o povo» e «A lei da terra», que «melhor retratam o período revolucionário».

De grande im­por­tância são também, des­tacou, «A fuga», «Con­ti­nuar a viver ou Os ín­dios da meia-praia», «Até amanhã, ca­ma­radas», «48», «25 de Abril, uma aven­tura para a de­mo­cracia», «Pla­ta­formas e se­gu­ranças», «Acto de matar», «Terra de nin­guém», «As des­ven­turas do drá­cula von bar­reto nas terras da Re­forma Agrária», «Pa­redes pin­tadas da re­vo­lução por­tu­guesa», «Avante! com a Festa» e «Ca­ça­dores de so­nhos».

Este es­paço fi­cará ainda mar­cado pela exi­bição de di­versas ani­ma­ções tra­zidas a Por­tugal pela mão de Vasco Granja, as­si­na­lando os 40 anos do início das emis­sões de «Ci­nema de Ani­mação», na RTP. «Vasco Granja, para além de mi­li­tante do PCP e um ac­tivo an­ti­fas­cista, tendo sido preso e con­de­nado, foi um di­vul­gador da banda de­se­nhada e do ci­nema de ani­mação em Por­tugal. Por isso esta ho­me­nagem a um homem que nos traz grandes re­cor­da­ções», afirmou Nuno Franco.

O Ci­ne­A­vante! traz também ao pú­blico da Festa do Avante! uma ampla se­lecção das me­lhores e mais sig­ni­fi­ca­tivas curtas me­tra­gens na­ci­o­nais e es­tran­geiras que pas­saram pela Short­cutz Lisboa. «Rhoma Acans», «Som do si­lêncio», «O cá­gado», «Dias por el Cuelo», «Dona fúnfia» e «Ninja gold mi­ners» são mo­tivos mais do que su­fi­ci­entes para uma tarde de sá­bado bem pas­sada na Festa do Avante!.
 

«Pla­ta­formas e se­gu­ranças»

«Vi­vemos num mundo onde ou­tras pes­soas, ou­tras coisas, de forma con­sis­tente, nos ob­servam. Somos mo­ni­to­ri­zados por nós mesmos. Câ­maras, ins­tru­mentos que cri­amos, são os mesmos que nos ob­servam. O que sen­ti­ríamos se fos­semos vi­gi­ados de dentro das nossas casas?», lê-se na si­nopse do filme «Pla­ta­formas e se­gu­ranças». A pe­lí­cula, de 2014, conta com a re­a­li­zação e pro­dução de Ri­cardo Guer­reiro.

«25 de Abril, uma aven­tura para a de­mo­cracia»

«25 de Abril, uma aven­tura para a de­mo­cracia», re­a­li­zado por Edgar Pêra, é um do­cu­men­tário ex­pe­ri­mental, pro­du­zido em 2000, que nos re­porta para o fim do fas­cismo e o 25 de Abril, visto a partir das ruas e dos rostos das pes­soas. Mais do que mos­trar a ini­ci­a­tiva mi­litar, re­vela a adesão po­pular ao mo­vi­mento. Ima­gens e sons do pas­sado (a di­ta­dura e a li­ber­tação) mis­turam-se com ima­gens e sons do pre­sente (ma­ni­fes­ta­ções de apoio à in­de­pen­dência de Timor).

«Acto de matar»

Pro­du­zido em 2012, «Acto de matar» fala-nos de um país, a In­do­nésia, onde os as­sas­sinos são ce­le­brados como he­róis. Neste filme o re­a­li­zador di­na­marquês Joshua Op­pe­nheimer e a sua equipa de­sa­fi­aram os lí­deres im­pe­ni­tentes dos es­qua­drões da morte a en­cenar o seu papel no ge­no­cídio. O re­sul­tado alu­ci­nante é um de­li­rante sonho ci­ne­ma­to­grá­fico, um mer­gulho per­tur­bador nas pro­fun­dezas da ima­gi­nação de as­sas­sinos em massa e no cho­cante re­gime de cor­rupção e im­pu­ni­dade ba­nais em que vivem.

«Con­ti­nuar a viver ou Os ín­dios da Meia Praia»

No do­cu­men­tário «Con­ti­nuar a viver ou Os ín­dios da Meia Praia», pro­du­zido em 1976, An­tónio da Cunha Teles filmou a ex­pe­ri­ência le­vada a cabo após o 25 de Abril de 1974 na co­mu­ni­dade pis­ca­tória da Meia Praia, em Lagos, local onde foi en­saiado um pro­jecto que im­plicou a subs­ti­tuição das casas tra­di­ci­o­nais por mo­ra­dias de pedra, bem como a ten­ta­tiva de cri­ação de uma co­o­pe­ra­tiva de pesca. A pe­lí­cula conta com a cé­lebre e lin­dís­sima canção de Zeca Afonso.

«Terra de nin­guém»

«Terra de nin­guém», de Sa­lomé Lamas, teve a sua es­treia in­ter­na­ci­onal no Fes­tival de Berlim, de­pois de ter ganho quatro pré­mios Do­cLisboa 2012, in­cluindo «Me­lhor Filme» e «Prémio do Pú­blico». «Paulo ofe­rece re­tratos su­bli­mados das cru­el­dades e pa­ra­doxos do poder, assim como das re­vo­lu­ções que o de­pu­seram, apenas para er­guer novas bu­ro­cra­cias, novas cru­el­dades e pa­ra­doxos. O seu tra­balho como mer­ce­nário en­contra-se na franja destes dois mundos», lê-se na si­nopse.

«As armas e o povo»

O do­cu­men­tário «As armas e o povo» re­trata o pe­ríodo entre os dias 25 de Abril de 1974 e o pri­meiro 1.º de Maio em li­ber­dade, mos­trando o mo­vi­mento mi­litar e a agi­tação po­pular nas ruas, ten­dentes ao des­man­te­la­mento do apa­relho so­cial e po­lí­tico do fas­cismo. A his­tória faz-nos re­cuar ao 28 de Maio de 1926, dando-nos a ver os mo­vi­mentos que, desde então, con­tri­buíram para que se tor­nasse pos­sível a Re­vo­lução dos Cravos. Este filme, de 1975, foi re­a­li­zado e pro­du­zido pelo Co­lec­tivo de Tra­ba­lha­dores da Ac­ti­vi­dade Ci­ne­ma­to­grá­fica.


«A lei da Terra»

Outro do­cu­men­tário, a não perder, é «A lei da Terra», de 1977, no qual o pro­cesso da Re­forma Agrária no Alen­tejo é visto através de uma aná­lise das es­tru­turas so­ciais e da luta de classes, cul­mi­nando com a ocu­pação de terras pelos cam­po­neses e pela ten­ta­tiva de novas re­la­ções la­bo­rais e de pro­pri­e­dade.

«Face à sa­bo­tagem eco­nó­mica dos pa­trões e an­tigos pro­pri­e­tá­rios, os tra­ba­lha­dores or­ga­nizam-se em sin­di­catos, re­clamam em­prego e sa­lá­rios justos. Pro­curam es­ta­be­lecer uma lei re­vo­lu­ci­o­nária: “A terra a quem a tra­balha!”. Or­ga­nizam-se em co­o­pe­ra­tivas e uni­dades co­lec­tivas de pro­dução», des­creve a si­nopse do filme, re­a­li­zado por Al­berto Seixas Santos.

Avante com a Festa

Com edição, pro­dução e re­a­li­zação de Da­niel Pires, «Avante com a Festa» é um do­cu­men­tário que acom­pa­nhou, desde o pri­meiro dia, as jor­nadas de tra­balho da Festa do Avante em 2013. São cerca de 40 mi­nutos com en­tre­vistas a vá­rios in­ter­ve­ni­entes, desde mem­bros da Di­recção da Festa até aos vi­si­tantes da mesma, pas­sando por ar­tistas e mi­li­tantes do PCP. Aqui todos têm pa­lavra, dando o seu tes­te­munho sobre o que é para eles a Festa do Avante!, o seu sig­ni­fi­cado, a sua cons­trução, e o que ela re­pre­senta para o PCP e para o País.

«A Fuga»

Re­a­li­zado por Luís Fi­lipe Rocha, «A Fuga», de 1976, ba­seia-se na cé­lebre fuga so­li­tária de Dias Lou­renço, e re­lata o dia-a-dia de um pri­si­o­neiro po­lí­tico, no tempo do fas­cismo, que logra es­capar-se do Forte de Pe­niche.

Desde o jul­ga­mento no tri­bunal ple­nário, que ter­mina com um es­pan­ca­mento le­vado a cabo pelos agentes da PIDE, até à fuga pelo mar, que de­volve o pro­ta­go­nista à li­ber­dade e à re­sis­tência, o filme apre­senta uma série de si­tu­a­ções tí­picas da vida na ca­deia fas­cista.

«Ca­ça­dores de Anjos»

«Ca­ça­dores de Anjos», com ar­gu­mento e re­a­li­zação de Isabel Me­dina, deixa uma per­gunta aos amantes do ci­nema: «Não há so­lução para a vi­o­lência exer­cida sobre as mu­lheres?». Neste filme, um pro­jecto da As­so­ci­ação «O Ninho», com pro­dução da Es­cola de Mu­lheres, são apre­sen­tadas his­tó­rias ve­rí­dicas de ra­pa­rigas que, ainda me­ninas, foram ex­plo­radas se­xu­al­mente.
 

Pro­du­ções da Cé­lula de Ci­nema do PCP
Agra­dá­veis sur­presas

Este ano o Ci­ne­A­vante! dá ainda a co­nhecer duas pro­du­ções da Cé­lula de Ci­nema do PCP: «As des­ven­turas do drá­cula von bar­reto nas terras da Re­forma Agrária» e «Pa­redes pin­tadas da re­vo­lução por­tu­guesa». O pri­meiro, pro­du­zido em 1977, com uma du­ração de sete mi­nutos, foi fil­mado du­rante a pri­meira Festa do Avante! e re­trata, de um modo có­mico, o ataque di­ri­gido pelo então mi­nistro An­tónio Bar­reto à Re­forma Agrária.

Por seu lado, «As pa­redes pin­tadas da re­vo­lução por­tu­guesa», de 1976, mostra como as pa­redes e os muros da ci­dade de Lisboa, no se­gui­mento da Re­vo­lução de Abril se tor­naram meios para ce­le­brar e trans­mitir os ideias e as pa­la­vras de ordem re­vo­lu­ci­o­ná­rios. O texto do pintor An­tónio Do­min­gues exalta esta obra ini­ciada pela Cé­lula dos Ar­tistas Plás­ticos do PCP.
 

A não perder

«Até amanhã, ca­ma­radas» re­gressa, este ano, à Festa do Avante!. Co­meçou por ser uma mini-série para a SIC, tendo pas­sado, em 2013, para o grande ecrã por Jo­a­quim Leitão, numa nova mon­tagem do ma­te­rial da série te­le­vi­siva com o mesmo nome, que ele pró­prio re­a­lizou em 2005.

O ar­gu­mento, ba­seado no livro ho­mó­nimo de Ma­nuel Tiago, pseu­dó­nimo li­te­rário de Álvaro Cu­nhal, lan­çado em 1974 pelas Edi­ções Avante!, foi es­crito por Luís Fi­lipe Rocha e re­lata a vida in­terna do PCP e dos seus mi­li­tantes nos anos di­fí­ceis da II Guerra Mun­dial, em torno das lutas po­pu­lares or­ga­ni­zadas no Vale do Tejo em 1944.

A es­treia ci­ne­ma­to­grá­fica de «Até Amanhã, Ca­ma­radas» veio ce­le­brar o cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal (1913-2005), di­ri­gente co­mu­nista e re­sis­tente ao fas­cismo que de­dicou a sua vida ao ideal co­mu­nista e ao seu Par­tido.

Também o do­cu­men­tário «48», pro­du­zido em 2009, volta a pre­en­cher a pro­gra­mação do Ci­ne­A­vante!. «O que pode uma fo­to­grafia de um rosto re­velar sobre um sis­tema po­lí­tico?» e «O que pode uma imagem ti­rada há mais de 35 anos dizer sobre a nossa ac­tu­a­li­dade?» são as per­guntas dei­xadas por Su­sana Sousa Dias, que partiu de um nú­cleo de fo­to­gra­fias de ca­dastro de pri­si­o­neiros po­lí­ticos da di­ta­dura por­tu­guesa, 48, e pro­curou mos­trar os me­ca­nismos através dos quais um sis­tema au­to­ri­tário se tentou auto-per­pe­tuar du­rante 48 anos.
 

Pro­mover e di­vulgar ta­lentos
Curtas dão nas vistas

Desde 2011 a par­ti­cipar no Ci­ne­A­vante!, o Short­cutz Lisboa, mo­vi­mento in­ter­na­ci­onal de curtas-me­tra­gens, traz no­va­mente à Festa do Avante! al­guns dos me­lhores filmes que pas­saram este ano pelo Bar Bi­ca­ense. Este mo­vi­mento in­tegra o Labz, pro­jecto da Sub­filmes Cre­a­tive Network, uma pla­ta­forma in­ter­na­ci­onal e mul­ti­dis­ci­plinar de pro­moção e di­vul­gação de ta­lentos na área da cul­tura ur­bana.

«Rhoma Acans», de 2012, é um desses filmes, que está longe de se tratar um re­gisto et­no­grá­fico. Nele ques­tiona-se o que é a fa­mília, a tra­dição e o modo como estes se apro­xima ou afastam. A re­a­li­za­dora, Le­onor Teles, ana­lisa a his­tória da sua fa­mília e a sua re­lação com o peso da tra­dição ci­gana a que ou­trora per­tenceu.

Essa vi­agem de au­to­des­co­berta en­contra-se com a fi­gura de Jo­a­quina, jovem ple­na­mente in­se­rida na co­mu­ni­dade ci­gana e que serve de con­tra­ponto à ex­pe­ri­ência da re­a­li­za­dora, aju­dando-a a per­ceber o que mudou, o que se mantém e o que falta ainda mudar de­pois de su­ces­sivas ge­ra­ções de fortes per­so­na­gens fe­mi­ninas.

Já o «Som do si­lêncio», re­a­li­zado por Paulo Grade e João Lou­renço, re­porta-nos para uma so­ci­e­dade onde todas as leis foram abo­lidas, onde apenas a lei do si­lêncio é im­posta. «Toda e qual­quer co­mu­ni­cação verbal é es­tri­ta­mente proi­bida. No en­tanto, existe uma elite que fala em se­gredo. Joana, in­ves­ti­ga­dora do MNAA, irá pre­sen­ciar inad­ver­ti­da­mente uma destas reu­niões se­cretas. Será o de­sejo de voltar a falar mais forte que o medo de de­so­be­decer a uma lei?», lê-se na si­nopse do filme, pro­du­zido em 2012.

No Ci­ne­A­vante! po­derá ainda ver «O Cá­gado», de 2012, um filme de ani­mação, com cor e di­fe­rentes es­calas, re­a­li­zado por Luís da Matta Al­meida e Pedro Lino. Esta curta-me­tragem, ba­seada num conto de Al­mada Ne­greiros, lembra que, por vezes, de­baixo do nariz de um Homem estão coisas que só o pró­prio Homem não vê.

José Tri­gueiros re­a­lizou, em 2013, «Dios por el cu­ello», que nos conta a his­tória de um me­nino de oito anos que re­cebe um con­vite es­pe­cial para uma festa de ani­ver­sário proi­bida. Acom­pa­nhado pela sua mãe, Pablo vai de casa em casa, e, por de­trás de cada porta, há um de­safio, uma prova, uma sur­presa.

«Dona Fúnfia», filme de ani­mação, re­a­li­zado por Mar­ga­rida Ma­deira, em 2013, fala-nos de uma mu­lher que usou saia du­rante toda a sua vida e uma bata por cima, para não se sujar. Um dia de­cidiu ex­pe­ri­mentar um par de calças.

Por úl­timo, «Ninja gold mi­ners», de Ana Brí­gida, leva-nos até à Mon­gólia, onde o povo des­co­briu que a sua terra con­tinha o mais pre­cioso metal no mundo: o ouro. Os mi­neiros co­me­çaram então a es­cavar em áreas ru­rais a fim de tentar a sua sorte.

 



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