A resistência venezuelana às tentativas golpistas da burguesia
Uma vez anunciado o resultado eleitoral, Capriles recusa reconhecê-lo, projecta dúvidas e calúnias sobre o desenrolar das eleições, ataca os sectores progressistas e revolucionários, as instituições venezuelanas e a Constituição, e lança-se numa tentativa de golpe de Estado.
18 de abril de 2013. Tensão. Permanente. A Festa rapidamente se transforma em acessos de pânico. Ou, ao contrário, de júbilo. As emoções estão instáveis, à imagem do ambiente da cidade de Caracas. As forças, na rua, medem-se. Ao cacerolazo convocado por Capriles responde o foguetazo convocado por Maduro, à violência dos bairros favorecidos do Este caraquenho, respondem as buzinas, as músicas, Chávez e Maduro nas t-shirts, as palavras de ordem que se sintetizam no tão repetido Non Volveran, no centro e periferia de Caracas.
O socialismo, para muitos, está em marcha, ainda que não saibam explicá-lo. Sabem, conhecem, vivem as mudanças progressistas impulsionadas pelo processo bolivariano e identificam-nas com Chávez. O processo bolivariano alterou radicalmente a vida de milhões de venezuelanos. Condições de habitação dignas, através do projecto Missión Vivienda, Centros de Saúde gratuitos e descentralizados, através do projecto Missión Barrio Adentro, alfabetização de adultos e prosseguimento de estudos, através das diferentes etapas do projecto Missión Robison.
Organizações populares estenderam-se a diferentes regiões da Venezuela, muitas vezes com o apoio ou de países ou de organizações progressistas e revolucionárias latino-americanas, permitindo que aqueles que sempre haviam sido excluídos fizessem ouvir a sua voz e participassem activamente na vida dos bairros onde moram ou do local onde trabalham. Participação e organização dos trabalhadores, participação e organização dos moradores, participação e organização dos estudantes, participação e organização das mulheres, discussão teórica e prática política, troca de dúvidas e de saberes, foram fazendo parte do quotidiano dos venezuelanos ao longo dos últimos 14 anos.
Pós-eleições presidenciais
14 de Abril de 2013. O toque de Diana soara às 3h para relembrar a todos que, naquele dia, havia que ir às urnas. Em paróquias como o 23 de Enero, La pastora, La Vega, filas estendiam-se nos centros de voto. Venezuelanos e venezuelanas de diferentes gerações aguardavam. Alguns levavam cadeiras, todos levavam sorrisos, outros comida e bebida, e assim falavam, discutiam, conversavam, enquanto, tranquilamente, esperavam a abertura das urnas, 3h mais tarde. O Exército, responsável por manter a segurança e assegurar o correcto desenrolar do processo eleitoral, orientava, calmamente, todos aqueles que pacientemente esperavam e que haviam transformado a espera num convívio.
A alegria emanava de diferentes ruas da cidade. Ainda o sol não tinha nascido, e já a certeza da vitória de Maduro parecia inquebrantável. Três dias antes, as sondagens ainda apresentavam aproximadamente dez por cento de diferença entre, por um lado, Nicolás Maduro e, por outro, o representante do capital Capriles Radonski.
Relembre-se que Capriles Rodonsky pertence a uma das famílias mais poderosas da Venezuela, a qual se encontra à cabeça de vários conglomerados industriais, imobiliários e mediáticos. A família Rodonsky possui a segunda cadeia de cinema do país (CINEX) e é proprietária do diário Últimas Noticias, diário de maior difusão nacional, assim como de cadeias de rádio e de um canal de televisão.
Quando, já as 23h passadas, são anunciados os resultados numa camioneta móvel, na Avenida Urdaneta, em frente ao Palácio de Miraflores, a Festa iria deixar uma estranha amargura no paladar. Pouco mais 200 mil votos separavam o candidato bolivariano do candidato pró-imperialista. Vi lágrimas conterem-se da ansiedade vivida e palavras de surpresa, tristemente trocadas. E todos se perguntavam, Como será a resposta dos caprilistas?
A pré-preparada fraude
A fraude, já de antemão preparada pelo imperialismo estadunidense, juntamente com os sectores da burguesia venezuelana e seus apoiantes, é imediatamente lançada como guia para uma tentativa de reversão do resultado eleitoral. Nos dias que antecederam as eleições, grupos paramilitares vindos, sobretudo, da Colômbia, haviam sido detidos. Uma vez anunciado o resultado eleitoral, Capriles recusa reconhecê-lo, projecta dúvidas e calúnias sobre o desenrolar das eleições, ataca os sectores progressistas e revolucionários, as instituições venezuelanas e a Constituição, e logo no dia 12 de Abril lança-se numa tentativa de golpe de Estado.
Existem cinco poderes na Venezuela: executivo, legislativo, judicial, eleitoral e moral. O poder eleitoral venezuelano é, assim, um poder autónomo. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é o representante deste poder que organiza e põe em marcha todos os mecanismos necessários para que as eleições se desenrolem dentro das normas constitucionais. Pois bem. A casa e o carro da presidente do CNE foram atacados a tiro, enquanto a televisão do Estado, a VTV, foi cercada por opositores e actos de violência se estendiam a diferentes pontos do país.
Grupos de choque urbanos, criados e treinados pelo imperialismo estadunidense, logo ocuparam determinadas ruas em diferentes estados do país, inclusive em Caracas. A capital, aliás, tornou-se no terreno por excelência para Capriles medir a sua força social.
Instando ao ódio e à violência, Capriles tenta criar um ambiente que, como constantemente referem os caraquenhos, remete para aquele terrível 11 de Abril de 2002. Dia 18 de Abril de 2013, na sequência dos actos de vandalismo e de violência estimulados pelo candidato perdedor, o número de mortos bolivarianos elevava-se a oito.
No entanto, num momento em que a tensão e os actos de violência aumentavam de intensidade, em Caracas e em outros estados, Capriles recuou. Consciente, talvez, de que a sua força eleitoral não correspondia à sua força social, de que, se Maduro contava com o apoio de milhões de venezuelanos, dispostos a combater até à morte, os seus apoiantes, ao contrário, a tal não estavam dispostos, consequência, talvez, de divergências internas no seio da Mesa de Unidade Democrática (MUD), agrupamento político que o apoiara, preparando, talvez, outro tipo de acções que tentem reverter (a médio prazo) a ordem constitucional, o facto é que Capriles Radonsky recuou. Recuou ao anular uma marcha nacional, prevista para quarta-feira, dia 17 de Abril, em Caracas. A qual, pelo menos ele assim o desejaria, levaria a um eventual confronto entre opositores e defensores do processo revolucionário bolivariano, na tentativa de criar um clima de guerra civil que obrigasse as Forças Armadas a intervir.
Apesar desse recuo, Capriles, servindo a classe que representa e os interesses do grande capital nacional e estrangeiro, continua a realizar apelos à violência. Ao ódio. Ao desprezo pelas instituições venezuelanas. À provocação. No entanto, se, na segunda-feira, dia 15 de Abril, o cacerolazo (diário) convocado por Capriles tomara de surpresa os sectores progressistas e revolucionários venezuelanos, desde terça-feira, dia 16 de Abril, tem tido como resposta um foguetzao que, graças ao estridente ruído dos foguetes, abafa o som emitido pelas panelas que se entrechocam.
Entretanto, nas ruas, a presença de progressistas e revolucionários dispostos a salvaguardar, a qualquer preço, o aprofundamento do processo bolivariano, é crescente; a música, colunas viradas para o espaço público, junta-se ao foguetazo e expande-se pela cidade; têm sido quotidianos os diferentes actos de apoio institucionais; vigílias sucedem-se; os elementos das Forças Armadas marcam a sua presença na rua e demonstram o seu apoio ao presidente eleito; a correlação de forças, hoje, quatro dias após as eleições, parece ser favorável a Maduro.
Fala-se, apesar disso, de guerra, de guerra de baixa intensidade, de golpe de Estado (suave), de atentados golpistas. A atenção e vigilância das forças progressistas e revolucionárias é, por isso, constante. Os círculos bolivarianos e os comandos de campanha reorganizam-se e preparam-se para medir forças, organizando continuamente acções de apoio a Maduro. As Forças Armadas dizem não estar divididas e reconhecem os resultados eleitorais. Organizações populares e políticas exigem que os autores físicos e intelectuais dos oito mortos bolivarianos sejam levados perante a Justiça. Os ânimos atiçam-se. Mas o temor também paira. Fala-se de um corte de abastecimentos, a médio prazo, provocado pelos sectores caprilistas. De paralisação do país. A ingerência externa, conduzida pelo império estadunidense, atiça a polarização. Capriles grita fraude, ódio e violência. Maduro responde, endurecendo o discurso, reiterando os valores do socialismo, assumindo-se como o primeiro presidente operário e chavista da República Bolivariana da Venezuela. Que hoje (dia em que escrevo), 19 de Abril, fará publicamente o juramento como presidente. E não estará só. Acompanhá-lo-á uma marcha convocada pelas organizações comprometidas com o processo bolivariano. Uma nova maré vermelha inundará, certamente, Caracas.
Alerta, alerta, alerta que camiña, Chávez y Bolívar por América latina!