Protesto continuam na Eslovénia

Paz só com justiça

Após a queda do governo conservador de Janez Jansa, milhares de eslovenos saíram às ruas da capital Ljubljana, no sábado, 9, para exigir eleições e um novo rumo político.

A crise quebra promessas do capitalismo

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Enquanto a líder do partido Eslovénia Positiva de centro-direita, Alenka Bratusek, se esforça para formar governo, cerca de dez mil pessoas expressaram o seu descontentamento com os partidos representados no parlamento e exigiram eleições antecipadas.

Convocados por movimentos informais, os manifestantes desfilaram atrás de um pano em que se lia: «Não somos de direita nem de esquerda, somos pessoas que estão fartas de vocês».

À agência Reuters, Gorazd Mlekuz, trabalhador dos transportes com 56 anos, explicou que «o futuro governo tem a mesma estrutura e os mesmos princípios do anterior. Por isso precisamos de novas eleições e temos de votar em partidos que hoje não estão representados no parlamento».

«Precisamos de criar empregos para a juventude. O meu filho concluiu História e foi um aluno excelente, mas não encontra emprego. Hoje trabalha como voluntário e já foi uma sorte arranjar essa ocupação».

Tendo aderido ao euro em 2007, a Eslovénia foi fortemente atingida pela crise internacional, afectada pela quebra das exportações. Ao mesmo tempo, os cortes orçamentais traduziram-se numa contracção do mercado interno que empurrou a economia para uma forte recessão.

Foi neste quadro de crise e depressão que, em Novembro de 2012, ocorreram importantes protestos em Mariobor, a segunda maior cidade deste pequeno país com cerca de dois milhões de habitantes, que integrou a Jugoslávia até 1991.

Os protestos alastraram a todo o país nos três meses seguintes e voltaram a atingir expressão nacional com a greve geral de 23 de Janeiro e a manifestação de 8 de Fevereiro que juntou mais de 20 mil pessoas.

A agudização da crise económica e social, a persistência dos manifestantes e a repressão policial mostraram que, afinal, o êxito da transição do socialismo para a «prosperidade» do mercado capitalista não passava de um mito.

Entretanto, o Comité Contra a Corrupção implicou vários políticos em casos de corrupção. O próprio primeiro-ministro, Janez Jansa, caiu na rede dos suspeitos.

Algo mudou na sociedade eslovena. Os dogmas do neoliberalismo são cada vez mais questionados por uma população que empobrece de dia para dia. Já ninguém acredita na promessa de tornar o país na «Suíça dos Balcãs».

Em seu lugar surgem palavras de ordem até há pouco impensáveis que reclamam democracia directa e socialismo democrático. O descrédito dos partidos e instituições fez surgir uma variedade de estruturas informais que, na sua heterogeneidade, promovem debates e procuram criar uma plataforma política alternativa.

«Não queremos um novo governo mas mudanças revolucionárias» e «Não haverá paz enquanto não existir justiça», disseram os manifestantes no último sábado, segundo noticiou a AFP. 



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