A ocultação do PCP e da luta consequente – algumas notas

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política)

A ocultação no Público e a menorização noutros media dominantes da abertura das comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal mostra como os grandes interesses vão tentar esconder e mistificar este acontecimento extraordinário, que percorrerá todo o País e envolverá muitos milhares de trabalhadores e largos sectores e camadas do povo português.

O poder económico-mediático reforça a sua velha orientação anticomunista

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A sessão, de conteúdo político e histórico muito relevante, participada e representativa, mereceria até por isso seriedade de tratamento informativo, como coloca a própria Constituição (art.º 39.º), que refere «a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião» na comunicação social.

Mas, claramente, no quadro da agudização da luta de classes, o poder económico-mediático, relativamente ao PCP e sobretudo à sua afirmação, à alternativa que colocamos, e à luta mais consequente, reforça a sua (re)velha orientação anticomunista, de ocultação, censura, deturpação e manipulação e, no reverso da medalha, da contra-ofensiva ideológica, das «inevitabilidades» e da resignação.

Os mandantes e os processos

Quem decide nos media, em matéria da censura ao PCP e à luta de massas, são os detentores da respectiva propriedade e direcção, nomeadamente o capital financeiro e a meia dúzia de grupos económicos da área que, com grandes lucros, podem até «perder dinheiro», com alguns audiovisuais ou publicações, ou no preço dos ideólogos de serviço, para garantir uma opinião dominante e o tráfico de influências de apoio aos «negócios».

Depois, com as suas «fontes» e «factos políticos», há o peso do Governo, da central de comando, informação e contra-informação do gabinete do primeiro-ministro, com os seus muitos recursos, e também o peso das forças políticas e sociais e organizações informais, mais ou menos «confidenciais», de apoio à política de direita.

A dependência externa dos grupos económicos «nacionais», a teia mundial das multinacionais de tecnologia e comunicações e o peso dos oligopólios globais de enlatados de notícias e conteúdos televisivos, garantem que muitas decisões nesta matéria já venham tomadas, ou ao menos encomendadas, que muitas ocultações estejam pré-determinadas pela agenda imperialista, que muitas linhas ideológicas de deturpação e manipulação da realidade já estejam asseguradas.

A censura anticomunista e a diabolização da luta consequente, assumem características duma grande operação à escala global, do tipo «as armas químicas de Saddam», que preparou o ataque ao Iraque. Vive do preconceito, da desinformação, do medo, das limitações à liberdade, alimenta-se no individualismo, no «não vale a pena», na «culpa dos políticos», no «são todos iguais».

Os objectivos são – esconder a alternativa patriótica e de esquerda, urgente e possível que o PCP formula e propõe, legitimar a «inevitabilidade» da exploração, do pacto de agressão, do roubo organizado, do declínio nacional, diabolizar a luta consequente e promover a continuação/alternância desta política ao serviço do capital financeiro.

Os casos e a sua derrota

Estão à vista os casos e as «linhas de trabalho» dos media nesta matéria – a promoção de cópias mal amanhadas dos cucos do BE de iniciativas do Partido que são «esquecidas»; o branqueamento do PS e a recorrente ocultação e adulteração das posições do PCP; a mentira sobre o Programa do Partido, identificando-nos com objectivos e «modelos» que não perfilhamos, para incutir o preconceito; a desvalorização (pelo professor Sousa e outros) da luta de massas, «o Governo só cai se o CDS quiser», diz ele, como se não fosse a luta consequente a suscitar a perda de apoios e a precipitar contradições e deserções, que tornam iminente a sua derrota; a ocultação das grandes lutas de massas mais consequentes, que fazem avançar a compreensão da necessidade de mudar de política e de governo, em contraponto com a mobilização empenhada das «acções inorgânicas», que procuram empurrar para a dispersão e a confusão.

A ofensiva em curso dos grandes senhores dos media, do capital financeiro e do governo de serviço, de ocultação e censura do PCP e da luta de massas, é um indício da inevitabilidade da sua derrota. Apertam na deturpação e na coacção ideológica porque se alarga a resistência e a luta dos trabalhadores e do povo e se reforça este Partido Comunista Português, que não se rende nem se resigna, e que aqui está para «transformar o mundo».



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