Aniversário da revolta dos estudantes de 1973 na Grécia

Protesto anti-imperialista

De­zenas de mi­lhares de pes­soas par­ti­ci­param nas ma­ni­fes­ta­ções de dia 17, em Atenas e Tes­sa­ló­nica, para as­si­nalar, com pa­la­vras de ordem de hoje, a re­volta dos es­tu­dantes contra a junta mi­litar fas­cista de No­vembro de 1973.

O exemplo da re­volta de 1973 está vivo na me­mória dos gregos

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Apesar do dia chu­voso, muitas de­zenas de mi­lhares de pes­soas saíram à rua para in­te­grar o gi­gan­tesco des­file, con­si­de­rado uma das mai­ores ac­ções anti-im­pe­ri­a­listas dos úl­timos anos.

Na ca­pital grega, a ma­ni­fes­tação partiu do Po­li­téc­nico, passou pelo par­la­mento e ter­minou como ha­bi­tu­al­mente junto da em­bai­xada dos EUA. Ao longo de todo o per­curso, a pre­sença das forças de in­ter­venção foi os­ten­siva e des­pro­por­ci­o­nada. Só em Atenas foram mo­bi­li­zados sete mil agentes da po­lícia.

Mar­charam en­to­ando a pa­lavra de ordem: «Ope­rário, sem ti a en­gre­nagem não roda, tu podes fazê-lo sem pa­trões». À ca­beça da ma­ni­fes­tação lia-se numa faixa: «Ali­ança an­ti­mo­no­po­lista pelo der­rube das po­lí­ticas an­ti­po­pu­lares, pelo poder po­pular». Atrás deste pano des­fi­lavam tra­ba­lha­dores das fe­de­ra­ções e sin­di­catos fi­li­ados na Frente Mi­li­tante (PAME).

«Firmes no ca­minho de No­vembro», de­cla­rava a faixa da União das Mu­lheres da Grécia. Se­guiam-se os panos da Co­or­de­na­dora dos co­mités das es­colas de Atenas e cen­tenas de jo­vens can­tando temas po­pu­lares re­vo­lu­ci­o­ná­rios. Por seu lado, a Frente de Luta Es­tu­dantil su­bli­nhava: «O jogo tem de acabar, o ca­pi­ta­lismo não pode hu­ma­nizar-se». Ou­tras pa­la­vras de ordem se ou­viram contra as me­didas de «aus­te­ri­dade», contra a NATO e a União Eu­ro­peia.

Com os es­tu­dantes, este ano mar­charam jo­vens re­crutas mi­li­tares, ves­tidos com os seus uni­formes de sol­dados e ma­ri­nheiros – uma alusão ao mas­sacre de há 37 anos, quando a junta dos co­ro­néis en­viou o exér­cito para es­magar a re­volta po­pular.

E já nas ime­di­a­ções da em­bai­xada dos EUA, uma nova men­sagem foi lan­çada: «Luta, rup­tura, der­ru­ba­mento – a his­tória é es­crita com de­so­be­di­ência». E ainda: «o Nosso fu­turo não é o ca­pi­ta­lismo, mas um mundo novo, o so­ci­a­lismo».

Numa nota sobre o 37.º ani­ver­sário da re­volta do Po­li­téc­nico, o Par­tido Co­mu­nista da Grécia (KKE) acen­tuava que «o ca­pi­ta­lismo está velho e não pode ser mu­dado ou cor­ri­gido. Na Grécia, o povo só po­derá al­cançar os seus di­reitos quando os mo­no­pó­lios e os grandes ne­gó­cios se tor­narem pro­pri­e­dade so­cial sob con­trolo dos tra­ba­lha­dores e do povo, sem as cor­rentes da União Eu­ro­peia e da NATO».

A ci­meira que nessa se­mana de­correu em Lisboa não passou na­tu­ral­mente des­per­ce­bida. Numa de­cla­ração à im­prensa, a se­cre­tária-geral do KKE, Aleka Pa­pa­riga, con­si­derou as de­ci­sões que dois dias de­pois se­riam to­madas na ca­pital por­tu­guesa como «ex­cep­ci­o­nal­mente pe­ri­gosas», es­pe­ci­al­mente o es­cudo an­ti­míssil que será ins­ta­lado no Mar Egeu, em solo turco. «Isto irá agravar a si­tu­ação da so­be­rania grega. O go­verno grego deu o seu acordo a tudo isto por de­baixo da mesa e pu­bli­ca­mente alega que é

A re­volta do Po­li­téc­nico

 

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Em 14 de No­vembro de 1973, os es­tu­dantes do Po­li­téc­nico de Atenas en­traram em greve contra o re­gime fas­cista dos co­ro­néis (1967-1974). Bar­ri­cados no edi­fício, mon­taram uma es­tação de rádio a partir da qual se di­ri­giram ao povo grego com apelos ao le­van­ta­mento contra a di­ta­dura mi­litar.

Em res­posta, mi­lhares de tra­ba­lha­dores e jo­vens da ca­pital acor­reram ao Po­li­téc­nico, con­cen­trando-se no in­te­rior e ex­te­rior do re­cinto. Le­van­taram-se bar­ri­cadas no centro da ci­dade, re­gis­tando-se con­frontos es­po­rá­dicos com a po­lícia.

Porém, na ma­dru­gada de dia 17, o go­verno chama o exér­cito para es­magar a re­volta po­pular e envia tan­ques para tomar o campus uni­ver­si­tário. Pelas três da manhã, os blin­dados re­bentam com os por­tões de ferro e as tropas dis­param sobre os civis, fa­zendo de­zenas de mortos e mi­lhares de fe­ridos. Cen­tenas de es­tu­dantes foram presos.

Nesses dias, a san­grenta re­pressão mi­litar abateu-se igual­mente sobre as ma­ni­fes­ta­ções contra a di­ta­dura. Os nú­meros exactos do mas­sacre nunca foram apu­rados. To­davia, a re­volta mar­caria o fim da di­ta­dura seis meses de­pois.



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