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Eleições gerais britânicas realizar-se-ão a 7 de Junho
Eleitorado vai votar
- mas contrariado!

• Manoel de Lencastre


Ao desistir da data que se considerava como inevitável para as eleições gerais (3 de Maio), o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, tomou uma decisão sem precedentes que deixou em estado de total desorganização a máquina interna do Partido Trabalhista.

Na verdade, todo o aparelho partidário tinha sido alertado em devido tempo para que se preparasse.
A data seria aquela. Mas a pressão surgida de todos os cantos da Grã-Bretanha, que não deseja eleições neste momento, forçou Blair a render-se aos desejos do país. Agora, estabeleceu-se que as eleições para a Câmara dos Comuns se realizem em simultâneo com as autárquicas em Inglaterra e no País de Gales, a 5 de Junho.
Blair, evidentemente, ainda tem pouco mais de um ano para governar sem necessitar de consultar o país. Mas a maré dos acontecimentos políticos corre-lhe de feição e ninguém admite que possa ser derrotado pelos conservadores cuja popularidade continua em baixa. Por isso, Blair considerou que quanto mais cedo melhor para garantir outros cinco anos no poder. O povo britânico, entretanto, viu as coisas de maneira diferente. Na Escócia, no Ulster, em Inglaterra, em Gales, toda a gente viu que a convocação de eleições gerais para 3 de Maio não passava de uma manobra de puro oportunismo por parte de Blair e do seu estado-maior. O primeiro-ministro, sentindo que a vitória lhe surgiria, facilmente, só estava interessado em manter-se no poder ... mas não queria ver a grave crise nacional resultante da propagação da epidemia da febre aftosa (foot & mouth) que tem causado um enorme choque em toda a Grã-Bretanha. Blair foi obrigado a reconhecer, relutantemente, aquilo que todo o país sentia.
Nestas condições, sabendo-se que o acto eleitoral terá lugar a 5 de Junho, a Grã-Bretanha ficou confrontada com um período intermédio de nove semanas durante o qual não será possível governar mas, sim, realizar uma longa campanha eleitoral cujas consequências poderão não ser, precisamente, aquelas que Blair deseja. Assim, as eleições autárquicas já foram adiadas para aquela data, também, tendo a respectiva lei sido publicada a 4 do corrente. Agora, o programa das principais actividades políticas ficará reduzido ao seguinte: a 9 de Abril votação nos Comuns do Orçamento de Gordon Brown apresentado em Março; a 10, partida para as férias da Páscoa; a 23, regresso de férias; a 14 de Maio. dissolução da Câmara e início formal da campanha eleitoral; a 22, termo do prazo para apresentação de candidaturas nas respectivas circunscrições eleitorais; a 7 de Junho, eleições gerais (das 7 da manhã às 10 da noite).


A verdadeira estatura de Blair

Todo o país viu na TV a resposta de Blair a Romano Prodi em Estocolmo, recentemente, quando o líder da Comissão Europeia lhe perguntou: «Então quando teremos eleições no seu país?» Com um largo sorriso, o primeiro -ministro britânico respondeu: «Dentro de 10 dias anunciarei que a data será a 4 de Maio». E porque os políticos serventuários do capitalismo adoram eleições, Prodi sorriu, também. Blair sabia, perfeitamente, o que estava a acontecer no país. Região após região declarava que a epidemia se declarara no sector da agro-pecuária do seu interior. Milhares e milhares de animais destinados ao abate compulsivo. Equipas de veterinários (dúzias delas) correndo de exploração agrícola em exploração agrícola para a limpeza de focos daquela epidemia acompanhados de matadores especiais. Toda a Grã-Bretanha a ver (pela TV) aquelas dolorosas matanças. Depois, a rega de milhares de corpos de ovelhas e carneiros com produtos petrolíferos e o seu despejo para longas, impressionantes vagas comuns. Por fim, os fogos, os fogos intermináveis que se avistavam de longas distâncias e faziam chorar o país.
Pedir eleições em circunstâncias como esta fez compreender a toda a Grã-Bretanha que o primeiro-ministro do «New Labour», Tony Blair, não é um político sério. Para mais, via-se que o Ministério da Agricultura estava a perder o controlo da situação enquanto Blair, sempre aos sorrisos, afirmava o contrário. O país, definitivamente, não queria eleições. Blair, exigia-as. Quando, finalmente, o acto eleitoral tiver lugar, a 5 de Junho, verificar-se-á a maior percentagem de abstenções da história do processo eleitoral neste país. Os povos, diga-se a verdade, já estão a ficar cansados do «circo» das eleições nos termos em que os políticos representantes do capitalismo as querem. A democracia não é assim. A democracia do capitalismo está arruinada e só tem respostas repetidas e estafadas. Blair, evidentemente, será eleito. Mas o rancor do país permanecerá.


Blair será derrotado no referendo sobre o Euro.


Não somos nós quem o diz. É o Goldman Sachs, o gigantgesco banco americano de investimentos que está a enviar cartas a todos os seus clientes globais advertindo-os de que chegou à conclusão de que Blair não conseguirá a adesão britânica ao Euro. Já estão a ver os leitores do «Avante!» o porquê da grande ansiedade do primeiro-ministro britânico quanto realização de eleições gerais. Na euforia do esperado triunfo, organizaria logo o prometido refereendo e o povo britânico estaria ganho para votar a abolição da libra esterlina.
Parece, contudo, que as coisas não serão bem assim. Na carta do Goldman Sachs, pode eler-se: «Dadas todas as barreiras que se perfilam no caminho de Blair, garantir convergências económicas, vencer o referendo, negociar uma taxa de conversão aceitável, parece-nos que as hipóteses de Tony Blair serão inferiores a 50%. O povo britânico não votará a extinção da sua libra esterlina quando não lhe é possível ter a mínima ideia daquilo que surgirá depois.»

«Avante!» Nº 1428 - 12.Abril.2001