Corrente unitária apresenta lista inédita no SBSI
Para a mudança activa
que os bancários exigem



O PS e o PSD apresentam-se de novo juntos nas eleições para os corpos gerentes do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. A corrente sindical unitária, confiante na sua forte influência e crescente prestígio, apresenta uma lista encabeçada por uma mulher, com jovens em lugares destacados e com uma especial preocupação em garantir competência para dirigir os SAMS.

Os dissidentes da tendência socialista, que há três anos diziam querer uma nova prática sindical, acabaram por render-se aos interesses políticos e alinham, agora, numa «salgalhada» que tem por objectivos supremos evitar que os bancários lutem contra o agravamento da exploração e garantir a sobrevivência financeira da UGT, para a qual os sócios do SBSI contribuem, queiram ou não, com 120 mil contos por ano.
A acusação foi feita ao «Avante!» por três bancários comunistas, que há vários anos merecem a confiança e o voto dos trabalhadores para integrarem estruturas representativas da classe, nas vésperas da apresentação pública da candidatura unitária, que teve lugar ontem, em Lisboa.
Fátima Amaral
, actualmente deputada do PCP na Assembleia da República, fez parte da direcção do SBSI durante seis anos, desde que foi posto termo à aliança PSD-PS, em 1988. No presente mandato dos corpos gerentes do sindicato, integra o Conselho Geral. No banco onde trabalha, o Crédito Predial Português, foi eleita para a respectiva comissão sindical. Na lista unitária ontem apresentada, figura em primeiro lugar; pela primeira vez, uma mulher pode vir a ser presidente do SBSI.
Alexandrino Saldanha
é membro da direcção actual. Trabalhador do BPA (Grupo BCP/Mello), foi vice-presidente da direcção entre 1988 e 1994, e vice-presidente da Mesa do sindicato nos três anos seguintes.
João Lopes
é eleito no Conselho Geral do SBSI, mas a sua principal actividade tem sido desenvolvida na Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos e na comissão coordenadora das CTs da Banca (com o cargo de coordenador), desde 1982.


Mudança
por fazer

«Teria que resultar algo de positivo para os bancários», começa por salientar Fátima Amaral, lembrando o principal objectivo da candidatura vencedora de 1997, que integrava elementos das listas unitárias e um grupo de socialistas, que discordaram da opção oficial do PS.
A tendência socialista, liderada então por Barbosa de Oliveira, aliou-se ao PSD, mas os bancários recusaram, com o voto, o regresso aos tempos em que sucessivas direcções laranja-rosa levaram o SBSI a uma grave crise, que se reflectiu em grandes perdas de direitos e de poder de compra dos bancários. Também os Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS) do sindicato foram fortemente afectados, deixando em sobressalto os bancários no activo e cerca de 15 mil reformados.
Em 1988, convergindo com os comunistas e outros trabalhadores que recusam a partidarização da vida sindical e defendem um forte envolvimento dos bancários na actividade do SBSI e na luta por melhores condições, foi posto termo àqueles treze anos e iniciou-se uma viragem. No entanto, em várias ocasiões foram visíveis diferenças substanciais e divergências, com os dirigentes socialistas a resistirem à atitude mais reivindicativa da corrente unitária e a cederem às pressões patronais, sem o necessário esforço de mobilização dos trabalhadores.
A partir das eleições de Outubro de 1995, quando o PS obtém a maioria parlamentar, a tendência socialista no SBSI começa a mostrar maior preocupação em evitar o surgimento de protestos contra a política do Governo, apesar desta ser claramente favorável aos banqueiros e prejudicial aos bancários.
É neste momento que Fátima Amaral situa o princípio de um crescente descontentamento dos trabalhadores, que esperavam da direcção do sindicato uma acção mais firme. Nos locais de trabalho aumenta o apoio à corrente unitária, que também vê reforçadas as suas posições nos órgãos sindicais a que concorre com listas próprias. «Todos os aspectos positivos da actividade e das decisões da direcção do SBSI estão directamente ligados à nossa iniciativa, às nossas propostas e ao nosso trabalho», salienta Fátima Amaral, acrescentando que «os socialistas demoravam a ser convencidos e atrasavam-se na decisão».
Mobilizar os bancários para a participação na vida do sindicato e para desenvolver um combate mais firme à política dos banqueiros, procurando inverter a continuada degradação do poder de compra e das condições de trabalho dos bancários foram compromissos e objectivos que estiveram na base da lista que, em 1997, acabou por derrotar a candidatura PS-PSD apadrinhada por Barbosa de Oliveira e pela tendência socialista.
Delmiro Carreira e o seu grupo de socialistas dissidentes acabaram, contudo, por não respeitar o acordo que firmaram com as listas unitárias, constata Alexandrino Saldanha, admitindo que se tenha tratado de uma batalha na luta pelo poder dentro da estrutura do PS. As repetidas cedências sem luta nas negociações salariais, a protelada negociação do acordo colectivo de trabalho, um acordo com o Ministério da Saúde sem acautelar regalias dos bancários e, por fim, a imposição da força dos votos maioritários (contrariando o princípio do consenso como forma de decisão da direcção, aceite na formação da lista) são alguns factos referidos ao «Avante!» por Alexandrino Saldanha.
João Lopes acrescenta, como outros motivos de «descontentamento e frustração» dos bancários para com o sindicato, o silêncio da direcção perante a avultada fuga dos bancos às obrigações fiscais, permitida pelo mesmo governo que admite o abuso o trabalho precário e políticas remuneratórias arbitrárias.
«O tempo veio demonstrar que os socialistas que nos acompanharam não estavam interessados em concretizar o compromisso assumido», afirma-se no manifesto da lista unitária. Contrariando o que diziam nas eleições de 1997, os então dissidentes do PS «demitiram-se dos enunciados objectivos, deixando-se ir absorvendo pelo namoro da tendência sindical socialista», e «negaram a continuação de um entendimento com as listas unitárias», que deveria ser «baseado numa nova e eficaz prática sindical e numa equilibrada composição da lista candidata».
Meses antes de formalizarem a ruptura, já os socialistas do SBSI estavam em conversações com a tendência social-democrata, procurando um entendimento para as eleições de Abril próximo, à margem da corrente unitária.

 

Salgalhada?


Assim foi caracterizada, pelos bancários comunistas que entrevistámos, a lista que tem como primeiro nome o actual presidente do SBSI. E explicaram porquê: Delmiro Correia surge à frente de nomes conotados com o PS, com o PSD e até com o MRPP. No entanto, verificam-se divergências dentro da tendência socialista (há mesmo um sindicalista do PS que preferiu integrar a lista unitária); dentro da tendência social-democrata, a aliança também não é pacífica, pois choca com estratégias de demarcação da UGT; quanto ao MRPP, ficou representado por dois nomes que, oportunamente, se fizeram independentes há poucos meses.
Entregar a direcção do sindicato a uma «equipa» deste calibre seria extremamente perigoso e certamente prejudicial para os bancários, sobretudo no actual momento que o sector atravessa. É sintomático que o ainda presidente do SBSI, questionado a pronunciar-se sobre os efeitos da fusão dos grupos BCP e Mello não se tenha mostrado preocupado... como se não tivesse ouvido falar nas centenas de trabalhadores ameaçados com a perda de emprego.


Unitários!


A lista unitária apresenta-se aos bancários do Sul e Ilhas «de mãos limpas face ao poder político e aos banqueiros». No seu programa eleitoral, refere que «não temos a mesma cor do Governo, não vamos ser cúmplices da sua política contra os trabalhadores e de complacência com a violação das normas legais nos locais de trabalho», «queremos a despartidarização do sindicato e estamos unidos, sem acordos de cúpulas, pelos mesmos objectivos sindicais». E afirma a confiança em que, «com os bancários, vamos assumir os destinos do SBSI, correspondendo à influência e crescente prestígio que a corrente sindical unitária tem no sector, onde é, destacadamente, a primeira força».
Os unitários dão à concentração bancária e ao combate contra as suas consequências negativas um lugar de destaque, entre os compromissos que assumem perante os trabalhadores. Na contratação colectiva, defendem a institucionalização do 15.º mês, incluindo para os reformados, e a valorização das carreiras e dos salários-base. Assumindo com orgulho o bom trabalho realizado nos SAMS, propõem o aumento das comparticipações em análises e medicamentos, admitindo chegar aos cem por cento.
A inclusão de jovens em lugares destacados na lista completa a preocupação expressa no programa: lutar para que os primeiros anos de trabalho na banca deixem de ser marcados pela precariedade, por baixas retribuições mínimas e por discriminações inaceitáveis (muitos dos jovens bancários não são abrangidos pelo acordo colectivo de trabalho do sector), que ainda atingem também muitas mulheres.
Para os membros da lista unitária – onde é tão assumido o peso determinante dos comunistas, como o empenho em respeitar os princípios sindicais da independência, da democracia, da participação de massas, da postura reivindicativa e da firme defesa dos trabalhadores – «os objectivos que nos propomos são justos, credíveis e têm uma diminuta relevância nos sempre crescentes e butais resultados da banca».
Quanto aos resultados que esperam a 14 de Abril, Fátima Amaral afirma que «temos condições para ganhar a direcção», confirmando a forte influência unitária noutras estruturas do sindicato. Depois, «vamos bater-nos por envolver os bancários na luta pelos seus interesses e direitos, não vamos batalhar sozinhos a partir da Rua de São José».


«Avante!» Nº 1366 - 3.Fevereiro.2000